É, sem dúvida, um tema que está a ganhar corpo em todo o mundo, mas que tem pouco ou quase nenhum tempo de antena em Angola. Não se trata apenas de uma questão de gostos ou de discutir se deverá ou não haver um terceiro sinal para as casas de banho, o que implicaria muitas mudanças na arquitectura mundial. De forma simplista, passa pela adopção de um pronome diferente daquele que habitualmente usamos para nos referirmos a uma pessoa como sendo ele ou ela. O não binário admite uma linguagem própria onde o "elu" é usado para quem tenha um género mais livre, quiçá menos definido.

Na linguagem "elu" sempre que o pronome vincar o género masculino ou feminino (o que acontece com frequência na língua portuguesa), as letras "a" ou "o" deverão ser substituídas por "e", preservando assim a não-binariedade do género. Os professores deverão usar a palavra "alunes" e na aviação teremos os "passageires". Os médicos estão safos, pois "doentes" ou "pacientes" não define género mas já os treinadores deverão adoptar a palavra "jogadories". Se com a confusão do acordo ortográfico já está difícil...

Todavia, será importante considerar que não é apenas uma questão de linguagem, embora esta seja também importante. É uma questão de afirmação de género alargando as fronteiras do movimento LGBTQI+. É criar espaços de conforto para os não binários e diminuir o bullying e pressão a que essas "minorias" estão sujeitas, afectando-as psicologicamente e diminuindo a sua esperança de vida. É um exercício de tolerância e reconhecimento da diferença para além daquilo que estamos habituados e que fica definido com o sexo no momento do nascimento.

Esta noção de alargamento da inclusão de género terá os seus desafios pelo que convém projectar o futuro no sector de ensino que se encarrega de transportar muitas bandeiras como a da saúde, do ambiente, da sexualidade, da cidadania, etc. Se há uma comoção muito grande com o anúncio da paridade de dois géneros (masculino e feminino) na estrutura governativa para o pós-2022, como será o futuro daqui há dez anos? Que percentagens serão propostas para os não binários?

Com o ganhar de espaço da não-binariedade e da cisnormatividade, permitindo ao género masculino e feminino coexistir com outras identidades de género, não será impensável alguém sonhar com querer que a sua primeira filha seja do sexo feminino. Depois quando nascer, se tiver mesmo dúvidas, pode gritar aos quatro cantos que este "menine é minhe filhe". E como estamos em constante mudança, por altura do matrimónio, a filha que afinal é filho pode tornar-se uma outra letra do abecedário. Quem avisa amigo é!