Durante a Cimeira do Clima em África, que decorre em Nairobi, capital do Quénia, a questão em foco é claramente a forma como vastas regiões africanas estão a ser devastadas pelos efeitos das alterações climáticas quando se sabe que todo o continente contribui apenas com 3 por cento da poluição global, sendo a grande vítima da industrialização e enriquecimento ocidental graças ao uso massivo de combustíveis fosseis derivados do petróleo e altamente poluentes.

Alguns exemplos conhecidos de todos são as secas prolongadas na África Oriental, ou na África Austral, incluindo o sul de Angola, ao mesmo tempo que cheias devastadoras varrem outras regiões, muito por influência do fenómeno do "el nino", como pode ver nos links abaixo nesta página.

A proposta de John Kerry não é nova, ou seja, a troca da capacidade africana de acumular carbono nas suas florestas e mares por dinheiro dos ricos ocidentais, porque essa mesma capacidade cresce proporcionalmente à incapacidade do continente de poluir devido à sua escassa industrialização que, por sua vez, leva a que África não transforme os seus vastos recursos naturais, deixando que sejam os países ricos a fazê-lo, o que lhes permite acumularem cada vez mais riqueza enquanto no continente se acumula... carbono.

A Lusa noticia que o secretário-geral da ONU disse em Nairobi que os países desenvolvidos devem "cumprir a promessa" de pagarem 100 mil milhões de dólares ano aos países em desenvolvimento como compensação climática e para os ajudar a resolver os problemas causados pelas alterações climáticas para as quais não contribuíram.

António Guterres exigiu esta terça-feira na Cimeira do Clima de África, que decorre em Nairobi, que os países desenvolvidos cumpram as suas promessas no combate à crise climática, que atinge desproporcionalmente o continente.

"Este continente emite apenas quatro por cento das emissões globais, mas sofre alguns dos piores efeitos do aumento das temperaturas globais: calor extremo, inundações implacáveis e dezenas de milhares de mortes devido a secas devastadoras", afirmou António Guterres no seu discurso de abertura no segundo dia da cimeira, coorganizada pelo Governo queniano e pela União Africana (UA).

O chefe da ONU afirmou que, mesmo assim, "ainda é possível evitar os piores efeitos" da crise climática, embora seja necessário um "salto qualitativo" na "ação climática" e mais "ambição", especialmente por parte dos países desenvolvidos, que devem reduzir as suas "emissões líquidas para perto de zero" até 2040.

"Acabou o aquecimento global. Começou a era da ebulição global", diz Guterres

"O sistema financeiro mundial tem de ser um aliado dos países em desenvolvimento na condução de uma transição ecológica justa e equitativa que não deixe ninguém para trás", acrescentou, antes de destacar o potencial de África para se tornar "um líder mundial em energias renováveis".

"A África possui 30% das reservas minerais essenciais para as tecnologias renováveis e de baixo carbono, como a energia solar, os veículos eléctricos e as baterias", recordou.

A abertura do segundo dia da cimeira, que decorre até esta quarta-feira, contou ainda com a presença do presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahammat, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, do Presidente do Quénia, William Ruto, do Presidente das Comores e chefe rotativo da UA, Azali Assoumani, e do primeiro-ministro egípcio, Mostafa Madbouly.

No final da cimeira, em que participam mais de vinte chefes de Estado e de Governo africanos (A vice-Presidente da República de Angola, Esperança da Costa, representa no encontro o Presidente João Lourenço), bem como líderes de organizações internacionais, espera-se que seja adoptada a chamada "Declaração de Nairobi", que procura articular uma posição africana comum a levar a diferentes fóruns mundiais.

Os líderes africanos querem construir uma perspectiva unificada que defenderão na cimeira do clima COP28 no Dubai, prevista para o final do ano, mas também na Assembleia Geral da ONU, e junto do G20 ou instituições financeiras internacionais.