Esta semana foi marcada por um jogo de força tornado público pela própria Presidência no Facebook entre a autoridade máxima do País, o Chefe de Estado, João Lourenço, e a mais alta representante do órgão supremo de fiscalização da legalidade das finanças públicas, a juíza presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gambôa, que só renunciou ao cargo depois de ter sido constituída arguida por suspeita dos crimes de corrupção, extorsão e peculato.
Na segunda-feira, 27, a Presidência da República anunciava, na sua página na rede social Facebook, que a juíza presidente do Tribunal de Contas, Exalgina Gambôa, tinha sido convidada pelo Chefe de Estado a demitir-se no dia 21 de Fevereiro por ter deixado de ter condições para o exercício das suas funções.
O Chefe de Estado declarava, na nota, que tem acompanhado "com alta preocupação" as "ocorrências" que envolvem o nome de Exalgina Gambôa, sublinhando que são "susceptíveis de comprometer o normal funcionamento deste importante órgão do poder judicial e manchar o bom nome da Justiça angolana".
Mas Exalgina Gambôa não renunciou. Em vez disso, respondeu a João Lourenço no mesmo dia com um pedido de jubilação antecipada por "razões de saúde".
A 28 de Fevereiro, a Procuradoria-Geral da República declarava, em comunicado, que a presidente do Tribunal de Contas tinha sido constituída arguida, tal como o seu filho, Hailé Vicente da Cruz.
Horas após ter sido constituída arguida e mais de uma semana depois de o Presidente da República a ter "convidado" a sair, a juíza Exalgina Gamboa renunciou finalmente ao cargo de presidente do Tribunal de Contas, tendo o Chefe de Estado aceitado imediatamente o pedido de resignação.
Também o juiz-conselheiro presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, tem estado debaixo de fogo há já vários meses, com o nome associado a vários escândalos de alegados actos de corrupção, mas, em entrevista à RFI, o Presidente da República afirmou desconhecer, "até agora", algo que prove o envolvimento de Joel Leonardo em actos ilícitos.
"Com relação ao Tribunal Supremo, eu devo dizer que, do que é do meu conhecimento, há alegações de eventuais crimes, mas que, por enquanto, nada prova o envolvimento, até agora, do venerando juiz-presidente do mesmo tribunal", afirmou.
Sobre uma crise institucional no País, João Lourenço diz, lacónico: "É muito forte dizer isso. Forte demais".