O Governo iraniano é ainda o primeiro a registar a contaminação de um dos seus elementos de topo com o Covid-19, depois de o seu ministro-adjunto da Saúde, Iraj Harirchi, ter sido internado nas últimas horas devido a esta doença.
Nas últimas 48 horas, o Covid-19 ganhou uma dimensão global inusitada com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a alertar para evidência de que o novo coronavírus se vai transformar numa pandemia, com a Europa em "estado de sítio" depois de a Itália se confrontar com um surto violento que já fez mais de uma dezena de mortos e centenas de contágios confirmados e com a primeira cidade norte-americana, São Francisco, a declarar o estado de emergência para se preparar para a chegada daquele que é actualmente o "inimigo público nº1" em todo o mundo.
E nos EUA já é publicamente assumido que o país vai enfrentar um surto epidemiológico por Covid-19, tendo já deixado de ser uma questão de "se" para ser já uma questão de "quando".
"Em breve veremos uma dispersão importante do coronavírus no país, disse aos jornalistas Nancy Messonnier, do Centro de Controlo de Doenças (CDC, na sigla em inglês), acrescentando que "já não se trata de saber se, mas sim de quando" isso vai acontecer.
"E ainda saber quantas pessoas vão ter a doença" nos Estados Unidos, adiantou esta responsável pelo mais importante organismo de combate e prevenção de doenças infecciosas no mundo.
Tal como sucedeu com esta ainda oficialmente epidemia - foco concentrado essencialmente num país ou região - por opção da OMS mas já com todos os sinais de se tratar de uma pandemia - infecção que abrange vários continentes de forma grave e continuada -, o Irão, segundo admitem já alguns especialistas em saúde pública, estava a esconder a situação de contágios intramuros mas, com a sucessão de casos e a necessidade de ajuda externa, deixou de poder fazê-lo.
Tal como o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse na segunda-feira, o Covid-19 vai evoluir para todos os continentes e poucos países conseguirão manter-se incólumes à sua progressão.
Porém, no caso do Irão, com apenas 95 casos confirmados oficialmente, o número de mortos aparece fora das estatísticas apresentadas por outros países, onde a taxa de mortalidade é, segundo a OMS, de 2,1 por cento, à excepção da província chinesa de Hubei, onde tudo começou em Dezembro do ano passado, que chega aos 2,3, sendo naquele país do Médio Oriente superior a 16%, Quinze fatalidades para menos de 100 casos.
Apesar desta taxa de mortalidade suscitar dúvidas em muitos especialistas em saúde pública e virologistas, ainda não se fala na comunidade científica, pelo menos nos media, em qualquer mutação deste coronavírus, embora as autoridades chinesas tenham, logo nos primeiros dias de Janeiro, alertado para a inevitabilidade de ocorrerem mutações que poderiam alterar a acção do COvid-19, tornando-o mais letal e ou acelerando a sua capacidade de expansão.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, que tem dado a cara pela contenção que a OMS tem apresentado na forma como anuncia o estado deste coronavírus no mundo, evitando a designação de pandemia a todo o custo, apesar das evidências, já admite, porém, que o mundo vai ter de se preparar para um combate em todas as latitudes e longitudes porque o Covid-19 vai chegar a todo o lado, mantendo-se África como uma das grandes inquietações da OMS por causa da fragilidade dos seus sistemas de saúde nacionais e das condições precárias em que vivem milhões de pessoas em redor das grandes cidades africanas.
Com mais de 80 mil casos confirmados em todo o mundo, embora mais de 77 mil tenham surgido na China, e cerca de 2.700 mortos, com "apenas" cerca de 4 dezenas fora das fronteiras chinesas, em África apenas se conhece um caso, localizado no Egipto no início deste mês, tratado-se de um cidadão chinês acabado de regressar àquele país do norte do continente.
O vírus pelo continente
Em África, o único caso confirmado permanece limitado ao Egipto, onde , no início de Fevereiro, foi detectado um caso referente a um cidadão chinês chegado daquele país, o que permite ao director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS).
E África continua a ser um dos focos de atenção da OMS apoiando os países a estarem preparados para conter um eventual surto, seja pelo envio de kits que permitem diagnósticos rápidos, seja pela informação sobre como criar centros de quarentena e para o controlo das fronteiras.
Quarenta países no continente foram apoiados e equipados com material de uso pessoal, como fatos de protecção integral, minilaboratórios com capacidade de detectar precocemente os contágios eventuais por Covid-19.
A OMS declarou que 13 países, incluindo Angola, mas com destaque para o Egipto, a Argélia, Nigéria e a África do Sul, segundo um estudo da revista The Lancet, estão na linha da frente das preocupações por causa da intensidade das ligações a todos os níveis com a China.
Mas, como era o caso de Angola, até aqui a maioria dos países africanos viam-se na obrigação de enviar amostras de sangue para outros países, África do Sul ou Senegal, e esperar uma semana pelos resultados, enquanto agora esses testes são feitos localmente e os resultados são conseguidos em menos de 48 horas, graças ao envio de equipamento de laboratório pela OMS.
O vírus, o que é e o que fazer, sintomas
Estes vírus pertencem a uma família viral específica, a Coronaviridae, conhecida desde os anos de 1960, e afecta tanto humanos como animais, tendo sido responsável por duas pandemias de elevada gravidade, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), transmitida de dromedários para humanos, e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), transmitida de felinos para humanos, com início na China.
Inicialmente, esta doença era apenas transmitida de animais para humanos mas, com os vários surtos, alguns de pequena escala, este quadro evoluiu para um em que a transmissão ocorre de humano para humano, o que faz deste vírus muito mais perigoso, sendo um espirro, gotas de saliva, por mais minúsculas que sejam, ou tosse de indivíduos infectados o suficiente para uma contaminação.
Os sintomas associados a esta doença passam por febres altas, dificuldades em respirar, tosse, dores de garganta, o que faz deste quadro muito similar ao de uma gripe comum, podendo, no entanto, evoluir para formas graves de pneumonia e, nalguns casos, letais, especialmente em idosos, pessoas com o sistema imunitário fragilizado, doentes crónicos, etc.
O período de incubação médio é de 14 dias e durante o qual o vírus, ao contrário do que sucedeu com os outros surtos, tem a capacidade de transmissão durante a incubação, quando os indivíduos não apresentam sintomas, logo de mais complexo controlo.
A melhor forma de evitar este vírus, segundo os especialistas é não frequentar áreas de risco com muitas pessoas, não ir para espaços fechados e sem ventilação, usar máscara sanitária, lavar com frequência as mãos com desinfectante adequado, cobrir a boca e o nariz quando espirrar ou tossir, evitar o contacto com pessoas suspeitas de estarem doentes.