Pode a capital angolana, que esta segunda-feira, 24, e amanhã, acolhe a 7ª Cimeira União Africana/União Europeia, ser essa ponte que falta para que africanos e europeus se aproximem numa altura de incandescentes disputas geoestratégicas?

A resposta será dada nas próximas 48 horas, mas se as declarações que já se conhecem dos líderes dos dois lados do estreito "Estreito de Gibraltar", aquela pequena distância, que se atravessa com o olhar, é como se já estivesse anulada por uma ligação física.

Para já, os 42 "operários" que chegaram a Luanda, 28 Chefes de Estado e de Governo africanos e 14 europeus, têm 48 horas para dizer o que querem para o futuro, porque o passado é bem conhecido de todos e pode-se resumir em poucas palavras: falta fazer quase tudo.

Esse passado são cinco séculos de colonialismo, pouco mais de meio século de "esperança" no pós-independências e um estreito de 14 kms onde "ainda" não existe uma ponte, mesmo que, por exemplo, na Europa já existam um punhado deste tipo de infra-estruturas com mais que essa distância sobre pilares, e a tecnologia há muito que existe para tapar aquele "buraco" que não pode ser explicado apenas pelos custos, sendo uma metáfora invisível para o que desune África e a Europa Ocidental.

Resta perceber se o incandescente tema da guerra na Ucrânia, onde os líderes europeus têm claramente a sua atenção focada, deixará espaço mental e tempo para que Luanda não seja mais e apenas uma oportunidade perdida, feita de proclamações de intenções nunca concluídas.

Isto, porque a agenda oficial desta Cimeira foi já "furada" à última da hora com o anúncio da realização de um Conselho Europeu informal à margem dos trabalhos euro-africanos, com um único tema na agenda, a questão ucraniana e o plano de paz de 28 pontos que os norte-americanos entregaram ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para analisar e decidir até quinta-feira, 28, se o assina por baixo ou não.

O "não" é a resposta em cima da mesa de europeus e ucranianos, mas as negociações entre as partes, EUA-Rússia e EUA-Ucrânia, decorrem e até à conclusão do "deadline" norte-americano, muita água vai correr debaixo da ponte. Espera-se em Luanda que a ponte euro-africana aguente a pressão...

Costa e von Leyen querem "audácia" no relacionamento euro-africano

Mesmo antes de começar a Cimeira, nos bastidores e nos momentos que a antecedem, como é costume, os líderes proferem declarações de intenções, sendo que desta feita, os presidentes do Conselho Europeu, António Costa, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, usam uma expressão mais sonora.

Isto, porque ao anteciparem a Cimeira UA/UE, Costa e Von Leyen apontam as antenas para o futuro ao afirmarem em conjunto que é o momento de construir "uma parceria audaz e orientada para o futuro entre os dois blocos da União Europeia e da União Africana.

No dia em que líderes da UE e da UA se reúnem na capital angolana, Costa e Von der Leyen defendem num artigo de opinião publicado esta segunda-feira, 24, que a parceria entre os dois blocos "tem como objectivo moldar um mundo mais justo, mais 'verde' e mais seguro, baseado em valores partilhados e no respeito mútuo", sendo agora "momento para uma parceria audaz e orientada para o futuro".

"Ao olharmos para os próximos 25 anos, a nossa mensagem a partir de Luanda é clara: África e Europa estão unidas na ambição, iguais na parceria e determinadas a libertar todo o potencial dos nossos povos, especialmente dos jovens", apontam neste artigo de opinião os dois líderes europeus onde adiantam que, "ao longo dos últimos 25 anos, a parceria UA/UE tornou-se mais profunda, mais ampla e mais estratégica".

Naturalmente que os dois blocos não estão em condições semelhantes para projectar esse futuro conjunto.

Os europeus têm a sua união ramificada em diversas direcções, bastando para isso pensar que ali existe uma moeda comum a quase todos os 27 Estados-membros e que a livre circulação de pessoas e bens é já uma realidade de décadas, o que está longe de acontecer entre os 54 membros da União Africana e uma posição comum muito mais difícil de alcançar.

Para já, como lembra a Lusa, um total de 42 chefes de Estado e de Governo, africanos e europeus, juntam-se ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, para participar na 7.ª Cimeira União Africana-União Europeia que tem como palco a capital angolana.

Segundo uma nota oficial, estão confirmados 28 chefes de Estado e de Governo e 18 representantes de países africanos, assim como 14 líderes europeus e 12 representantes de Estados-membros da União Europeia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o líder do Conselho Europeu, António Costa, juntam-se em Luanda ao Presidente de Angola, que detém a presidência rotativa da União Africana, na cimeira dos dois blocos.

O evento contará ainda com a presença do presidente do Banco Africano de Desenvolvimento e de organizações regionais africanas.

A organização destaca igualmente a cobertura de mais de 500 profissionais da comunicação social, neste evento.

Sob o lema "Promover a Paz e a Prosperidade através do Multilateralismo Eficaz", a cimeira pretende reforçar a parceria estratégica entre a União Africana e a União Europeia, promover um modelo de cooperação mais equilibrado, consolidar mecanismos de segurança regional, criar oportunidades para a juventude africana e aprofundar a cooperação no domínio das migrações.

Além da Conferência de Alto Nível, o programa desta 7.ª edição inclui também um Fórum Empresarial, um Fórum da Juventude e da Sociedade Civil e uma reunião de altos funcionários, num "palco de diálogo" que pretende produzir respostas concretas aos desafios europeus e africanos.