O projecto Muangai, que está na génese da UNITA fundada por Jonas Savimbi em 1966, e que assenta em cinco pilares estruturantes, como a liberdade e independência, democracia assegurada pelo voto, soberania do povo, igualdade na Pátria de nascimento, priorizar o campo para beneficiar a cidade, surge como o azimute entre os mais velhos para garantir que o partido do "Galo Negro" ultrapassa este momento histórico complexo.
Os veteranos partilham em grande medida a ideia de que o regresso do presidente Samakuva à direcção do partido, por força do acórdão 700/2021 do Tribunal Constitucional que anula o último congresso que elegeu Adalberto Costa Júnior, como líder, "é uma manobra dos inimigos da UNITA".
"A UNITA é um partido com estratégia. Nós agimos dentro desta estratégia elaborada pela direcção do partido. Ninguém do exterior pode dar ordens ao partido", advertiu Samuel Chiwale, um dos fundares reforçando que nenhum membro da organização política "pode trair o Projecto Muangai".
Referindo-se ao regresso de Samakuva à presidência da UNITA, Samuel Chiwale disse tratar-se de "uma manobra dilatória dos inimigos da UNITA", manifestando a sua confiança de que todas as "tentativas de criar problemas contra a organização serão ultrapassadas".
Para o também deputado à Assembleia Nacional, Adalberto Costa Júnior "é a aposta certa da UNITA tendo em vista as eleições gerais de 2022".
"O engenheiro Adalberto Costa Júnior é a meta final. Não há ninguém que pense ao contrário. Nós somos o Adalberto a 100 por cento", concluiu.
Para outro veterano, Ernesto Mulato, que também se referiu à importância de não ignorar o Projecto Muangai neste momento, os "militantes influentes da UNITA estão cientes das dificuldades que o partido vai enfrentar nos próximos tempos, mas acreditam que não é o MPLA e nem o Presidente João Lourenço que lhes vai ditar como fazer e o que fazer".
Ao Novo Jornal, Ernesto Mulato, lamentou que Adalberto Costa Júnior esteja a ser alvo de uma "perseguição injusta desencadeada pelo do Bureau Político do MPLA".
"Não é o MPLA e nem o Presidente João Lourenço que nos vão ditar como fazer e o quê fazer", referiu Ernesto Mulato, sublinhando que "as ciladas são muitas, mas é o baptismo de fogo de Adalberto Costa Júnior e se o aguentar tem o caminho aberto para cima".
Referindo-se à perseguição contra Adalberto Costa Júnior pelo partido no poder, Ernesto Mulato lembrou que, "tão logo que foi eleito, em 2019, em menos de 24 meses meteu o MPLA de rastos".
"Há ou haverá muita gente a duvidar que seja renovada a confiança nele no próximo congresso?", questionou o co-fundador da UNITA, reforçando que "quando o elegeram em 2019, sabiam algumas das suas valências para o crescimento da UNITA".
Na sua opinião, o protagonismo político e a popularidade de Alberto Costa Júnior, dentro e fora da UNITA, obrigou o MPLA a orientar o Tribunal Constitucional para agir prejudicando a UNITA".
"Não estamos preocupados e tudo faremos para o congresso ter lugar", concluiu.
O membro da UNITA que ficou em 3º lugar no último congresso, Abílio Kamalata Numa, disse depositar o seu voto de confiança em Adalberto Costa Júnior como candidato à presidência da UNITA no XIII Congresso Ordinário marcado para o mês de Dezembro.
"Estamos a um ano das eleições e o partido precisa de mais unidade", disse Abílio Kamalata Numa, salientando, no entanto, que quem estiver interessado é "livre em candidatar-se" à liderança.
"Mas eu prefiro apoiar o Adalberto que já está bem encaminhado para em 2022 retirarmos o MPLA do poder", acrescentou. Abílio Kamalata Numa já, por várias vezes, reiterou o seu apoio a Adalberto Costa Júnior.
O antigo-geral da UNITA, Lukamba Paulo Gato, disse que o Presidente da República "não esteve bem no seu discurso por ocasião da tomada de posse de Isaías Samakuva no Conselho da República, em substituição de Adalberto Costa, por vontade de um acórdão do Tribunal Constitucional.
"Se se tratou de um lapso pode-se reparar, mas, se foi uma tentativa de apoio público e institucional a determinada situação, então isso em português é uma inconveniente ingerência nos assuntos internos de uma organização política autónoma e soberana", acrescentou, concluindo que "a hostilidade política atingiu um nível tal que as pessoas já não conhecem os limites da razoabilidade".
O XIII Congresso Ordinário da UNITA, que é uma repetição imposta pelo TC, foi indicado para ter lugar de 2 a 4 de Dezembro na reunião da Comissão Política que teve lugar na passada semana, mas a confirmação depende agora de Isaías Samakuva, como determinam os estatutos.
No entanto, o líder do maior partido da oposição, à margem da reunião do Conselho da República onde foi empossado como membro deste órgão de aconselhamento do Presidente da República, informou os jornalistas, apanhando de surpresa os militantes, que pediu uma clarificação ao TC de alguns pontos do Acórdão.
Embora não seja evidente que este pedido possa inviabilizar o congresso na data prevista, Isaías Samakuva deixou no ar essa possibilidade.
Mesmo defendendo que o partido vai empenhar-se para que essa data seja cumprida, até porque parte do processo de preparação já está feito do congresso de 2019, reduzido substancialmente o prazo normal de 4 meses para isso, Samakuva disse que só "a prática dira" se vai ser possível, concluindo com uma frase de interpretação múltipla: Esperamos que seja possível" realizar o conclave até 4 de Dezembro.
Tanto o pedido de aclaração ao TC como a incerteza manifestada quanto à realização do XIII Congresso Ordinário até 4 de Dezembro, ou ainda o desejo manifestado pelo PR de que Samakuva tivesse regressado "para ficar" no Conselho da República, criaram um forte mal estar no seio da UNITA, que, pelo que é possível verificar nas múltiplas declarações de dirigentes do partido nos media nacionais e internacionais, como na opinião dos mais velhos agora ouvidos pelo Novo Jornal, coincidem largamente na urgência de reconduzir Adalberto Costa Júnior na liderança.
Até ao momento, quase quatro semanas depois da decisão do TC, e uma semana passada da reunião da Comissão Política que apontou 4 de Dezembro como data limite para a repetição do congresso, apenas Adalberto Costa Júnior surge em pano de fundo como candidato.
No entanto, dos candidatos derrotados por Costa Júnior em 2019, apenas Kamalata Numa já indicou a sua decisão de apoiar o líder "deposto" pelo TC, com a morte de Raul Danda, falta saber qual a decisão dos restantes, Alcides Sakala, que foi o segundo mais votado em 2019, e Pedro Catchiungo.
Pelo sentimento que tem vindo a ser expresso pelos militantes, desde logo do seu líder actual, Isaías Samakuva, que defendeu a existências de outros candidatos além de Costa Júnior, a dúvida se vai ou não haver múltiplas candidaturas, como é tradição na UNITA desde a morte de Savimbi, em 2002, mantém-se, porque são igualmente sonoras as vozes que defendem que deve ser apenas um candidato para sublinhar fortemente a união do "Galo Negro" em torno do seu líder.