O ICIJ, que tornou pública a investigação conhecida como Luanda Leaks, revela agora que os Pandora Papers, com base num acervo de quase 12 milhões de documentos de provedores de serviços offshore baseados em paraísos fiscais, mostram, por exemplo, que o general "Dino" também era dono da Dark Oil Ltd em parceria com o general "Kopelipa" e o ex-vice-Presidente Manuel Vicente, quando este exercia o cargo de PCA da Sonangol.
E o ICIJ lembra que a comunicação social informou, em 2007, que a Dark Oil Ltd e a petrolífera estatal de Angola, então liderada por Vicente, assinaram um acordo com uma empresa russa para explorar petróleo.
O ICIJ publica igualmente que, em 2008, segundo mostram os registos, o general "Dino" tornou-se proprietário da Shenyang Investments LLC, uma empresa de fachada registada em Wilmington, Delaware.
A empresa abriu uma conta bancária no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, segundo a Pandora Papers.
"Os registos públicos em Delaware não se referem à relação da empresa com Nascimento ou com Angola. A empresa foi fechada em 2014, anos depois de relatos dos média levantarem preocupações de conflito de interesse sobre a participação secreta de Nascimento numa empresa privada que lucrava com a imensa riqueza petrolífera de Angola", lê-se no mais recente artigo sobre as ligações de "poderosas figuras políticas angolanas acusadas de desviar biliões de dólares agora podem ser vinculadas a pelo menos mais 20 empresas secretas nos Estados Unidos e outros paraísos fiscais, expondo novos esconderijos financeiros da ex-elite governante do empobrecido país africano".
Como parte da investigação do Luanda Leaks, o ICIJ revelou anteriormente que Isabel dos Santos e o seu marido, Sindika Dokolo, também possuíam uma empresa de fachada em Delaware para manter uma casa de luxo em Portugal.
A ligação a Portugal também é feita, com o ICIJ a demonstrar que o general "Dino" foi dono ou foi director de empresas criadas nas Ilhas Virgens Britânicas e no Panamá. Várias dessas empresas abriram contas bancárias no Banco Espírito Santo, "um credor português problemático com um histórico bem documentado de servir as elites angolanas".
O general e ex-ministro "Kopelipa" "era dono da Tentower Overseas S.A. no Panamá e abriu uma conta bancária em Portugal. A esposa de Dias, Giovetty, também era dona de uma empresa de fachada no Panamá para abrir uma conta bancária na Europa, mostram registos vazados", revelam os Pandora Papers.
"A decisão dos EUA de sancionar estas três pessoas é um passo importante na luta contra a corrupção em Angola, e também no aumento da responsabilização em outras jurisdições, como Portugal, que permitem e facilitam os fluxos financeiros ilícitos de Angola", afirma uma jornalista portuguesa envolvida na investigação, ressaltando que "o impacto de acções positivas como esta sempre será limitado sem um pacto global para acabar com os paraísos fiscais e o uso de empresas de fachada."
"Trazer à luz os negócios obscuros dos cleptocratas é fundamental para a defesa dos direitos humanos", disse Karina Carvalho, directora executiva da Transparência Internacional em Portugal, citada pelo jornalista Will Fitzgibbon.
"Angola é um país rico em recursos, mas a maioria da sua população vive na pobreza, impedida de ter acesso à saúde, educação e condições de vida dignas por causa das pessoas que se apoderam da riqueza do país", expõe ainda Karina Carvalho.
A notícia assinada pelo jornalista Will Fitzgibbon lembra que no mês passado, o governo dos Estados Unidos sancionou Isabel dos Santos e os dois ex-generais pelo que chamou de "corrupção significativa", o que impede Isabel dos Santos e membros da sua família de entrar nos Estados Unidos.
"O Departamento de Estado norte-americano também proibiu Nascimento, ex-chefe de comunicações do presidente dos Santos, e Dias, um poderoso ex-general angolano. O Departamento do Tesouro dos EUA colocou Nascimento, Dias e sua esposa, Luisa de Fatima Giovetty, sob sanções económicas", refere igualmente Will Fitzgibbon.