Numa conferência de imprensa onde Adalberto Costa Júnior teceu duras acusações ao MPLA pela forma como criou um "golpe de teatro" no seio da CIVICOP (Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos), o papel dos serviços secretos angolanos foi o alvo das referências mais negativas.
A UNITA quer criar "outra" plataforma para o mesmo fim, escudada contra interferências externas e negativas, para que os angolanos tenham a coragem de abordar, com responsabilidade partilhada, o seu passivo "enquanto irmãos da mesma pátria".
"Tudo para que se possa partilhar visões condizentes à projecção de uma Angola capaz de criar condições políticas, económicas e sociais para assegurar o bem-estar material e espiritual dos cidadãos e o desenvolvimento do País", disse ainda o presidente do principal partido da oposição.
Numa forte crítica à televisão estatal, Costa Júnior lembrou o episódio que despoletou todo o mal estar que a UNITA tem demonstrado nos últimos dias e que promete ocupar o palco da disputa política nos próximos tempos, que foi a deslocação de uma equipa da TPA para filmar a abertura de supulturas na Jamba, alegadamente com ossadas de "vítimas" de violência interna no partido do "Galo Negro".
Segundo o presidente da UNITA, o povo angolano está, nos últimos 10 dias, confrontado com imagens divulgadas pela TPA, sobre buscas de sepulturas de angolanos perecidos nos conflitos políticos, em áreas outrora sob administração da UNITA, mas sem o conhecimento prévio das famílias e dos representantes desta formação política na CIVICOP, o que fere a metodologia de trabalho desta instituição, o espirito de reconciliação nacional que regem o seu funcionamento.
De acordo com o presidente da UNITA, a CIVICOP foi projectada pelo Executivo angolano como fórum de consolidação da paz e reconciliação nacional e não como arma de arremesso política.
"É nesta perspectiva que a UNITA rejeita a instrumentalidade que mina os propósitos da CIVICOP e condena o sequestro da TPA pelos serviços de inteligência do regime do MPLA", acusou, esperando que este órgão trabalhe com transparência e integridade moral.
A UNITA defende, "inequivocamente", que a CIVICOP retome o seu lugar neste processo, e que tenha apenas um coordenador, o ministro da Justiça e Direitos Humanos, frisando que as decisões devem ser tomadas em reuniões devidamente convocadas pelo órgão.
"O facto deste projecto de localização das ossadas dos dirigentes da UNITA não ter obedecido a um calendário apropriado, decorrente de reuniões preparatórias, de acordo com os métodos de trabalho aprovado pela CIVICOP, indica que a referida comissão foi sequestrada e está hoje ao serviço de um gabinete cujos objectivos não vão de encontro aos definidos na sua criação, de privilegiar a reconciliação, abraçar e perdoar", disse.
Para a UNITA, "regista-se um silêncio ensurdecedor na CIVICOP, vivendo-se um "golpe de teatro", onde o coordenador foi substituído pelo chefe dos Serviços de Inteligência, que usa, abusivamente, o nome da CIVICOP".
"Urge repor a legalidade, devolver ao ministro da Justiça e dos Direitos Humanos as suas responsabilidades de coordenar a CIVICOP", enfatizou.
"Não é ao que temos assistido. Quem mandou este desvio?, foi o Presidente da República?, está é uma iniciativa do chefe do SINSE?, Querem julgar os pais da Nação? Acham-se capazes de julgar Holden Roberto, Agostinho Neto e Jonas Savimbi, Querem transformar-se em juízes do processo histórico", questionou.
E, em nome de toda a verdade, de acordo Adalberto Costa Júnior questiona se o Governo pretende "exibir na TPA imagens das milhares de valas comuns espalhadas por todo o País, vítimas de fuzilamento públicos, nos arrepiantes paredões, assim como dos milhares de mortos do 27 de Maio de 1977, Sexta-feira Sangrenta de 1993, do genocídio político e tribalista pós-eleitoral de 1992, das mortes que continuaram a correr após a paz, como as do Monte Sumi, de Cafunfo, dos fuzilamentos públicos nas manifestações".
O Executivo angolano criou a CIVICOP encarregue do plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, que ocorreram em Angola, entre 11 de Novembro de 1975 e 04 de Abril de 2002, e dois anos depois pediu desculpas às famílias, em nome do Estado angolano, estando em curso o processo de identificação e exumação dos corpos que devem ser entregues às famílias para funerais condignos.
No âmbito do processo, foram já entregues às famílias as ossadas de dirigentes da UNITA mortos nos conflitos pós-eleitorais, em 1992, nomeadamente Salupeto Pena, Jeremias Chitunda, Mango Alicerces e Eliseu Chimbili.