Na história recente de Angola, por exemplo, existem diversos "elefantes brancos", como os estádios de futebol, pavilhões construídos para as Taças de África e Campeonato do Mundo em Hóquei em Patins (que Angola organizou), viadutos e estradas que não auxiliam no fluxo de trânsito, hospitais e outros investimentos públicos que foram construídos, equipados, mas que funcionam muito aquém da sua capacidade instalada, sem falar das muitas infra-estruturas e equipamentos que pura e simplesmente foram abandonados, sendo alguns até antes de serem terminados.
Normalmente, estes investimentos são bastante caros e alguns chegam a ser de utilidade nula ou reduzida. Como contribuinte, eu gostaria de que esse não fosse o caso do novo Aeroporto de Luanda!
Considerado por uns uma obra valiosa, por ser um importante ponto de conexão entre os diferentes modos de transporte, e uma infra-estrutura valiosa para o desenvolvimento económico que se pretende alcançar a breve trecho.
Considerado por outros mais uma daquelas infra-estruturas que custaram muito dinheiro, mas que não terá a utilidade ou os benefícios económicos que se está a atribuir-lhe, o Aeroporto Doutor Agostinho Neto tem vindo a ocupar um grande espaço no debate entre nós.
Para os mais entusiastas deste projecto, um aeroporto desta dimensão vai tornar Luanda numa importante placa giratória da nossa região, ao ponto de poder competir com outras grandes cidades que possuem infra-estruturas do mesmo calibre.
Para os menos entusiastas, ele não passa de mais uma daquelas infra-estruturas que custaram muito dinheiro, sem que, contudo, se possam retirar dela benefícios proporcionais a seu custo, daí que há quem use a expressão "elefante branco", por suspeitar vir a tratar-se de mais um dos muitos projectos que vimos surgirem e desaparecerem do nada.
O entusiasmo justifica-se, em parte, porque, em outras paragens aeroportos com esta envergadura, são um importante impulso para as economias locais e fazem parte dos planos de desenvolvimento regional ou nacionais.
Em Angola, o cepticismo também tem a sua razão de ser, porque nos acostumamos a ver surgirem do nada projectos de grande envergadura, que não possuem qualquer serventia a médio e longo prazos, mas que não podem ser dispensados e, por isso, devem ser mantidos a todo o custo, devido aos recursos neles empregues.
Para mim, tão compreensível como o entusiasmo daqueles que acreditam que este aeroporto vai assumir um papel importante no desenvolvimento económico do País, é o cepticismo de algumas pessoas que consideram irrealistas as projecções que se fazem em relação aos benefícios económicos desta mega infra-estrutura.
O que me preocupa em tudo isto é o facto de não termos uma cultura de escutar e analisar (diferente de ouvir para contestar!) os argumentos de uns e de outros, pois é bem conhecida a forma como muitos de nós lidamos com quem pensa de modo diferente.
Porque, independentemente dos argumentos em favor ou contra, eu gostaria de perceber se, com o novo aeroporto, estão, de facto, criadas as condições para se impulsionarem os investimentos que induzirão o desenvolvimento económico e social do País, província e dos municípios que circundam este grande complexo aeroportuário, como se propala.
Em meu entender, a criação destas condições não se faz apenas com acções de propaganda, como temos vindo a assistir nestes dias que antecedem a sua inauguração. Elas dependem de uma mudança de visão por parte do Estado angolano, proprietário e gestor desse e outros aeroportos no País, muitos deles inoperantes ou com resultados aquém do propalado, como foi o caso dos aeroportos de Ndalatando, Kuito Kuanavale e Luau, sem falar do Aeroporto da Catumbela, que foi equipado e preparado para servir como aeroporto internacional, mas, até hoje, só funciona como aeroporto doméstico, sem que tenhamos acesso a qualquer informação oficial em relação ao que realmente se passou.
Em meu entender, não podemos falar do novo aeroporto olhando exclusivamente para o edifício ou as infra-estruturas de serviço que ele comporta, é necessário que se pense no novo aeroporto como um equipamento que serve para aumentar a produtividade das empresas, gerar empregos estáveis e de longo-prazo, conectar as redes de transportes, valorizar os bairros que estão na sua periferia, recuperando as suas condições infra-estruturais e oferecendo oportunidades de negócio decente. Será que tudo isso vai acontecer? Há algum plano para tal que ainda não sabemos? Ou se espera que tudo isso venha a ocorrer de modo automático?
Estando, a poucos dias da sua inauguração, devo confessar que dois sentimentos contraditórios me assolam. Por um lado, tenho vontade de ser optimista, mas também quando reflicto naquilo que não me é dito ou me é informado em forma de propaganda, um certo cepticismo me assalta.
Em resumo, eu gostaria de ver este novo aeroporto transformar a realidade económica de Luanda e do País, em geral, sentir que o mesmo está integrado nos planos de desenvolvimento económico dos municípios mais próximos e que a sua imponente infra-estruturas seja adaptada às condições dos seus diferentes usurários e geridas de maneira adequada.