Vem, a este propósito, o despropósito de inúmeras campanhas eleitorais que são tristemente comparadas à venda de um artigo, como se a Pátria fosse um produto em licitação. Não me ocorre outra palavra que não seja pena ao ver tanta gente desprovida de sentido, mesmo falando de sentido político, onde a maioria se parece, sem qualquer dúvida, com os vendilhões do templo, vendedores de banha da cobra, mentirosos profissionalizados e sem vergonha na cara. Por causa disso, a abstenção cresce de forma preocupante. Por causa da falta de sentido da governação de muitos políticos, a fraude eleitoral, mais ou menos refinada, mais técnica ou mais rasca, tem sido notícia nalguns países, pois, de outra forma, não conseguiriam as vitórias retumbantes, quando a maioria do seu povo vive abaixo de cão e nenhuma política de desenvolvimento, que garantisse o seu bem-estar e a felicidade da sua família, foi feita com honestidade.
O valor da Pátria, de qualquer Pátria, jamais foi entendido por políticos. E o resultado de muitos países prova esse facto, sobretudo dos países em desenvolvimento. Guerras permanentes, economias ao serviço das elites, uma educação que assenta na propaganda da manutenção de governos medíocres e a incapacidade de desenvolverem pensamentos estratégicos que olhem para as gerações futuras e não para cada campanha eleitoral. O Valor da Pátria, de qualquer Pátria, só pode ser entendido por líderes que são capazes de o interiorizar e com habilidade inata, conseguem mobilizar os outros para o sucesso dos objectivos.
Liderar não é chefiar. Qualquer um pode ser chefe, mas nem todos conseguem ser líderes. Liderar é ouvir, absorver as opiniões, as atitudes que acrescentem valor ao engrandecimento dos países. Essa é uma das características dos humildes. Os chefes raramente são humildes. Os chefes são enciclopédicos, prepotentes, vaidosos, sem inteligência emocional, centralizam o poder e nada funciona sem a sua bênção, exigindo obediência mesmo quando os outros lhes mostram que estão errados. Os capatazes dos chefes são seres menores, servis, ingratos e sem ética. Os chefes nunca assumem a responsabilidade pelos erros que cometem. Não são capazes de construir relações fortes com os outros porque são pessoas desconfiadas. São imprevisíveis na gestão e na tomada de decisões, o que agiganta o fracasso. São temidos pelos seus colaboradores que receiam perder as regalias da proximidade do poder, mas normalmente não são respeitados e prova disso é como estes chefes são tratados quando perdem o poder. Jamais serão capazes de ser inspiradores, de fazer nascer ideias assentes na vontade de construir a felicidade colectiva.
A diferença entre o sucesso e o fracasso de uma nação está entre ter um líder ou ter um chefe. Até do ponto de vista bíblico, estas diferenças foram acauteladas, sendo a "moral e a ética" os valores que devem guiar o líder. Um bom líder, de acordo com estas premissas, deve ser "um bom exemplo", deve liderar para inspirar outros e para o garantir o progresso e o respeito mútuo, permitindo que "todos contribuam para o bem comum".
Em África, há um provérbio sábio e antigo que me tem servido de guia. Este provérbio defende que "para educar uma criança, é necessária uma aldeia inteira". E esta ideia, que devia ser considerada Património da Humanidade, não saiu da cabeça de um chefe político. Foi preciso amor pelo próximo para perceber o valor dos outros. Foi necessária a humildade para se colocar em pé de igualdade com o todo. Foi imperativa a existência de um sonho, de uma visão para o futuro. Foi imprescindível o comprometimento, colocando-se no lugar do outro. Foi provado o foco ao olhar para longe, para o caminho, para a chegada e para os resultados que iriam ser produzidos. Uma ideia com esta simplicidade, mas que, ao mesmo tempo, responde a todas as perguntas só pode sair do peito de um líder que pensa primeiro com o coração. A maioria dos políticos que viram chefes não tem esta capacidade. Eles só sabem fazer programas que escondem negócios ou fortalecem o seu poder, sem sequer lhes interessar se vão ser úteis, se trazem a felicidade colectiva ou constroem um país para todos. Um programa medíocre assente num poderoso marketing é tudo quanto aspiram para se manterem no poder. Falta-lhes talento, ética, honra, competência, habilidade, honestidade e visão.
As Universidades de Ontário e de Berkeley fizeram um estudo sobre como o poder exercido durante muito tempo pode provocar o Síndrome de Hubris. Essa doença, que também é chamada "síndrome da presunção", tem uma vasta lista de sintomas, em que se destacam a "perda de contacto com a realidade, excesso de autoconfiança e desprezo pelos outros". De acordo com os investigadores, "as posições de poder provocam danos cerebrais que se traduzem na perda da capacidade de ler as emoções das outras pessoas e sentir empatia com elas". É também defendido que "sob a influência do poder, os indivíduos tornam-se mais impulsivos, menos conscientes dos riscos e menos capazes de ver as coisas sob o ponto de vista dos outros". Essa é, na verdade, uma real fotografia dos exemplos mundiais de chefes e partidos de longa duração, que, de forma mais doméstica, "angolanizo" como PODERITE, doença a que os líderes estão imunes.
O último líder em África foi Mandela. Um africano que se tornou universal, que inspirou religiões, culturas, em todos os continentes, milhões de crianças e adultos. Mandela pensou na Nação. Não pensou no poder.
O poder é efémero. A Nação é eterna. A primeira preocupação de Mandela foi unir a Nação. O resto virou resto até que isto fosse conseguido. Podia ter feito um segundo mandato, mas desceu da cadeira com a cabeça erguida e com o sentimento do dever cumprido apenas com um mandato. Mandela saiu de Robben Island com a ideia de que a sobrevivência da sua Nação dependia do exemplo que desse ao mundo. E, ao contrário do que muitos esperavam, o seu exemplo foi de Glória, foi Enorme como só um líder pode conseguir. Uma palavra de conforto, de perdão, de amor permitiu consolidar os alicerces dos anos desavindos. Infelizmente após a sua morte os políticos que viraram chefes foram incapazes de promover qualquer grandeza. Mas o exemplo de Mandela atravessou fronteiras e ficará guardado na história como uma inspiração para as futuras gerações e como apenas um homem, como alguns homens que vimos ao longo dos séculos, foi capaz de consertar o coração de uma Nação.