Se hoje nos for dada a possibilidade de escolher uma mão-cheia de palavras, mas só uma, quais escolheríamos?

Educação. Porque é muito mais do que ter e poder mandar os filhos para a escola, instituto ou universidade. Mas é o único meio de garantir que se possa vir ter uma sociedade mais justa e esclarecida. Dando a todos oportunidades, senão iguais (suprema ilusão), pelo menos mais equilibradas. E porque é o meio privilegiado de se poder alterar a visão dos que irão construir o futuro, mostrando-lhes como é preciso mudarmos padrões de comportamento, respeitando o outro e a natureza, percebendo que o mundo do passado já não é, e que a velocidade que a tecnologia tem imposto nas ferramentas para o transformar exige dos seres humanos uma nova atitude. Menos egoísta. Mais responsável. Mais global.

Pandemia. Porque é a realidade na qual fomos submersos. Apesar de, no nosso país, não poder ter o significado restrito que assume noutras latitudes. Pois pandemia, em Angola, é saúde. Ou falta dela. A vacina que mais deveria merecer a nossa atenção talvez fosse a que possa prevenir o paludismo que tanto mata, ano após ano. O Estado de Emergência e Calamidade a decretar, talvez fosse o que permita combater efectivamente as miseráveis condições em que vive uma parte dos nossos compatriotas, para que eles não morram tuberculosos, os seus filhos com doenças diarreicas, e as suas mulheres (que deveriam ter acesso a uma efectiva saúde reprodutiva) no parto.

Pobreza. Porque uma sociedade não pode ser sã, quando uma parte significativa dos seus cidadãos não tem acesso a condições de vida que lhe permitam viver sem ser na indigência, muitos no limiar da sobrevivência. Algo está muito mal quando a caridade aparece como o recurso para salvar comunidades. Para retirar cidadãos dos contentores do lixo, ou da busca de raízes para mitigar a fome. Ou correndo riscos que os levam a construir em zonas proibidas, onde a água da chuva lhes arrasta os parcos haveres, e até, por vezes, a própria vida.

Corrupção. Porque deveria ser muito mais do que uma caça às bruxas. Uma arma política de arremesso. Deveria ser um permanente alerta para a necessidade de agirmos como cidadãos responsáveis. Com a noção de que fazemos parte do mesmo corpo, seja o país, o planeta ou o universo. A apropriação do que é de todos para benefício próprio está errado. Por meios fraudulentos ou não.

Justiça. Porque não basta que sejamos todos iguais perante a lei. Ainda que isso seja condição primeira. É preciso que a justiça nos irmane num futuro onde todos possamos conviver com um mínimo de desigualdades. Mas para isso, o tijolo de que nos valemos para a construção do edifício social não pode ser o que as promove.

As palavras podem ser instrumentos de luta. Se ao desencadear uma infinidade de imagens dentro de nós, nos levarem a agir.