Mas, se o leitor é um jovem de 20 anos, é você que, se nada de radicalmente diferente for feito nos próximos 20 anos, não terá condições para sobreviver no Planeta Terra devido à subida da temperatura média gerada pela poluição provocada integralmente pela acção humana nos últimos 200 anos.
As frases repetidas nos dois primeiros parágrafos podem ser aborrecidas de ler, mas o que nos espera enquanto espécie no futuro breve é muito pior, como tem, repetidamente repetido o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, de cada vez que os cientistas de todo o mundo se unem para lançar mais um alarmante aviso para a necessidade de acção urgente de forma a reduzir drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa que estão a transformar o Planeta Terra num forno onde a vida será insustentável muito, muito em breve.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), divulgado recentemente volta a colocar a ênfase na necessidade urgente de acção para fazer avançar a transição energética, retirando os combustíveis fósseis - petróleo, carvão, gás... - das nossas vidas, colocando no seu lugar as energias verdes, como a eólica, solar, hídrica, ou as mais promissoras mas ainda por provar a sua viabilidade, como o hidrogénio verde.
Na sua declaração sobre o resultado do relatório do IPCC, Guterres, que deve estar à beira de gastar todas as frases avassaladoras para alertar o mundo sobre o que espera a Humanidade ao virar da esquina do tempo, como aquela em que diz que estamos numa auto-estrada para o abismo com o acelerador a fundo, vem agora enfatizar que "o ritmo de aquecimento global é agora o mais alto nos últimos 2.000 anos e que é o Homem o único responsável pelos aumentos da temperatura nos derradeiros 200 anos".
Mas ainda encontrou mais uma frase com pico na ponta para nos alertar de novo, esta: "A Humanidade está sobre uma fina película de gelo que derrete rapidamente", para introduzir o assunto principal, que é a conclusão do relatório do IPCC, onde é mostrado que ainda é possível evitar um colapso catastrófico da tal "camada de gelo fino" que sustenta a espécie humana e a vida no Planeta Terra tal como a conhecemos.
Dizem os especialistas que elaboraram este documento que a crise climática pode ser reduzida de forma a evitar o pior, mesmo que já não seja possível evitar as consequências trágicas das alterações climáticas, como, de resto, já é visível, desde logo em África, com crescentes secas em intensidade e tempo de duração, que é já uma realidade no sul de Angola, por exemplo, ou cheias devastadoras e inesperadas, como sucedeu recentemente no Malawi e Moçambique, com um ciclone tropical que se manteve em actividade por mais de um mês, coisa que nunca tinha sucedido.
António Guterres demonstrou igualmente que é um criador de frases sonoras para nos advertir para o iminente colapso climático, ao mesmo tempo que atenua a dramaticidade deixando pontas soltas por onde se pode, ainda, desenvencilhar a tragédia em curso, informando que este documento realizado por dezenas de cientistas do clima "é um manual prático para desmontar a bomba ao retardador que ameaça o clima, é um guia para a sobrevivência da Humanidade".
Isto, porque os cientistas que assinam o texto admitem que é cada vez mais difícil mas ainda possível manter o aumento da temperatura do Planeta Terra abaixo do 1,5 graus até ao final do século.
É bom ter em conta que 1,5 graus de aumento da temperatura não é muito se se estiver a falar da temperatura da sala com ar condicionado ou quando se vai à praia, mas para o planeta, por cada grau que oscila a temperatura média, este exponencia-se em devastadoras secas, muitas vezes devido à alteração das correntes marítimas, como o prova o fenómeno do "El Nino", ou terríveis e destruidoras cheias, fogos florestais imparáveis ou descidas de temperatura anormais, como os nevões recentes no deserto do Saara... entre outros.
E, face a este cenário aterrador, porque é que não se move a Humanidade na direcção certa? Ninguém tem resposta para esta pergunta... e o que é ainda mais dramático é que não faltam sinais de que a situação é efectivamente grave.
Por exemplo, em Angola (ver links em baixo, nesta página), basta olhar para as cada vez mais graves secas nas províncias do sul, que se estendem já a regiões onde as secas são historicamente raras ou inexistentes, como o Huambo e o Bié... na "restante África Austral, basta ver como as secas dramáticas que se alongam da África do Sul ao Zimbabué e à Namíbia contracenam com as cheias imparáveis em Moçambique, África do Sul, Malawi ou Zimbabué...
Para já, nem se pode dizer que não se sabe o que fazer, porque, como comparação, na procura de curas para as doenças humanas, como as oncológicas, a ciência anda às aranhas para saber o que fazer, mas, para curar o Planeta Terra desta infecção maligna que é a poluição, todos sabemos o que é preciso fazer e como fazer.
Reduzir a quase zero até 2050 o consumo de combustíveis fósseis, de forma a manter a subida da temperatura global abaixo dos 1,5 graus, usar apenas plástico que se pode reciclar, repovoar as zonas em processo de desertificação, acabar com o abate de árvores nas florestas, especialmente nas tropicais, manter as zonas costeiras intactas e requalificar as que já estão danificadas... ou defender os oceanos das agressões constantes de forma a evitar o colapso da capacidade de multiplicação do fitoplâncton, que, ao contrário do que é comum pensar-se, é o que garante mais de 80% da transferência e acumulação benigna de CO2 da atmosfera nos oceanos e mares através da fotossíntese.
Mas isto não pode ser feito de igual modo por países ricos e pobres, porque os pobres ainda não estão em condições de deixar de consumir energia dos hidrocarbonetos para proporcionar um mínimo de condições às suas populações, enquanto os ricos estão apenas a acumular riqueza, quando comparado com o que se passa no resto do mundo... e têm incomparavelmente mais capacidade para agir que resulta do seu massivo uso de energia fóssil para produzir riqueza.
É por isso que o SG da ONU, António Guterres, pede que os dirigentes dos países desenvolvidos, incluindo os das suas companhias petrolíferas, para que se empenhem mais para atingir o objectivo de zero emissões com efeito de estufa no prazo o mais aproximado possível dos limites reconhecidos pelos cientistas, que é 2050 mais tardar e como consta do Acordo de Paris.
Talvez assim seja mais fácil de perceber
Talvez assim seja mais fácil perceber a situação limite em que a Humanidade se encontra: Se o leitor tem hoje 60 anos, os seus netos, se nada de radicalmente diferente for feito nos próximos 20 anos, não terão condições para sobreviver no Planeta Terra devido à subida da temperatura média gerada pela poluição provocada integralmente pela acção humana nos últimos 200 anos.
Mas, se o leitor é um jovem de 20 anos, é você que, se nada de radicalmente diferente for feito nos próximos 20 anos, não terá condições para sobreviver no Planeta Terra devido à subida da temperatura média gerada pela poluição provocada integralmente pela acção humana nos últimos 200 anos.