Este caso, que já levou os principais partidos, MPLA e UNITA, a condenar a ausência de atendimento do HAB, e a pedirem uma resposta resoluta por partas das autoridades, políticas e policiais, marcou a actualidade nacional nesta semana, depois de o Novo Jornal ter feito a primeira notícia sobre a morte de João Soma, à porta desta unidade hospitalar.
Familiares do jovem dizem que pouco tempo antes, o rapaz foi espancado por afectivos do Serviço de Investigação Criminal (SIC), na zona do São Paulo, local onde exercia actividade como "roboteiro" (elementos que carregam mercadoria nos armazéns e mercados).
Ao Novo Jornal, o SIC negou categoricamente o envolvimento dos seus efectivos no espancamento da vítima, como descrevem os familiares, mas garantiu estar a investigar o caso para encontrar os alegados autores das agressões e garantir a sua responsabilização criminal.
A família contou com pormenor ao Novo Jornal o que se passou semanas antes com João Fernandes Soma, que veio a faleceu à porta do HAB na terça-feira.
Segundo o resultado da autópsia, que o Novo Jornal teve acesso, a mesma aponta para traumatismo craniano, tendo como base provável a agressão física, embora seja impossível de garantir a 100% que se tratou efectivamente de um ou mais golpes desferidos propositadamente por terceiros.
O traumatismo craniano é uma lesão no crânio geralmente provocada por uma pancada forte na cabeça, podendo causar sintomas como perda da consciência e/ou memória, confusão mental ou dor de cabeça e, em alguns casos, lesões cerebrais graves que, sem tratamento adequado, podem conduzir à morte.
Normalmente, o traumatismo craniano é causado por quedas e acidentes de diversas formas, incluindo as agressões físicas, mas também acidentes a praticar desporto, de viação, etc:.
Entretanto, após à entrega deste resultado, que o Novo Jornal, órgão que noticiou em primeira mão a morte do jovem, teve acesso, a família contou que João Fernandes Soma foi brutalmente espancado na passada quarta-feira, dia 13, por elementos do SIC após este ter riscado uma viatura, com o "carro de mão", transporte artesanal para a transportação de mercadorias nos mercados informais, na zona do São Paulo, onde o mesmo exercia a sua actividade como "roboteiro".
Mário Domingo, primo da vítima, contou que o jovem no exercício da sua actividade riscou uma viatura ligeira após se esquivar de um camião, quando foi autuado pela famosa "turma do apito", a brigada de vigilância civil que trabalha no distrito urbano do Sambizanga que acabou por apreender o "carro de mão" e exigiu que o mesmo pagasse uma quantia monetária para ser liberto.
Como a "turma do apito" não aceitava dar a "carro de mão", que por sinal era alugado pela vítima a outro cidadão, explica o primo, o mesmo informou o proprietário e juntos foram para lá resolver o problema.
Conta o primo que o proprietário não tinha dinheiro para dar em troca da cedência do "carro de mão" e recusou-se a deixar o carro nas mãos desta brigada de vigilância sem enquadramento legal.
"Como não lhe entregavam o `carro de mão" na turma do apito, o mesmo foi chamar os agentes do SIC", explicou.
Por sua vez, continuou, os efectivos do SIC receberam o "carro de mão" e pediram à vítima para que os acompanhasse à esquadra.
Depois, prosseguiu este familiar, o jovem João Fernandes Soma aproveitou para fugir e foi a casa explicar à sua mãe sobre o sucedido.
"Já não voltou, ficou em casa. No dia seguinte, isto na quinta-feira, 14, começou a sentir dores no corpo e a mãe foi ainda fazer reclamação junto dos elementos do SIC. Estes, por sua vez, disseram apenas para dar-lhe um comprimido para as dores".
No dia seguinte, isto já na sexta-feira,15, a vítima começou a queixar-se de fortes dores de cabeça e ter febre e, para a surpresa de todos, começou a tossir sangue, alternadamente até Domingo.
Como a febre aumentou, na madrugada de terça-feira, 19, levaram-no para o Hospital Américo Boavida, onde faleceu após lhe ser rejeitado o atendimento.
A direcção do HAB admite ter havido negligência médica na morte do Jovem na porta do hospital, e suspendeu o médico e todos os membros da equipa em serviço.
Realizada a autópsia, concluiu-se que a causa da morte do jovem João Fernandes Soma foi traumatismo craniano que corresponde à agressão física como provável causa.
Sobre este assunto, o Novo Jornal contactou a direcção geral do Serviço de Investigação Criminal e o superintende-chefe de investigação criminal, Manuel Halaiwa, director de comunicação institucional e imprensa do SIC-geral, contou que não houve nenhum agente envolvido nesse caso, mas assegurou que o SIC está a investigar para garantir a responsabilidade criminal dos autores das alegadas agressões.
João Fernandes Soma, residente no Sambizanga, vai a enterrar essa semana no Cemitério da Mulemba, também conhecido como Cemitério do 14.