Esta última é até a questão de capa desta edição do Novo Jornal. What"s the deal ? ( Qual é a jogada?) é a pergunta que não quer calar, e que se pretende saber qual é a estratégia de alinhamento de João Lourenço aos EUA. Parece ser um segredo bem guardado do nosso PR, porque mesmo ao nível do seu Executivo, do seu MPLA e de diferentes estruturas castrenses pouco ou nada se sabe. Mas, João Lourenço não é José Eduardo e, logo que assumiu o poder, deu mostras de não ficar " amarrado" aos parceiros tradicionais, de ter de seguir " ad eternun" certas ideológicas e ficar preso à história.

A sua estratégia é de se abrir e fazer negócio com todos aqueles que com Angola pretendem fazer negócio. Diferente de Donald Trump, que nunca deu cavaco ou se interessou por África, Joe Biden tem uma visão diferente e desde os tempos de senador, ainda na década de 70, que defendeu uma aproximação à Angola e o estabelecimento de contactos com o MPLA, apesar das ligações dos EUA à UNITA de Jonas Savimbi.

No dia 04 de Fevereiro de 1976 (por sinal um feriado em Angola), o então senador Joe Biden fez a seguinte e interessante declaração no Subcomité dos Estados Unidos para África : " Só porque os soviéticos tiveram uma considerável influência sobre o MPLA, não é razão para termos de passar pela União Soviética. Parece-me que, pelo menos, temos de iniciar tentativas de dialogar directamente com o MPLA. Eu espero que possamos fazer isso. Não estou, de jeito nenhum, confiante que isso ocorra, mas parece-me que faria sentido se assim procedêssemos". Com o então senador Biden era algo platónico e, que agora como Presidente dos EUA consumou na era João Lourenço em Angola. Corredor do Lobito, energias renováveis são áreas em que os EUA estão a investir fortemente, além dos petróleos, é claro.

Os EUA têm andado atentos e preocupados com a forte penetração e influência da China em Africa. A Administração Biden entende que é necessário travar esta tendência e influência. Sem esquecer a ligação histórica e a cooperação política e militar da Rússia com Angola. Os americanos querem quebrar estes laços e tendências. O problema é que os americanos exigem estar numa relação em que eles dominam, em que são os " machos dominantes" e não aceitam partilhar a sua nova " amada" com outros. São pragmáticos e não escondem isso, não admitem estar no " game" com outros " players" que lhes façam frente ou são inconvenientes.

Certamente, terão passado a João Lourenço a seguinte mensagem: nós entramos e eles (russos e chineses) saem. Os EUA são um bom aliado de João Lourenço na sua frente externa, na estratégia para se promover no plano externo, mas também afirmar internamente. O problema é que os americanos são uns tipos muito porreiros, mas não largam o dinheiro na velocidade a que Luanda está habituada com os chineses. É que esta " Paixão Americana" vai certamente ter um preço. China e a Rússia não vão ficar a ver- se perder espaço e terreno e não agir. Esta pressão e " Paixão Americana" já fez com que os chineses ficassem de fora do Corredor do Lobito e a Rússia visse afectados os seus interesses no sector diamantífero.

A China é o maior credor de Angola e já " enterrou" aqui mais de 40 mil milhões de dólares e, certamente, Angola vai pagar caro este serviço da dívida. Há meses que Pequim não indica novo embaixador para Luanda, e isto pode ser um sinal de desagrado. Certamente, eles vão apertar e ser mais duros com o pagamento da dívida como forma de retaliar o terreno que estão a perder, e mostrar os seus ciúmes por neste namorico entre Washington e Luanda.

Os russos não ficarão atrás e vão agir também, embora não manifestem publicamente, mas sabe-se que Putin não anda de "amores " com João e não lhe agrada muito a sua nova paixão. Angola não tem de ficar permanentemente " amarrada" aos velhos parceiros, isto estamos de acordo. Mas, também não se pode soltar de uns para ir " se amarrar" a outros, onde possivelmente será mais difícil se " desamarrar ". Mas, é certo que uma etapa se cumpre na agenda pessoal de João Lourenço e também de Joe Biden. As peças movimentam-se no tabuleiro e do nosso lado só o " eximio" xadrezista sabe qual é a jogada.

Qual é a jogada, Mr. Lourenço?