A conferência de imprensa dos deputados da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), do Partido de Renovação Social (PRS), da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e deputados não integrados em grupo parlamentar, representados pelo líder do grupo parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Liberty Chiaka, surgiu depois de o Presidente da República ter declarado, na quarta-feira, que os protestos de milhares de populares que durante a paralisação dos taxistas queimaram um comité de acção do MPLA, incendiaram um autocarro do Ministério da Saúde, cortaram várias estradas com pneus e outros materiais a arder, apontavam para a materialização de um "macabro plano de ingovernabilidade", através do fomento da vandalização de bens públicos e privados, incitação à desobediência e à rebelião, "na tentativa da subversão do poder democraticamente instituído".

Liberty Chiaka disse que a oposição pretende partilhar propostas de soluções, depois de identificados, em cooperação com peritos, os problemas que afectam a atual situação política e social do país.

Segundo o deputado, o caminho seguido pelos angolanos na luta pela independência não foi o desejado, nem o pós-independência até 1991, caracterizado por "divisões, ódios, exclusão, de hegemonismo, de injustiças".

"O caminho que seguimos como angolanos de 1992 a 2002 não foi diferente dos primeiros anos de independência, também vivemos situações difíceis, de guerras, de ódios, de divisões", referiu.

Em 2002, prosseguiu o deputado, os angolanos decidiram de modo consciente trilhar um novo caminho, "o da consolidação do Estado democrático de direito, apostar na boa governação, lançar as bases para o desenvolvimento sustentável do País, desenvolver uma competição pelo poder de modo leal, sempre nos marcos da Constituição e da lei".

"Vivemos momentos não muito bons também de 2002 a 2017, apesar de vários retrocessos, alguns avanços, recuos, avanços tímidos, tivemos três processos eleitorais, nestes últimos anos de paz", salientou.

O líder do grupo parlamentar do maior partido da oposição frisou que em 2017 o País conheceu uma mudança na liderança do Estado, iniciada a nível do partido que governa Angola há 46 anos, o que "alimentou expectativas".

"Criou esperança de que Angola podia de forma efectiva caminhar numa perspectiva de unidade, de respeito pela diferença, podíamos todos construir um Estado de direito democrático, com respeito pela diferença, pelos adversários políticos, portanto, de 2017 a 2019 o País efectivamente experimentou abertura, é importante assinalar isso", disse.

Contudo, considerou, de 2020 para cá, "os angolanos sentiram, notaram e constataram um recuo nos ganhos que o País tinha registado".

"É nossa preocupação profunda que o País não pode enveredar pelo caminho do passado, de hostilização dos adversários, exclusão de competidores, o país não pode abraçar um caminho de politização ou de partidarização das suas instituições, particularmente o poder judicial, um dos pilares do Estado de direito", frisou.

De acordo com Liberty Chiaka, quem governa "precisa de promover uma cultura de tolerância, de respeito, através do diálogo, institucional, informal, sempre partindo do pressuposto, tanto daqueles que governam como os que estão na oposição, são servidores temporários".

"Estamos profundamente preocupados, porque nos últimos dois anos, as conquistas dos primeiros dois anos de mandato do Presidente João Lourenço, infelizmente, foram abaladas, o País tem sofrido, o nosso Estado de direito tem sido abalado por sucessivas violações, mas nada está perdido, temos tempo, condições, disposição, disponibilidade e energia, sobretudo, animados pelo patriotismo de invertermos o quadro actual", advogou.

O líder do grupo parlamentar da UNITA sublinhou que como angolanos e particularmente como deputados "com responsabilidades também acrescidas" estão disponíveis para contribuir para a busca de soluções nos vários conflitos que o País pode viver.

"Nós queremos sentar com o Presidente da República, queremos dialogar com a liderança do MPLA, é o país que está em causa, não são os nossos orgulhos partidários, orgulhos de grupos, de forma nenhuma, somos muito poucos e pequenos demais para colocarmos em primeiro lugar os nossos interesses, as nossas vaidades", referiu o deputado.

"Estamos aqui para dizer não à manipulação, à hostilização, à cultura da intolerância, do hegemonismo de grupos, da exclusão, sim à unidade, ao respeito pela diversidade, pela opinião contrária, competição sim, mas nos marcos da Constituição e da lei", realçou.

Por sua vez, o líder parlamentar da CASA-CE, Alexandre Sebastião André, disse que os angolanos têm um foco principal este ano, a realização das eleições gerais em Agosto, repudiando veementemente "qualquer comportamento ou atitude que venha a criar uma instabilidade social e que pode ser motivo para um pseudo adiamento do pleito eleitoral".

"Não pretendemos que haja alibis, motivos, para surgirem situações embaraçosas. A sociedade civil está atenta, está viva, está activa, pois ela é o barómetro para sabermos como vai a governação e a sociedade civil activa não tem propósito da assumpção do poder, pois toda a manifestação que surge são protestos, são exigências, portanto, são formas de indicar a quem está a governar o caminho ou rumo que deve tomar", afirmou.

"De modo algum, numa sociedade desenvolvida, que se preze democrática, podemos considerar uma manifestação da sociedade civil como uma manifestação que está a ser impulsionada por forças políticas, mão invisível, não pode, porque a sociedade civil está muito desenvolvida", considerou Alexandre Sebastião André.