Os riscos que resultam do excesso de emissões de gases com efeito de estufa atingem toda a Humanidade, mas há um mapa onde aparecem em destaque as regiões do mundo mais expostas e a África Austral é uma dessas regiões, com o sul de Angola entre as zonas de maior perigo devido às secas extremas e às chuvas anormalmente intensas, nesta parte do continente. (ver links em baixo nesta página)
A notícias caíram como uma bomba nos media de todo o mundo. Os cientistas do mecanismo europeu de acompanhamento do clima, Copernicus, acabam de analisar os dados referentes a 2023 e não ficaram dúvidas por esclarecer: o ano passado bateu todos os recordes de temperatura deste que há registo: dos 1,5 graus de aquecimento máximo admitidos até 2100, 1,48 graus já foram atingidos.
Mas não é apenas essa a má notícia. O pior é que tudo indica que os próximos anos, incluindo este, de 2024, ainda vão ser piores, como, de resto, se percebe pelo facto de a última década ter sido de sucessivos anos mais quentes que os anteriores.
Para combater os efeitos devastadores das alterações climáticas, os cientistas de todo o mundo calcularam já há mais de uma década que a temperatura média global não pode subir mais de 1,5 graus neste século, o que parece cada vez mais impossível de conseguir, apesar dos sucessivos acordos a confirmarem o acordo de Paris de 2015, onde quase todos os países do mundo se comprometeram com metas específicas de descarbonização para o efeito.
Entre os emissores de gases nocivos, os hidrocarbonetos são o inimigo público nº 1 e a sua redução quase total como combustível do mundo tem de suceder até 2050 se a Humanidade tal como se conhece quiser ter uma hipótese, mesmo que remota, de ser viável no final do século XXI.
Para Angola, este assunto é uma faca de dois gumes, porque, se por um lado, tem a seu favor o facto de os países africanos estarem os que, em todo o mundo, menos contribuem para a tragédia que, como sublinha o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, se agigante perante os nossos olhos e a nossa inacção, muito por causa do seu atraso económico, por outro, Angola tem na exportação de petróleo uma ferramenta essencial para a sua economia.
Com 2030 como prazo reconhecido comummente entre as grandes organizações internacionais para conseguir diluir a importância dos hidrocarbonetos, que devem até essa meta ser substituídos em grande medida pelas energias renováveis, os países como Angola estão "condenados" a conseguir alternativas ao crude para balancear as suas economias neste espaço temporal, porque, como nota ainda Guterres, não há plano B e esse caminho é inevitável, porque se não for feito, não haverá planeta como o conhecemos hoje.
Até lá, como foi renovado pela Cimeira do Ambiente de finais de 2023 nos EAU, no Dubai, os países ricos, que foram quem mais beneficiou do crude e gás como motores das suas economias fortemente industrializadas, assumiram o compromisso de pagarem anualmente 100 mil milhões USD para ajudar os países mais pobres, e menos industrializados, a suportar a transição energética verde em curso no mundo.
E a divulgação de mais um recorde de temperaturas em 2023 não permite procrastinar na tarega global de substituir os combustíveis fósseis por energias limpas, como, nalguns países, especialmente os que dependem das exportações neste sector, parecem querer acreditar que ainda será possível, embora os maiores produtores, como os sauditas, estarem já em fases avançadas de diversificação económica, o que não é ainda a realidade angolana, apesar dos esforços dos últimos anos anunciados pelos Governos tanto de João Lourenço, como do seu antecessor, José Eduardo dos Santos.