Todavia, Kiev e os seus aliados europeus já iniciaram o "contra-ataque" e o "mapa" de Donald Trump começa a perder nitidez e as cedências tanto a ucranianos como a europeus ocidentais começam a emergir nas páginas ecrãs dos media ocidentais.

Quando recebeu o já muito controverso documento com as condições para a assinatura de um acordo de paz, mesmo que Moscovo ainda não tenha dito que concorda com as condições, Volodymyr Zelensky ficou atónito e claramente sem capacidade de reacção.

Isto, porque esse documento, foi logo fonte de controvérsia tanto nos media ocidentais pró-ucranianos, onde está a ser referenciado como impossível de aceitar, como nos mais próximos de Moscovo, sendo aí visto como claramente para rejeitar no Kremlin.

Mesmo que inicialmente o Presidente Trump tenha garantido que era uma questão simples para Kiev: aceitar as condições naqueles 28 pontos (ver aqui) ou ficar sem o apoio norte-americano em armas, dinheiro e intelligentsia, em Washington começaram logo as manobras internas para baralhar e dar de novo.

Enquanto em Moscovo se aguarda em quase-silêncio, em Genebra, na Suíça, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, recebeu Andrii Yermak, chefe de gabinete do Presidente ucraniano, para aproximar posições e melhorar a posição de Kiev.

A primeira conclusão deste encontro na Suíça, que teve lugar no Domingo, 23, é que, afinal o plano entregue a Zelensky para dizer sim ou não sem alternativa, até quinta-feira, 27, já tem memso outra versão para apresentar aos russos com acrescentos de Kiev.

Para esta cedência de Marco Rubio a um documento que o seu Presidente apresentou como final e intransmissível, terão contribuído as lideranças europeias da NATO e da União Europeia que garantiram que não o aceitariam.

E em Luanda, onde decorre a Cimeira União Africana-União Europeia, com um Conselho Europeu informal, com os presentes e por vídeoconferência com os ausentes, essa posição deverá ser reforçada, tal como já tinha sucedido em Joanesburgo, na África do Sul, na Cimeira do G20, a voz quase sem falhas dos líderes europeus é um rotundo "não" ao plano de paz norte-americano.

Uma das razões, como sublinhou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, é que o plano foi desenhado entre americanos e russos sem a presença de ucranianos e dos seus aliados europeus.

E isso é "totalmente inaceitável" para a União Europeia e foi-o dito num tom de claro confronto com a Casa Branca por Kaja Kallas, que é responsável pela diplomacia do bloco dos 27 e que, por razões por explicar ainda, não está em Luanda como fora antecipado.

Alias, esta estratégia europeia não é nova e tem funcionado, porque sempre que os norte-americanos aparecem a pressionar Kiev para assinar um acordo, os líderes europeus aparecem pela porta das traseiras para desmantelar os esforços de Washington.

Desta feita, o sucesso parece que se repetiu, porque o próprio Presidente ucraniano veio dizer publicamente que está satisfeito porque a equipa de enviados de Donald Trump a Genebra "está a ouvir a posição ucraniana" e a agir em conformidade.

Para já, é muito cedo para perceber se este plano está totalmente condenado ou ainda tem caminho para fazer.

Até porque os sinais que chegam de Moscovo é que também a Rússia não gosta das propostas de Trump iniciais e está à espera da oportunidade para o demonstrar, o que será quando os emissários de Washington entregarem a versão "final" a Vladimir Putin.

Seja como for, há uma certeza subjacente a estas negociações em duas frentes, entre americanos e ucranianos, e americanos e russos, que não parece contemplar conversas com os países europeus e que foi antecipada pelo próprio preponente, Donald Trump: "Se ele (Zelensky) não aceitar, poderá sempre continuar a lutar".

Deixando em suspenso a ameaça de ter de o fazer, de continuar a lutar, sem as armas, o dinheiro e as informações estratégicas norte-americanas, o que seria igual a uma condenação acelerada face à impotência europeia e à superioridade russa no campo de batalha, como o reconhece o próprio CEMGFA ucraniano, general Oleksandr Sirsky.

Porém, segundo vários media, o próprio Trump já aceita rever o documento porque deverá receber Volodymyr Zelensky ainda esta semana, presumivelmente, antes de quinta-feira, 27, o último dia que deu a Kiev para responder, o que abre naturalmente a porta a todas as possibilidades, incluindo mudar o texto do plano...

Entretanto, do que se conhece do resultado do encontro em Genebra, saiu a garantia de Rubio e de Yearmak de elaborar uma nova versão para, segundo The Guardian, limpar os pontos pró-russos que mereceram mais críticas.

Mesmo que ainda não se conheça, americanos e ucranianos notam que no encontro elaboraram um "documento refinado" para trabalhar uma proposta final para ac abar com a guerra na Ucrânia com a Rússia.

Isto, depois de os países europeus, que devem voltar ao assunto esta segunda-feira, 24, em Luanda, no Conselho Europeu informal convocado pelo seu presidente, o português António Costa, terem feito saber aos "aliados" americanos que a sua proposta é "totalmente inaceitável" tendo já extirpado o documento de vários dos pontos mais simpáticos para Moscovo.

Todavia, no ar está outro "ponto" que pode gerar controvérsia, porque alguns media, se bem que nos mais alinhados com a Rússia, nomeadamente nas redes sociais, como nos múltiplos canais no YouTube, estão a sublinhar existir uma adstringência evidente entre Rubio e Trump na forma de lidar com este assunto.

Para já, parece ser Rubio a levar a melhor neste braço-de-ferro, porque Trump, considerando a sua reacção às primeiras críticas de Zelensky ao seu plano, quando disse que o Presidente ucraniano não mostra nenhuma gratidão, "gratidão zero" por parte de Zelensky para os esforços norte-americanos para acabar com a guerra.

É claro que os opositores a este plano aproveitaram com vigor as palavras estranhas de Marco Rubio que, mesmo sabendo-se que o plano foi elaborado pelo enviado de Trump para o conflito, Steve Witkoff, na sexta-feira, veio dizer que o documento tinha autoria exclusivamente russa, o que, pouco depois, corrigiu e esclareceu que apenas os EUA estão por detrás dos 28 pontos e as alíneas que este contém.

Além disso, enfurecidos por, mais uma vez, terem sido secundarizados pelos EUA, os países europeus, que não foram tidos nem achados, logo prometeram tudo fazer para abalroar os esforços de Washington para conduzir Kiev para a paz com Moscovo.

Para já, parece claramente que os europeus estão a levar a melhor, até porque têm em Marco Rubio um aliado de peso para fazer derrapar este "roadmap" para a paz na Ucrânia, porque, além de ser secretário de Estado, é o conselheiro para a Segurança do Presidente dos EUA.

Até quinta-feira, 27, muita água ainda correrá por debaixo da ponte que "separa" Kiev de Moscovo, mas uma coisa é certa: na frente de batalha, os ucranianos estão a perder territórios a uma velocidade que já não se via desde o início da invasão russa de Fevereiro de 2022.

O que quer dizer, segundo vários analistas que, se a Ucrânia não conseguir dar a volta por cima e expulsar as forças russas desses mesmos territórios, o que parece cada vez mais difícil de antecipar, seja qual for o acordo que vier a ter de assinar no futuro, será sempre mais doloroso que o que pode ser conseguido agora, com mais ou menos cedências de lado a lado.