Segunda-feira, 9 horas da manhã do dia 21 de Setembro de 2015. O cenário junto ao Tribunal Provincial de Luanda (TPL), na Via Expresso de Cacuaco, foi substancialmente diferente dos outros inícios de semana. Motivo: O início do julgamento do também chamado caso Jindungo. Antes de se iniciar o julgamento, na 14ª Secção da sala dos crimes comuns, cerca de uma centena de cidadãos, sobretudo familiares da Neth, dos acusados e pessoas curiosas, queriam ver de perto os rostos dos réus e principalmente de Miguel Ventura Catraio, homem ligado à governação e ao partido no poder.

As quatro jovens entraram na sala de audiência sem algemas ao contrário do antigo vice -governador de Luanda que entrou algemado. Logo que entrou na sala de audiência, Miguel Catraio saudou os presentes. Passados alguns minutos o juiz entrou na sala de audiências dando início ao julgamento. Quem também esteve no tribunal foi a vítima que pareceu estar à vontade e confiante na justiça. As primeiras horas do julgamento de segunda-feira foram marcadas pela apresentação dos arguidos e pela acusação da peça principal e acusação da pronúncia.

O Procurador da República, Edelvaisse do Rosário Miguel Martins, acusou os réus Manuel Ventura Catraio, Justina Lufuma Lukiki, Maiamba Brígida Fernandes, Maria Teresa Albano e Rita de Fátima Ferreira Paquela, de crimes de roubo qualificado, ofensas corporais e atentado ao pudor contra a ofendida Nikilauda Galiano Neth. Os crimes, segundo a acusação, foram praticados no dia 17 de Abril de 2015, no Hotel Confidente. O Ministério Público refere na acusação que a vítima foi agredida fisicamente e despida, tendo sido introduzida nas suas partes íntimas uma certa quantidade de gindungo.

Os presumíveis agressores gravaram os actos criminosos, que publicaram na Internet, através das redes sociais Facebook e Whatsapp. Evaristo Maneco não apresentou nenhum argumento contra as acusações do Ministério Público sobre Manuel Catraio. O advogado respondeu ao despacho de pronúncia do juiz Januário Domingos José e acusou o Tribunal de "estar com ira e de julgamento antecipado", pelo facto de não ter considerado as circunstâncias atenuantes a favor de Manuel Catraio. Evaristo Maneco disse que Manuel Catraio não cometeu nenhum crime de roubo qualificado e pediu a libertação do réu da prisão preventiva em que se encontra há cinco meses.

O juiz Januário Domingos José disse que o advogado de Manuel Catraio insultou o tribunal e pretendeu com a sua acusação denegrir a instituição. O magistrado explicou ao advogado que devia responder às acusações do Ministério Público e não ao despacho de pronúncia do Tribunal. "A acusação é feita pelo Ministério Público e a pronúncia é feita pelo juiz", disse. Para esta sessão, os advogados de defesa de Nikilauda Galiano (Neth), Miguel Catraio e de pelo menos mais três jovens, além do representante do Ministério Público, foram notificados pelo Tribunal Provincial de Luanda para comparecerem na 14ª Secção de Crimes Comuns, em Cacuaco, para participarem na primeira audiência do processo conhecido como 'Caso Jindungo'.

No primeiro dia foram ouvidas as declarações de Rita de Fátima e Teresa Albano. Já o segundo e o terceiro dias foram agendados para a audição de Maiamba Brígida Fernandes, que confessou o crime.

Na leitura da pronúncia dos factos apresentados pelo Ministério Público, Miguel Catraio, negou tudo, considerando-se ele a vítima. Durante a leitura, o representante do Ministério Público afirma que nos autos constam elementos suficientes como a sua acção foi determinante para que as arguidas Justina e Maimba se dirigissem ao hotel e como as agressões foram por si presenciadas sem qualquer intervenção sua no sentido de parar ou auxiliar a ofendida.

O representante do Ministério Público leu também que, ao contrario de Miguel, Jussila e a irmã não fogem das suas responsabilidades. De acordo com o juiz Januário Domingos José, os crimes de que os arguidos são acusados não admitem liberdade provisória e por isso os cinco irão ficar até ao fim do julgamento na prisão. Por outro lado, os familiares da Neth esperam que finalmente se faça justiça e desmentem aquilo que consideram inverdades. "Ela não passava fome em casa. Se olhar para ela, não parece que depende de alguém para poder sobreviver. Tem pai, mãe, família, nome, sobrenome e acredito que isto não corresponde à verdade", disse uma das irmãs aos jornalistas.

De acordo com um dos advogados que acompanha o caso desde o início, Miguel Catraio e as suas comparsas podem ser condenados com penas que vão de 8 a 12 anos de prisão maior. A próxima audiência está marcada para o dia 9 de Outubro de 2015, à mesma hora.