Esta disponibilidade, manifestada pelo embaixador de Cabo Verde, Jorge Figueiredo, surge depois de a ministra da Educação, Cândida Teixeira, ter negado de forma clara e inequívoca a possibilidade admitida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, e pelo ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, durante uma vista de trabalho do primeiro a Luanda, de envio de professores cabo-verdianos para Angola.
Durante uma visita a Cabinda para contacto com a comunidade cabo-verdiana naquela província angolana, Jorge Figueiredo, que foi recebido pelo vice-governador local para área Política e Social, disse aos jornalistas que o seu país está disponível para dar todo o apoio possível a Angola no processo de implementação do poder local, sublinhando que a experiência cabo-verdiana em matéria de autarquias provou que estas aproximam os cidadãos e os decisores políticos.
A criação do poder local em Angola deverá estar concluída até 2022, segundo declarações recentes do Presidente da República, João Lourenço, mas o ano de 2020 está a ser tido como referência pelos diversos actores políticos nacionais como data para que as autarquias ganhem corpo em Angola, culminando um processo de vários anos e dando, por fim, cumprimento ao estipulado pela Constituição.
De acordo com o embaixador de Cabo Verde, o arquipélago está ainda disponível para disponibilizar a sua experiência no turismo para desenvolver, como é intenção do Executivo, este sector enquanto actividade económica fundamental no esforço de diversificação da economia nacional, sendo prova disso mesmo a recente opção por facilitar o acesso aos vistos de turismo por um conjunto alargado de países e a sua abolição para quatro estados africanos e um asiático.
A polémica dos professores
A questão do envio dos professores cabo-verdianos para Angola, admitida após a visita de trabalho do ministro do Negócios Estrangeiros a Luanda, resvalou para polémica depois de uma reacção negativa quase generalizada nas redes sociais, fundamentada no facto de Angola ter cerca de 20 mil professores que não conseguem colocação no sistema de ensino.
Face a essa polémica semeada nas redes sociais, a Ministra da Educação, Cândida Teixeira, negou, dias depois da manifestação de disponibilidade, a contratação de professores cabo-verdianos por parte do Executivo angolano.
"Enquanto titular da pasta da Educação, o que eu confirmo e afirmo é que não há orientações superiores (leia-se do Presidente da República) para contratação de professores cabo-verdianos", acrescentou a ministra quando falava aos jornalistas à margem da aprovação global do Orçamento Geral do Estado 2018.
Interrogada sobre as declarações dos ministros da Relações Exteriores de Angola e de Cabo Verde, que confirmaram a contratação de professores no arquipélago, Cândida Teixeira referiu que tais afirmações não têm nada a ver com o seu ministério.
"Eles (os ministros das Relações Exteriores e dos Negócios Estrangeiros) é que disseram isso, mas nós não temos informações sobre essas contratações", insistiu a ministra.
De acordo com Cândida Teixeira, as 20 mil vagas autorizadas pela Assembleia Nacional é para contratação de professores angolanos e não cabo-verdianos.
Posição por clarificar
No entanto, em comunicado, o Ministério da Educação admitiu pouco depois destas declarações da ministra que vai ser necessário recorrer à cooperação para colmatar necessidades reconhecidas em disciplinas fundamentais, como a matemática e a língua portuguesa, onde a qualidade dos docentes existentes não é suficiente para garantir os objectivos.
"O país necessita de recorrer à cooperação estrangeira especializada no ensino destas disciplinas (matemática e língua portuguesa), para colmatar as reconhecidas lacunas existentes entre os professores e também nos alunos", diz ainda a nota do ministério.
A acrescentar a esta posição com algumas nuances está o acto de Angola e Cabo Verde estarem a preparar a assinatura de uma série de acordos de cooperação, com destaque para a área da Educação, como revelou o ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, à margem da 30ª Cimeira da União Africana, que decorreu na Etiópia, deixando em aberto a contratação de professores cabo-verdianos para o sistema de ensino angolano.
Segundo Manuel Augusto, Cabo Verde tem um excedente de professores que poderão ser uma mais-valia em Angola, em especial no ensino da Língua Portuguesa.
Por outro lado, o ministro de Cabo Verde, Luís Filipe Tavares, confirmou, no balanço da visita a Luanda, que Angola manifestou o interesse em receber os professores cabo-verdianos, processo que garante poderá ser implementado "tranquilamente".
O ministro lembrou que, no passado, Cabo Verde já enviou vários professores para Angola, da mesma forma que tem "nas universidades cabo-verdianas professores angolanos".