A notícia é avançada pela Reuters, que refere uma carta de 7 de Outubro em que é confirmada a suspensão imediata dos programas da ONU na RDC, entre os quais os de resposta à Covid-19 e ao Ébola, num total de mais de 20,7 milhões de euros.

O órgão da União Europeia (UE) diz que esperou que "os parceiros tomassem medidas robustas para prevenir estes incidentes inaceitáveis", bem como "que actuassem com convicção nestas situações", por isso, "a Comissão suspendeu temporariamente os pagamentos e abster-se-á de dar novos financiamentos às actividades humanitárias da OMS na República Democrática do Congo".

Esta medida não afecta o financiamento de operações noutros locais, garante a Comissão Europeia.

Cerca de 83 trabalhadores, um quarto dos quais da OMS, não só da equipa local mas também da internacional, viram-se envolvidos num escândalo de exploração sexual e de abusos, denunciado por mais de 50 mulheres e raparigas entre os 13 e os 43 anos durante a epidemia do Ébola, entre 2018 e 2020, sendo que alguns dos alegados abusadores tinham como responsabilidade precisamente a prevenção da exploração sexual e de abusos.

A investigação, levada a cabo pela The New Humanitarian e pela Thomson Reuters Foundation, revelou que a maioria das mulheres alertou que os trabalhadores internacionais, normalmente homens, "propuseram ou forçaram-nas a ter sexo em troca de emprego, ou terminaram os seus contratos quando recusavam" estas condições.

Uma cópia da carta foi encaminhada para a Code Blue Campaign, um grupo que tem como objectivo acabar com a impunidade das ofensas sexuais cometidas por membros civis ou militares das Nações Unidas. O documento procura obter garantias de que "as vítimas foram protegidas e compensadas", assim como "detalhes do processo de recrutamento da OMS no Congo, incluindo a verificação de antecedentes", que a "OMS assegure que os alegados agressores não voltem a ser contratados pelas Nações Unidas ou outro grupo humanitário", e, por fim, que seja feita "uma revisão independente das responsabilidades individuais da OMS na negligência do tratamento das provas e alegações", refere a Reuters.

A OMS deve responder a estes pedidos num prazo de 30 dias, e a CE levará mais 30 dias a decidir se é feita a retoma do financiamento, ou se, por outro lado, os pagamentos ficarão suspensos por mais 30 dias.

Há uma semana, Tedros Adhanom Ghebreyesus prometeu que esta situação actuaria como "catalisador para uma profunda transformação na cultura da OMS", ao que o porta-voz da agência humanitária, Tarik Jasarevic, acrescentou que seriam realizadas "investigações a potenciais actos de negligência".

Paula Donovan, co-directora da Code Blue Campaign, denunciou que a OMS estava a falhar neste compromisso, representando "um gigante passo atrás": "A OMS está a tratar dezenas de crimes violentos alegadamente cometidos pelos seus próprios oficiais de topo e equipa como simples infracções nas regras da ONU. Se os governos permitirem que a ONU faça isto, haverá uma vitória sólida da sua impunidade", alertou.