Desde a reabilitação da via que vai dar à antiga rotunda do Gamek, saindo da Vila, que automobilistas e transeuntes olham com reprovação para uma alegada solução técnica encontrada pela Direcção Nacional de Infra-estruturas Públicas (DNIP), dona da obra, para um pequeno troço junto à Farmácia Central e ao Nosso Centro, que vai ligar a referida via à Avenida 21 de Janeiro. O Novo Jornal, alertado por alguns automobilistas, desdobrou-se em busca de explicações para aquilo que os mais visados, taxistas e moradores da área, consideram como sendo uma medida sem nexo.

Avenida 21 de Janeiro foi a causa

Segundo uma fonte do Novo Jornal, a referida solução pretendia evitar que o fluxo de viaturas que utilizam aquela via secundária viesse a causar males maiores à Avenida 21 de Janeiro, a partir da antiga rotunda do Gamek, onde, além do fluxo de automóveis, há também uma confluência acentuada de peões. Se tal desiderato foi, por um lado, supostamente alcançado, o mesmo não se pode dizer para quem deixa a Avenida Pedro de Castro Van-Dúnem Loy e tem como alternativa a via da Vila do Gamek, em direcção ao Rocha Pinto ou mesmo ao Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro. Por se tratar de uma via principal, de acordo com a fonte, não convinha que o acesso a essa via fosse através de duas faixas de rodagem que a mesma traz desde a Vila do Gamek. A solução encontrada foi estreitá-la e deixá-la com uma única faixa de rodagem, de modo a que se conseguisse conter o caudal do trânsito, disse a fonte.

30 minutos ao invés de cinco

Um percurso que, em situações normais, seria feito em menos de três minutos tem custado aos automobilistas mais de meia hora e às vezes muito mais, dependendo do período do dia, afirmam alguns automobilistas abordados pelo Novo Jornal. Em hora de ponta, por exemplo, de acordo com um morador da zona, a solução encontrada, sobretudo por muitos taxistas, tem sido o interior dos bairros da Madeira e da Praça Nova. Contudo, nem todos arriscam por uma empreitada pelo interior desses bairros, por razões de segurança e de integridade das suas viaturas, devido ao péssimo estado dessas vias alternativas, conforme apurou o Novo Jornal.

Empresas remetidas ao silêncio

No local, funcionários da Odebrecht alegam não estarem autorizados a dar explicações sobre a obra, nem mesmo tecer comentários sobre a alegada solução técnica de contenção do fluxo de trânsito. O encarregado geral pela empreitada limitou-se a dizer-nos que tínhamos de contactar a empresa fiscalizadora da obra, a DAR, uma vez que à Odebrecth competia única e exclusivamente a responsabilidade da execução e que todo e qualquer esclarecimento a respeito do assunto não era competência deles, mas, sim, da empresa fiscalizadora, ou então à dona da obra.

A empresa DAR, cujo gabinete técnico de fiscalização da referida obra está a funcionar no antigo estaleiro da Odebrecht, sita no Rocha Padaria, também se recusou a prestar qualquer esclarecimento, atirando essa responsabilidade para a Direcção Nacional das Infra-estruturas Públicas, órgão tutelado pelo Ministério da Construção.

Automobilista reprovam decisão

Os automobilistas ouvidos pela nossa reportagem dizem não compreender a solução dada àquele troço. Fizeram um trabalho digno de louvor para no fim cometerem esta asneira. É incompreensível como é que uma via bastante frequentada como esta, quer por taxistas, quer por nós, os moradores, e outros que saem da estrada direita do Golf, tenham de perder muito tempo aqui parados! Por causa de um trabalho mal feito. Se a ideia era acabar com o trânsito não se percebe por que motivo é que esta situação está acontecer, lamentou o morador da Vila do Gamek, Rogério Simão. Waldemar de Carvalho, um outro residente do bairro da Madeira, disse à nossa reportagem que tudo o que lhes tem sido informado é que o estreitamento da via deveu-se a um desentendimento entre a proprietária de um restaurante alegadamente pertencente à irmã de uma alta figura da nomenclatura política, que terá impossibilitado que a via se ligasse à Avenida 21 de Janeiro com as duas faixas normais de rodagens, número com que vinha da Vila do Gamek. Diz-se que a senhora não concordou, porque parte do restaurante foi destruído. Mas a senhora acabou por não ceder e eles tiveram de estreitar a via, salientou.

Os duas que se seguem

A fonte do Novo Jornal, que contrariou tal explicação, adiantou que os moradores, cujas casas foram abrangidas na totalidade ou parcialmente, como é o caso da alegada senhora, foram todos, sem excepção, indemnizados com casas no Zango e que, por isso, não houve nenhuma situação que inviabilizasse o seguimento da reabilitação da via, nem um caso que viesse a pôr em causa as soluções tecnicamente recomendadas. Diariamente o nosso grande problema tem sido apenas aqui em direcção ao Nosso Centro. Imagina o que é ter que ficar aqui parado, durante quase meia hora, por um percurso que poderia ser feito em menos de cinco minutos. Acredito que, mais dia, menos dia tudo isso terá de ser repensado, porque o trabalho está mal feito, concluiu um automobilista. Dionísio Miala é taxista e todos os dias é obrigado a ter de enfrentar o trânsito provocado pelo estreitamento da via. Para este automobilista não faz sentido mantê-la nas condições em que ela se encontra actualmente. Então a estrada estava cheia de buracos, porque também ela é muito frequentada por camiões da Somague que transportam betão. Fez-se a reabilitação e agora onde era suposto alargar eles fecham mais, questionou o taxista, que disse aguardar por uma mudança da parte de quem de direito.

Suposta solução descarta

Da ainda segundo a fonte do Novo Jornal, uma solução foi apresentada à Direcção Nacional das Infra- -estruturas Públicas, mas esta teria posto de lado a possibilidade de viabilização da mesma por falta de entendimento com o Nosso Centro, uma vez que tal solução passava pela construção de uma passagem de nível defronte o Nosso Centro, que iria levar a que as barreiras divisórias da Avenida 21 de Janeiro fossem acrescidas de redes para evitar que os peões a saltassem. O Novo Jornal tentou, sem sucesso, obter um esclarecimento junto do responsável da DNIP, José Paulo Kai, que se deslocou a Benguela, onde terá lugar, nos dias 4 e 5, a primeira assembleia dos técnicos do Ministério da Construção.