O que João Lourenço quer, também como Presidente da República, é que a sociedade angolana mude e que os militantes do MPLA sejam os protagonistas dessa mudança e empenhados lutadores por essa mudança.
As eleições autárquicas são o azimute para o trabalho político do MPLA e dos seus dirigentes e militantes até 2020, apontou João Lourenço, que, pelo meio deixou um recado a empresários que têm criticado a postura da AGT (Administração Geral Tributária) no que diz respeito à data da entrada em vigor do novo imposto, o IVA, afirmando o também Chefe de Estado que não gostou de ouvir essas críticas.
Recorde-se que a data inicialmente prevista, 01 de Julho, foi, entretanto, alterada para 01 de Outubro, depois de meses de debates onde alguns empresários alertaram para a necessidade de uma melhor preparação do sistema que vai suportar este novo imposto que substituirá o actual Imposto de Consumo.
Por outro lado, lembrou, neste discurso proferido na Arena Kilamba, que actualmente existe uma moda que é a ocupação de grandes terrenos por empresas para nelas construirem fábricas ou casas que depois vendem, e essa empresas, "por muito nobres que sejam os seus projectos", devem cumprir com as suas obrigações, como acontece com os cidadãos comuns.
A "tarefa educativa" deve ser constante, mesmo que não se possa abdicar totalmente da vertente punitiva, a vertente pedagógica, reafirmou uma e outra vez, "deve impor-se".
Apelou aos cidadãos para exercerem os seus direitos de cidadania, dando exemplos onde as populações se impuseram perante situações injustas, como o caso do jardim no Lubango, que estava a ser ocupado, ou uma fábrica em Benguela, que tinha autorização para uma coisa e estava a ser erguida outra.
E para aqueles que poderão dizer que estas situações não levam o pão à mesa das famílias, disse que "nem só de pão vive o homem", mas encaminhou o seu discurso para a questão da produção nacional, que deve ser aumentada colocando o sector privado a produzir mais, mesmo que o Estado não ignore o seu papel.
"Vamos dar todos os apoios necessários ao sector privado, para que cresça e possa cumprir com a sua responsabilidade de produzir bens e serviços e de dar emprego", disse.
O Estado, admitiu, não é perfeito", mas garantiu que as empresas que ainda estão na esfera pública e estão na lista das que são para privatizar, vão ser privatizadas.
"Temos de fazer com que as coisas aconteçam, temos de fazer com que as coisas sejam feitas. Fazemos muitas reuniões, talvez demais, estas são boas, para traçar estratégias, mas depois temos de tirar as decisões do papel para a prática", avisou.
"Por vezes damos conta que qualquer coisa está emperrada, como é o caso das privatizações. Temos mesmo de começar, de descolar, porque o mundo tem de ver que passamos do discurso para a prática", afirmou.
Lançou um recado ao sector bancário nacional, dizendo que os bancos têm de ser efectivamente nacionais, porque um cidadão que esteja a 1.500 quilómetros de Luanda, não tem de fazer essa distância para ir ter com o seu banco, deve ser o banco a ir de encontro aos cidadãos que dele necessitam.
Apontou como caminho o fim das feiras internacionais em Angola onde é apenas mostrado o que é produzido noutros países, mas sim o que é "Made in Angola", porque é esse o caminho, prometendo o apoio do seu Executivo para que nas províncias se possa mostrar o que de melhor ali se faz.
"Já há províncias que realizam feiras, mas estas devem sobretudo mostrar o que nós já produzimos no país", disse, acrescentando que quando se fala de produção nacional não se deve falar apenas dos grandes, deve-se também dar "atenção aos pequenos e médios empresários, que também devem ser acarinhados".
"Estou a falar do empreendedorismo, sobretudo no seio dos jovens, que, pela sua condição de jovens, são inovadores mas a quem, por vezes, faltam pequenos apoios, pequenos meios, e são esses que devemos procurar encontrar para que os jovens possam colocar a sua imaginação ao serviço da Nação", perspectivou.
Lembrou o papel da comunicação social, que deve servir de olheiro, como no futebol, contribuindo paa que seja encontrado no bairro o empreendedor que, como os jogadores de futebol que um dia chegam aos grandes clubes mundiais, "ao nível do empreendedorismo, com este pode suceder o mesmo".
Pediu que sejam mostrados "os bons exemplos, os casos de sucesso" para os quais não interessa a dimensão, porque, defendeu, "quem começa com 500 e chega a 502 tem menos mérito que quem começa no zero e chega a cinco ou a 10", exemplificou, deixando nesta frase um recado directo aos que começaram já com meios avultados ao seu dispor, podendo nesse âmbito serem lembrados muitos dos atuais grandes empresáros angolanos com ligações profundas ao poder.
"O Estado não pode empregar todos, mas tem a responsabilidade de promover políticas que fomentem o emprego e fomentar emprego não é só ser funcionário público, mas sim apoiar o surgimento de pequenas e médias empresas, porque é com essas que vamos resolver o problema do desemprego em Angola", apontou, com fortes aplausos a seguir a cada uma das suas frases mais significativas.
João Lourenço disse que o país não pode ter muitas empresas da dimensão da Sonangol, mas pode ter milhares de pequenas empresas onde podem ser criados milhões de postos de trabalho.
Sobre o Congresso, lembrou que entraram na direcção do partido jovens talentosos, e, por isso, pode-se pensar que o capitão" vai tirar oito dos jogadores para meter oito jovens talentos, mas "nunca vi nenhum treinador fazer oito substituições de uma vez... porque senão perde o jogo".
"Não vai ser assim, mas pode fazer duas ou três, porque o que imporá não é o número, é a qualidade das substituições", disse, numa analogia que visa a mudança de caras nas estruturas do MPLA e do Governo.
Alertou, no entanto, que o treinador, ele próprio, não vai "fazer o que ouvir os treinadores de bancada", mas garantiu que tem em conta o que estes dizem para "tomar uma decisão o mais acertada possível. Não podemos ser surdos".
"Nós vamos agir com ponderação e as substituições na equipa vão acontecer quando tiverem de acontecer e na dimensão que tiver de ser", advertiu João Lourenço no discurso de encerramento do Congresso que, ao contrário do que tem sido comum, foi realizado num local diferente daquele em que o conclave teve início, dedicando-o à questão do resgate dos valores para a sociedade angolana.
Mas não deixou de se dirigir, no discurso transmitido em directo pelas televisões e rádios, a quem tem expectativas exageradas sobre mudanças de nomes na equipa dirigente do MPLA, que será aquela que ele quiser que seja e não aquela que gritam os treinadores da bancada.