Nesta fase, a acção deveria ser a de ajudar o eleitor a identificar as principais linhas de força dos Programas de Governo dos Partidos, visando um voto de consciência, responsável e susceptível de gerar desenvolvimento. A comunicação política, ou seja, a interacção entre os actores políticos e os cidadãos (eleitores), é essencial na tomada de decisão de ambos. Os discursos de diabolização não ajudam a criar harmonia social e afastam os cidadãos da vida política. O que está, realmente, difícil é adoptar-se uma estratégia de comunicação e coordenação entre as estruturas. A comunicação que pode ser um elemento diferenciador e capaz de gerar resultados acaba por ser, nesta altura, uma grande barreira ao desenvolvimento/crescimento do MPLA. Daí a importância estratégica da comunicação como arma política. A estrutura de comunicação, além de ser grande, complexa e burocrática tem muitas interferências.

O partido define a estratégia de governação e acaba por ter grande influência no Executivo, e na prática dificilmente se chega ao Executivo sem passar ou ter o aval do partido. O Presidente da República é, também, o presidente do MPLA (partido que governa), sendo que, em termos de estratégias de comunicação, existem fronteiras muito ténues e delicadas entre por onde começam e terminam os limites do partido, onde vão os do Ministério da Comunicação e as do Palácio da Cidade Alta. É possível separar a estratégia de comunicação do Executivo da estratégia de comunicação do MPLA? Como funcionaria? A forma como o Executivo está a comunicar em termos de Media Management (incide na relação entre o Executivo e os órgãos, as estratégias usadas para que a imagem do Governo seja a melhor possível, maximizando a sua visibilidade ) e News Management (a forma como o Executivo gere a informação ao seu dispor e aquela que circula pelos media) é um dos grandes desafios da actualidade.

A comunicação política mudou nos últimos tempos e o público também. Hoje existe um processo muito profissionalizado e especializado de comunicação estratégica e com a intervenção de diferentes e dinâmicos actores com capacidade para influenciar todo o processo. Os actores políticos têm de se reinventar, actualizar e profissionalizar-se cada vez mais na forma de comunicar, porque os novos tempos assim o exigem. A estratégia do controlo dos órgãos de comunicação social, da excessiva interferência nas suas linhas editoriais, da criação de "grupos de estratégia", de fazer dos órgãos de comunicação social espaços onde se desenrola, onde desfila o poder e não fazer do Jornalismo um poder em si tem efeitos desastrosos em termos de credibilidade e imagem no médio-prazo.

A forma como se utiliza a comunicação será decisiva para a legitimação da acção política. A visita de João Lourenço ao Cunene pode ser uma oportunidade para se começar a tratar da separação/diferenciação da acção do Presidente da República e do presidente do MPLA. João Lourenço é, por inerência de funções, um "sujeito com muitas qualidades", sendo que, muitas vezes, está coabitação cria distorção no seu discurso e confunde o público, e os resultados nem sempre são os desejados. Não pode entrar numa conferência de imprensa como Chefe de Estado e terminar como presidente do MPLA, ir ao Cunene como Chefe de Estado, tornar-se presidente do MPLA e depois voltar a ser Chefe de Estado. É que, mesmo quando discursa como líder do seu partido, não se pode esquecer de que tem relevantes funções de Estado e que o estadista está sempre aí presente.
O improviso nem sempre é uma boa estratégia para os grandes discursos, e quem governa, quem lidera deve elevar o discurso, deve sempre nivelar por cima e fazer que os seus adversários sigam o exemplo.

O discurso muito focado no ódio partidário e na diabolização dos adversários não ajuda a elevar o debate político. É preciso deixar esta fixação (tida por alguns como obsessão) pelos adversários internos e externos e focar-se na população, nos grandes problemas e nos desafios. João Lourenço começa este mandato como o exímio xadrezista e termina-o como o imponente pugilista. As coisas não estão fáceis, é um facto, mas sempre podem melhorar se for aprimorada a estratégia política e a actuação comunicacional. Está difícil, camaradas, mas podem melhorar.