No encontro realizado esta quinta-feira, o Presidente João Lourenço afirmou, em resposta a uma questão colocada pela jornalista da agência Lusa, que a UNITA está a formar uma coligação porque não está preparada para vencer sozinha.

"Já nas eleições de 92 diziam que o MPLA não tinha hipótese, pelo simples facto de, até àquela altura, ter sido partido único", afirmou, destacando a seguir não foi isso que sucedeu, nem nas eleições seguintes.

João Lourenço disse estar convicto de que também para as eleições de 2022 a oposição está a avaliar mal a situação, porque "continua a haver essa má avaliação do teatro das operações".

E notou que, no seu entender, a UNITA demonstra estar "pior que anos atrás" porque o "principal adversário" do seu partido está a chamar Frente Patriótica Unida (FPU), a plataforma criada entre a UNITA, o projecto político PRA JA Servir Angola, de Abel Chivukuvuku, e o Bloco Democrático, "para enfrentar o MPLA, isso só significa dizer que, se calhar, estão pior do que estavam uns anos atrás, nas eleições anteriores".

Ao que Adalberto Costa Júnior respondeu, marcando para o dia seguinte ao encontro em que João Lourenço proferiu estas declarações, uma "mensagem à Nação", transmitida em directo na página do líder da UNITA.

E, em resposta à bala enviada esta quinta-feira pelo presidente do partido dos 'camaradas' , o líder dos 'maninhos' atirou, dizendo que "o Mpla não está preparado para enfrentar a UNITA e também não está preparado para enfrentar a FPU, acusando o partido no poder de "violar as leis e usar como muletas as instituições publicas".

"Os órgãos públicos de comunicação social prestam serviços ilegais ao partido de regime; beneficiam da censura que os mesmos dirigem à UNITA e ao seu presidente; protegem o partido do regime ao recusarem o contraditório; os dirigentes do partido de regime , a começar pelas suas lideranças têm medo dos debates e fogem dos mesmos, desrespeitando o público", acrescentou.

Para o líder do maior partido da oposição, "o Mpla não está preparado para concorrer com lealdade e em igualdade de condições na campanha eleitoral e por isso esconde-se atrás das instituições e nega a democracia e a pluralidade".

E continuou, referindo-se especificamente ao encontro mantido com os jornalistas no Palácio Presidencial.

"Ontem a confusão das distintas instituições, foi total. A entrevista foi ao Presidente da República e o Presidente fala dos seus competidores na campanha; o Presidente que nos deveria representar a todos despe-se das suas vestes de mais alto magistrado da Nação e trata os líderes partidários e a juventude do seu país, sem respeito", afirmou, deixando uma série de perguntas: "O Presidente da República a falar da Frente Patriótica Unida, apelidada de um espaço fraco. A FPU é competidora do Presidente da República?"

Segundo ACJ, "o Presidente da República entrou na campanha eleitoral, arrastando as suas vestes de mais alto magistrado da Nação, pondo em causa a credibilidade das instituições, a separação de poderes, a estabilidade, afastando investidores porque onde falta o Direito falta a protecção dos interesses de quem quer que seja".

"Senhor Presidente da República, é hora de reparar estes atentados ao Direito e à Democracia. Senhor Presidente da República, deve separar os momentos em que fala e actua como Presidente da República, Presidente que deve ser de todos nós, e quando assume as vestes de presidente do seu partido político", acusou Adalberto Costa Júnior.

Diversificação da economia

De seguida, o também líder da Frente Patriótica Unida atirou-se à "bandeira" do Presidente da República, que na quinta-feira voltou a dizer que a diversificação da economia e a criação de um bom ambiente de negócios são os eixos da sua governação e não o combate à corrupção, sendo este uma exigência quando se pretende criar um bom ambiente de negócios no País.

Ao que Adalberto respondeu: "A diversificação da economia é uma utopia, o fracasso das iniciativas de fomento da produção local são clássicas desde o SEF até ao recentePrograma Angola Investe, que vigorou até 2018, tendo financiado 515 projectos no valor de 120 mil milhões de kwanzas, como programa de apoio ao investimento para mega-projectos, com a cedência de vantagens financeiras, cujos resultados catastróficos são até aos dias de hoje desconhecidos os seus relatórios qualitativos".

Sobre o PAI - Programa Angola Investe, ACJ disse que "acabou por degenerar no PRODESI, produto mal concebido de economia orientada".

"Mesmo objectivo (produção nacional capaz de absolver as necessidades de consumo e diminuir as importações de alguns produtos), mesmos instrumentos (financiamento de mega-projectos agro-industriais com recurso à banca)", declarou, perguntando: "Fala-se em 500 projectos financiados no valor de 743 mil milhões de kwanzas somente em 2021, onde estão localizados estes projectos, qual o seu nível de produtividade, quantos empregos?"

"A contratação pública representa cerca de 8 % do PIB e 20% do OGE, sendo o principal instrumento de financiamento da nova oligarquia criada pelo PR João Lourenço, seguido do acesso ao crédito internacional, seja com garantias soberanas ou com regras opacas com entidades como a Mitrelli e a Gemcorp, que vieram para substituir o CIF e a Odebrecht e por fim com o programa de privatizações onde se procede a transferência de activos estatais para a esfera privada, cujo processo de práticas concertadas fará com que ainda em 2022 se consiga oferecer a Sonangol a entidades estranhas, tal como foi o sofisma com que foram alienados o BCI, a gestão do Kero e a gestão do Entreposto Aduaneiro, que faz a gestão da reserva estratégica alimentar", disse igualmente o líder da UNITA, declarando que "a maioria dos empresários sentem-se traídos" pelo Governo, e perguntando: "Com tantos milhares de milhões gastos, como se explica agora a importação de produtos da cesta básica?"

Adalberto Costa Júnior lembrou que 2021 "foi um ano muito difícil, que agravou a situação do desemprego, da pobreza, agravou a situação da fome para uma elevada faixa das nossas comunidades".

"Há hoje, em múltiplas províncias, angolanos a morrerem a fome! É inadmissível e exige respostas de emergência do nosso Governo. E neste aspecto é grande a divergência entre as organizações especializadas da sociedade civil e as vozes do interior e da chefia do Governo", declarou, citando Nelson Mandela, primeiro Presidente negro da África do Sul e um dos mais maiores símbolos da luta contra o regime segregacionista do Apartheid: "Tal como a escravatura, a pobreza não é uma coisa natural. É fruto da acção do homem e pode ser superada e eliminada através das acções dos seres humanos".

Já a terminar a comunicação, Adalbertou deixou um desafio à liderança do MPLA: Debates entre os candidados que se apresentem às eleições gerais de 2022.

"Se estão mesmo prontos e não têm medo, abracem o jogo democrático", desafiou, reafirmando a sua disponibilidade.