Contra todas as sondagens, que previram um empate técnico entre o PS e o PSD, o PS acabou por ter a segunda maioria absoluta da sua história.
A participação eleitoral foi significativa, diminuindo a abstenção, o que deve ser sublinhado considerando as medidas restritivas de mobilidade da pandemia.
Para isso contribuíram os debates na comunicação social durante a campanha eleitoral, particularmente nas televisões, com grandes scores de audiências.
Em resultado do sufrágio há a registar que um dos partidos fundadores da democracia, o CDS, que nas primeiras eleições legislativas realizadas em 1976 teve 42 deputados, deixou de ter representação parlamentar.
Deixou também de a ter o partido ecologista "Os Verdes", coligado com o PCP na CDU, coligação esta que de 12 deputados passou para metade, ou seja, 6.
Por seu lado o BE perdeu quase 3/4 dos deputados e dos 19 anteriormente eleitos passou para 5, bem como o PAN (Partido dos Animais e da Natureza) que de 4 passou para 1.
Quanto ao PSD, apesar de ter subido mais de cem mil votos em relação às anteriores eleições legislativas e continuar a ser o partido da oposição mais votado, o seu líder, Rui Rio, declarou no próprio dia em que conheceu os resultados ir apresentar a demissão aos órgãos do partido, como sucedeu.
Aguarda-se, por isso, a eleição no PSD de um novo líder.
Este tsunami politico, porque não esperado, deu ainda lugar a que o partido Chega, populista de extrema direita, passasse a ser a terceira força politica com 12 deputados, a Iniciativa Liberal a ter oito e o partido Livre, que na legislatura anterior havia eleito a deputada Joacine Katar Moreira, elegeu agora o líder do partido, Rui Tavares.
O novo parlamento tomará posse no próximo dia 23 de fevereiro, seguindo-se a constituição do novo governo, muito menor que o anterior, como declarou António Costa.
Entretanto, o Primeiro-ministro reuniu-se com instituições representativas da sociedade civil e com os partidos políticos, excepto com o Chega.
Os resultados das eleições devem-se naturalmente a António Costa, que viu ratificada pelos eleitores a gestão dos seis anos de governo, ao voto útil pela condenação que os eleitores fizeram da postura da CDU e do BE ao votarem contra o orçamento, à boa gestão da pandemia, às incertezas em o PSD poder vir a aliar-se ao Chega e às duvidas que os eleitores mais velhos tiveram quanto à manutenção dos direitos alcançados, nomeadamente nas pensões e reformas.
António Costa vai tomar posse num período de grande incerteza à escala global, num mundo interdependente que iniciará um novo ciclo, com uma composição parlamentar muito diferente da que existia.
Conta para o exercício do mandato dos próximos quatro anos, de avultadas verbas resultantes de apoios da U.E. e já reiterou que, apesar da maioria absoluta, governará em diálogo com os demais partidos.
É uma declaração sensata e acertada.
O Presidente da República, que no primeiro mandato procurou marcar o seu magistério por uma política de distensão, desanuviando a crispação na sociedade, terá seguramente, no que lhe resta do mandato actual, de ter maior intervenção politica.
A situação alterou-se muitíssimo.
Portugal tem agora uma oportunidade, face à estabilidade governativa criada e ao facto de se esperar do governo que não falhe na aposta do futuro, que se recrie um maior optimismo e esperança.
No que respeita aos países de língua oficial portuguesa e a Angola em particular, que receberá brevemente a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo dos países da CPLP e que terá em agosto eleições presidenciais e legislativas, não se duvida que os laços entre os dois países irmãos serão reforçados.
É isso que impõe o futuro, neste mundo global, em que os nossos povos falam a quarta língua mais falada do mundo, a primeira do atlântico Sul e a quinta utilizada nas redes sociais, realidades estas que não são questões menores, tanto mais que a língua é um poderoso instrumento económico.
As recentes eleições em Portugal foram - há que reconhecê-lo - um exemplo de forte participação cívica, com natural aceitação dos resultados por todos os partidos concorrentes.
Questões de natureza exclusivamente técnica na contagem dos votos dos emigrantes para os círculos eleitorais da Europa e fora dela, que elegem cada um dois deputados, conduziram a que vários partidos suscitassem ao Tribunal Constitucional uma interpretação sobre a legislação que regulamenta a eleição de deputados para esses círculos.
A decisão do Tribunal Constitucional não altera os resultados finais nas percentagens obtidas pelos partidos.

Por isso, a inequívoca transparência do processo eleitoral em Portugal foi evidente, tal como havia ocorrido nas últimas eleições para o cargo de Presidente da República de Cabo Verde, país de língua oficial portuguesa, pelo que, ambos os casos são exemplo.

*(Secretário-geral da UCCLA)