O País tem 30 espécies ameaçadas de extinção fundamentalmente devido aos efeitos da caça furtiva, entre mamíferos, aves, répteis e peixes, e reconhece oficialmente três espécies extintas, de acordo com a chamada Lista Vermelha das Espécies da Fauna e Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção (CITES) e da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB).
A chefe do departamento da Gestão da Biodiversidade do Ministério do Ambiente de Angola, Albertina Nzuzi, em declarações à Lusa, defendeu uma moldura penal menos branda no que respeita aos crimes ambientais.
"Muitos caçadores que vêm caçar nos limites do nosso país também vêm de países fronteiriços, porque a moldura penal nos países de origem é alta, enquanto em Angola é branda. Por isso, preferem caçar no nosso país", explicou, à margem da segunda reunião do Grupo de Peritos sobre a Implementação da Estratégia Africana para o Combate à Exploração e ao Comércio Ilegais da Fauna e da Flora Selvagens em África que decorre em Luanda até sexta-feira.
"Queríamos aqui apelar à harmonização de políticas a nível dos países da SADC, em relação à penalização de crimes ambientais", defendeu.
Segundo a responsável do departamento da Gestão da Biodiversidade do Ministério do Ambiente, "os traficantes que primam por abater as espécies da vida selvagem têm agora a tendência de deixar os elefantes e ir para espécies de pequeno porte, como o pangolim".
"Só nestas duas últimas semanas apreendemos quantidades enormes de escamas de pangolim, que está agora a ser vítima desses traficantes", explicou.
"Dos resultados das apreensões, neste momento, foram já inventariados 60 códigos de vários tipos de marfim e aproximadamente 1.000 quilogramas de escamas de pangolim, estamos ainda a compilar os números", concluiu.
Segundo Albertina Nzuzi, "a situação da caça furtiva no país é preocupante, numa altura em que, na sequência da "Lista Vermelha`, Angola continua a desenvolver estudos para apresentar dados mais específicos sobre outras espécies nesta condição".
"Os últimos dados viáveis que temos foram feitos nos anos 70 [do século XX]. Fruto disso, actualmente, o país leva a cabo uma série de investigações das espécies que envolve mapeamentos para termos dados credíveis", declarou à Lusa.
A "Lista Vermelha` é já retrato do levantamento daquelas espécies que achamos que devem estar em vias de extinção", disse Albertina Nzuzi , acrescentando: "Temos de as proteger e, por isso, ficam na lista vermelha para termos mais atenção a sua conservação e proteção", acrescentou.
Questionada pela Lusa sobre as medidas de fiscalização para inverter o "preocupante e alarmante quadro" da caça furtiva em Angola, Albertina Nzuzi defendeu a "harmonização de políticas penais" a nível dos países da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Já André Moda, secretário de Estado para as Florestas de Angola, durante a abertura da reunião que junta peritos sobre a aplicação da estratégia africana para o Combate à Exploração e ao Comércio Ilegais da Fauna e da Flora Selvagens em África, defendeu um "maior reforço e financiamento nos serviços de fiscalização e o controlo alargado as bases de actuação no além-fronteiras tendo em conta as bolsas residuais dos contrabandistas e a dimensão das fronteiras marítimas, terrestres e aeroportuárias".
Para o secretário de Estado para as Florestas de Angola, a delapidação da flora e fauna selvagens a que se assiste actualmente em África são perpetradas por pessoas coletivas e singulares de forma consciente e inconsciente sem pensar na sua manutenção e o País continua uma zona de transição para o tráfego ou comércio ilegal do marfim, corno de rinoceronte, escamas do pangolim, gorila e aves selvagens.
"E ficamos assustados com as quantidades confiscadas", declarou, lembrando que Angola elaborou e publicou vários instrumentos legais para travar a caça furtiva no país.
"Por isso, qualquer projeto de desenvolvimento e não só, deve ter em consideração a presença dessas normas e instrumentos legais nas diferentes zonas de implementação observando as medidas de mitigação dos impactos negativos", concluiu.
As escamas de pangolim são bastante valiosas, traficadas sobretudo npara vender na Ásia, onde um Kg chega a atingir os 500 dólares, para dar origem a afrodisíacos ou a fármacos para tratar a asma e a enxaqueca ou estimular a produção de leite numa mãe lactante, embora não haja, segundo os especialistas, nenhuma evidência científica para pressupor qualquer propriedade curativa das escamas do mamífero.