"O diálogo, para mim, seria a melhor via para resolver este problema. A empresária é um parceiro do Governo no que diz respeito à criação de empregos no País", destacou ao NJOnline Manuel Fernandes.
Mas, para o deputado, a falta de prudência por parte da empresária é uma das causas que obriga o Executivo a tomar algumas medidas contra ela.
"Afrontar o Chefe de Estado tem sido uma atitude negativa da empresária, porque a corda rebenta pelo lado mais fraco", disse, defendendo que as medidas do Executivo relativamente aos que desviaram fundos públicos não podem ser selectivas.
"Todos estão identificados. Agora cabe à Justiça agir urgentemente para se recuperar o dinheiro desviado", disse.
O porta-voz da UNITA, Marcial Dachala, não quis entrar em grandes detalhes, mas espera que a Justiça faça com transparência o seu trabalho.
"Vamos acompanhar como é que o processo vai andar. Só mas tarde é que a opinião pública vai avaliar o desfecho deste assunto", frisou.
O presidente do PRS, Benedito Daniel, referiu que o arresto de bens patrimoniais e financeiros da empresária Isabel dos Santos e do marido Sindika Dokolo é um aviso aos gestores públicos que desviam fundos do Estado.
"As autoridades judiciais devem identificar outros saqueadores do erário público para serem responsabilizados", notou, salientando que os desvios de fundos públicos estão hoje a sacrificar os angolanos.
O secretário da juventude da FNLA, Kiaku Samuel Kiala, defendeu que medidas do género deveriam ser extensivas a mais membros do Executivo envolvidos na prática de desvio do erário público.
"A ver vamos onde vai terminar este processo. O País foi saqueado e os seus actores não podem ficar impunes", disse.
Também o antigo primeiro-ministro e ex-secretário-geral do MPLA, Lopo do Nascimento, é de opinião de que "quem recebe dinheiro do Estado e não paga tem de ser sujeito a algumas decisões".
Numa entrevista à Lusa, o antigo primeiro-ministro afirmou que Angola vive um ciclo novo e o que aconteceu a Isabel dos Santos vai acontecer a outros que pediram dinheiro ao Estado e não pagaram.
"Se eu peço um empréstimo a um banco, tenho que pagar. Se não pago, o banco vai apanhar aquilo que eu fiz com o dinheiro que pedi emprestado. É normal. Seja filho de... Nem que fosse filho de Deus, é assim que se faz na Terra", afirmou
"Em Angola há um ciclo novo. Não é com António, Joaquim, ou Manuel. Em Angola há um ciclo novo. E, portanto, o que aconteceu a ela [Isabel dos Santos] vai acontecer a outros que pediram dinheiro ao Estado e não pagaram", reforçou.
A informação consta do despacho-sentença que fundamenta a providência cautelar que apreendeu judicialmente os bens da filha do ex-Presidente da República José Eduardo dos Santos, do seu marido, Sindika Dokolo, e do principal gestor da empresária, o português Mário da Silva.
A União Nacional de Trabalhadores Angolanos (UNTA) e a Central Geral de Sindicatos Independentes Livres de Angola (CGSILA), que estão a acompanhar o "caso Isabel dos Santos", por ser uma das maiores empregadoras no País, afastam para já qualquer impacto sobre os postos de trabalho das empresas visadas, afirmando que "o tribunal acautelou a questão dos empregos".
Em declarações à Lusa, os secretários gerais das centrais sindicais declararam "que não são previsíveis perturbações" no funcionamento das empresas e que, "para já, nenhum trabalhador contactou o sindicato para expressar preocupações sobre esta questão".
Já o director da EXX Africa, consultora especializada em análises e previsões sobre riscos políticos, de segurança e económicos em todos os países africanos, considera que o principal objectivo da acção judicial contra Isabel dos Santos é tornar os activos ingeríveis e forçar a empresária a abandonar os negócios em Angola.
"O principal objectivo desta acção legal parece ser tornar os negócios de Isabel dos Santos em Angola ingeríveis e assim forçar uma venda ou transferência dos seus bens para o Estado angolano ou para compradores politicamente próximos" do Executivo, afirmou o analista da consultora com sede em Joanesburgo à Lusa.
Para o jornalista angolano Carlos Rosado, o abalo no "império" de Isabel dos Santos tem, para já, "consequências mais psicológicas" e "introduz algum ruido, alguma intranquilidade e incerteza nas empresas, nos seus trabalhadores, nos seus clientes, nos seus fornecedores".
Porém, "não se prevê que as empresas possam fechar ou não possam pagar salários", ainda que pouco se saiba sobre as contas exactas de cada uma, explicou Carlos Rosado de Carvalho à RFI - Rádio França Internacional.
O também economista defende que "a ser verdade, e a confirmar-se aquilo que está na origem do arresto, é positivo para Angola e para os angolanos".
"Caso se confirmem as denúncias do Estado e da Procuradoria-Geral da República, eu acho que é positivo e reforça, talvez, a confiança em Angola (...) e é um aviso para aqueles que também beneficiaram do erário público e é importante dizer que a Isabel dos Santos não é a única", afirmou.