Há 80 anos, às 08h15 do dia 06 de Agosto de 1945, o Mundo assistia a um dos maiores horrores da história. A cidade de Hiroshima, no Japão, era atingida por uma bomba atómica. Harry Truman, o Presidente dos Estados Unidos da América, acabava por dar ao Mundo uma demonstração do poderio norte-americano, chegando a afirmar que: "A força de onde o sol tira o seu poder foi libertada contra os que trouxeram a guerra ao extremo Oriente". A resposta americana aos ataques do Japão à sua frota naval em Pearl Harbor, no Pacífico, em 07 de Dezembro de 1941, ou seja, quatro anos antes, foi brutal. "Os japoneses começaram a guerra em Pearl Harbor. Devolvemos-lhe o troco e a dobrar", disse, na altura, Harry Truman. Em visita ao Museu de Hiroshima, o NJ tomou conhecimento de que os planos dos EUA de desenvolver e lançar uma bomba atómica sobre território japonês datavam de 1942, um ano após o ataque em Pearl Harbor e a entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial. Entre 1942 e 1946, os Estados Unidos da América, em colaboração com o Reino Unido (o seu fiel e eterno aliado), desenvolveram o projecto de construção de bombas atómicas. A bomba atómica, a Little Boy, foi lançada pelos americanos a partir do bombardeiro B-29 Enola Gay, pilotado pelo coronel Paul Warfield Tibbets Jr. A explosão devastou a zona toda e hoje existe um memorial da paz, num local onde existiam residências e escritórios. Documentos que o NJ consultou no Museu de Hiroshima revelam que a intenção dos EUA era a de causar um efeito devastador, mostrar a Staline (União Soviética) e ao Mundo o seu poderio aos japoneses. A cidade de Hiroshima foi escolhida como alvo por estar relativamente intacta dos bombardeamentos da guerra, este facto foi relevante, pois permitia aos americanos observarem os efeitos da nova arma. Em 26 de Julho de 1945, o Presidente Truman emitiu o Ultimato de Postdam, em que exigia a "rendição incondicional do Japão", caso contrário, o país enfrentaria a "destruição total e imediata", uma declaração que não mencionava o uso de armas nucleares. Algo que os americanos já tinham planeado, com cidades previamente seleccionadas que os japoneses desconheciam.

O dia em que a guerra se tornou nuclear e começavam os sinais de uma Guerra-Fria Katsuko Kuwamoto, sobrevivente de Hiroshima, tinha 6 anos quando a bomba foi lançada sobre a cidade. "A explosão gerou uma onda de calor que chegou até aos 4.000 graus centígrados", disse em entrevista exclusiva ao nosso jornal. A explosão atingiu um raio de 4,5 km e a nuvem em forma de cogumelo causada pela deflagração da bomba chegou aos 17 mil metros de altitude. Mas a campanha de bombardeamentos do Japão por parte dos EUA iniciou 14 meses antes, como avança o jornal português Diário de Notícias, e tinha levado à morte de uns 700 civis, primeiro com bombas incendiárias e depois com napalm. Para os americanos, a prioridade era forçar a rendição do Japão, a decisão do lançamento da bomba atómica foi no sentido de salvar vidas dos soldados americanos e travar a continuação da guerra. No dia 08 de Junho de 1945, os japoneses decidiram prosseguir a guerra até às últimas consequências e responderam com 2.800 ataques de pilotos suicidas, os kamikazes. Harry Truman aprovou o uso da bomba atómica no dia 25 de Julho de 1945, caso o Japão não aceitasse o ultimato saído da conferência de Postdam, no dia seguinte. O NJ partilha aqui a ordem para o lançamento da bomba atómica. Na verdade, segundo avança o DN, os EUA previam baixas de 250 mil militares seus em caso de uma invasão e de um milhão de japoneses. O certo é que 92% dos 76.000 edifícios de Hiroshima foram destruídos e até ao final de 1945 já haviam mais de 140 mil mortos. A ocupação dos EUA, que durou até 28 de Abril de 1952, a altura da assinatura do Tratado de São Francisco, foi dura e implacável. Os americanos tidos como paladinos da democracia, criaram um chamado Departamento de Censura Civil ( CCD) que monitorizava todos os jornais, revistas, panfletos, livros, filmes e peças de teatro. A censura era extensiva a emissões de rádio, correspondência pessoal, comunicações telefónicas e telegráficas. Marcas que até hoje ficaram entre os sobreviventes e que foram relatadas pelo fotógrafo japonês Yotsugi Kawahara ( 1922- 1972), que tinha 23 anos por altura do lançamento da bomba em Hiroshima, e estava colocado na Marinha Imperial do Japão. "Com o fim da guerra, as forças de ocupação dos EUA ordenaram a destruição de muitos documentos classificados e de muitas fotografias das vítimas de Hiroshima. Eu entendi que estas fotografias podiam ser guardadas como " testemunhos da História. Ainda assim. Apesar de mais de cem fotografias minhas destruídas, eu consegui esconder deles cerca de 25 fotografias", diz um testemunho seu no Museu de Hiroshima. "Hibakusha", os sobreviventes de Hiroshima Katsuko Kuwamoto tem 86 anos e tinha seis anos quando a bomba atómica foi lançada sobre a cidade de Hiroshima. A antiga professora de piano é uma "Hibakusha", um termo japonês para designar os sobreviventes dos bombardeamentos atómicos de Hiroshima e Nagasaki, que aconteceram há 80 anos. Durante décadas, os "Hibakusha" sofreram, no Japão, muita discriminação social e dificuldades de inclusão. Lutaram contra o estigma, silenciamento e também o facto de ter de viver com a dor e mágoas da guerra. "Muitos tiveram de viver e sofrer com os graves problemas de saúde provocados pela radiação. Há também quem não tenha conseguido arranjar parceiro ou parceira", disse em entrevista exclusiva ao NJ. Transmitir a memória dos Hibakusha e as lições da catástrofe são um grande desafio para as autoridades japonesas. Em 2024, o Museu de Hiroshima que documenta a devastação causada pela bomba recebeu um recorde de 2,26 milhões de visitantes A 06 de Agosto de 1945, os EUA lançaram uma bomba atómica sobre a cidade de Hiroshima, matando cerca de 140.000 pessoas. Três dias depois, uma outra bomba atómica atingiu a cidade de Nagasaki, matando cerca de 74 mil pessoas.