O bispo de Ondjiva, Dom Pio Hipunhati, alertou, esta semana, para uma crise alimentar iminente na província do Cunene, devido à escassez de alimentos que se regista na maior parte dos municípios.
O prelado católico informou ao NJ que as reservas alimentares existentes nalgumas regiões estão a escassear-se todos os dias.
"Centenas de pessoas estão a passar mal, sobretudo naquelas regiões onde não ocorreram chuvas, como as localidades do Curoca e a fronteira com a República da Namíbia", disse Hipunhati.
O bispo prevê uma situação crítica caso não houver intervenção urgente de forma antecipada, para evitar as situações similares às dos anos anteriores, quando os gados e milhares de famílias ficaram afectados.
Quanto ao Programa de Transferências Sociais Monetárias «Kwenda», lançado em Maio pelo Executivo, de apoio às famílias carenciadas com um valor de 8 mil e 500 kwanzas por trimestre, é considerado pelo prelado católico alguma coisa, embora entenda que pudesse ser levada em conta a realidade local de cada região, por via de um processo de auscultação das comunidades rurais.
O programa, que prevê beneficiar um milhão e 608 famílias de todo o país, conta com o financiamento global de USD 420 milhões, cuja idealização devia ser feita pelas pessoas que conhecem e lidam com os problemas.
A situação da seca no Cunene requer soluções concretas e imediatas para acudir a população afectada pela carência de água, referiu, na altura, o então ministro da Administração do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, em Ondjiva.
Adão de Almeida havia feito tal consideração num encontro com os membros do Governo local e do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros, no quadro da visita àquela província, para avaliar as consequências da seca, alegando, na ocasião, que a situação era crítica, desafiante e exigia mais pragmatismo e acção.
Entre as medidas imediatas, apontou a reparação e a abertura de furos de água nas zonas mais críticas, para atender à população.
"A seca no Cunene é frequente, daí que os projectos devem ser implementados na perspectiva de se terminar com as emergências regulares derivadas da falta de chuva e ter-se um programa sustentável", frisou.
Adão de Almeida apresentou, na altura, ao Presidente da República, João Lourenço, todas as soluções encontradas para se garantirem os apoios necessários para a sua efectiva execução.
"Os programas são definidos nos gabinetes em Luanda, a fim de se decidirem questões de uma realidade muito específica, na qual a consulta às comunidades seria uma mais-valia para a resolução dos seus maiores problemas", sugeriu Dom Pio Hipunhati.
Medidas de combate à seca
O bispo católico persiste na questão da abertura de furos para suprir as necessidades das populações e do abeberamento de milhares de cabeças de gado bovino.
Sobre o programa do Governo implementado no ano passado, disse estar paralisado devido à Covid-19, por um lado, e, por outro, face à "falta de transparências" das autoridades na gestão da coisa pública.
Em Junho último, o Serviço de Investigação Criminal (SIC) no Cunene apreendeu oito viaturas, todo-o-terreno, adquiridas para os trabalhos de apoio à seca, que estavam a ser utilizadas para fins particulares.
Em contrapartida, a situação da seca no Sul do país é considerada cíclica por especialistas, devido à sua frequência desde muitos anos, tendo chegado a atingir mais de 2,3 milhões de pessoas nas províncias do Namibe, Huíla e Cunene - 491 mil são crianças com menos de cinco anos.
Noutro campo de desenvolvimento, o bispo de Ondjiva manifesta preocupação em relação ao assunto do momento, pelas alegadas fracas medidas de prevenção contra a Covid-19.
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