Esta variante surgiu na Índia há escassas semanas mas já está em 74 países e em África conta com forte dispersão na África do Sul e na Namíbia, mas quando se olha para o mapa que regista a sua progressão no mundo, esta parece que trava o passo na fronteira sul angolana porque não existem dados disponíveis, apenas a certeza de que o País já conta com as diversas variantes em circulação, como já foi admitido pelas autoridades sanitárias nacionais.

É a variante que demonstra, até hoje, desde que o Sars CoV-2 foi, pela primeira vez, detectado na China, em finais de 2019, maior capacidade de transmissibilidade e progressão, estando já em todos os continentes e em mais de 70 países.

Mas a sua forte progressão não é o pior. Os especialistas advertem para o facto de que a Delta tem ainda efeitos nocivos mais salientes e, apesar de ser já claro que a vacinação é uma defesa consistente face a esta estirpe, é ela que está por detrás da maior parte das situações mais preocupantes no mundo, com, nalguns casos, a voltarem receios de colapso dos sistemas nacionais de saúde.

Ou seja, a Delta é, ou vai ser muito em breve, a variante dominante em todo o mundo, como já fez saber a Organização Mundial de Saúde (OMS), o que foi um renovado mote para os alertas repetidos sobre a importância de vacinação das comunidades mais expostas, especialmente nos países com sistemas de saúde menos robustos, porque esta estirpe está por detrás de infecções mais agressivas e, sem a vacina, o risco de vida aumenta de forma que não pode ser negligenciada.

África, Europa, China, EUA, região do Pacífico são alguns dos locais do planeta que já estão na rota da Delta ou daquilo a que os cientistas já chamam de sub-divisões desta variante, cada uma delas com mais capacidade de progressão nas comunidades e com efeitos sempre mais indesejados nos indivíduos infectados e não vacinados.

Por exemplo, nos EUA, apesar de ser um dos países onde a vacinação corre melhor, a variante Delta dobra o número de casos a cada duas semanas, segundo o departamento local de controlo dos medicamentos, a FDA, e é já responsável por 10% de todas as infecções no país, enquanto no Reino Unido essa percentagem é de 90%. A África do Sul é um dos países onde a Delta tem mais casos confirmados.

Para já, em Angola, onde, porque a Namíbia é um dos países com a sua presença confirmada, esta variante também ocorre, embora não existam dados sobre a percentagem das infecções que provoca.

Mas os números de casos registados no País têm-se mantido diariamente na casa das centenas, sendo o último registo, referente a terça-feira, de 131 novos casos, com seis óbitos confirmados, de acordo com o boletim epidemiológico da Direcção Nacional de Saúde.

No total, o País conta com 36.921 casos, 842 mortos, 30,7 mil recuperados e pouco mais de 5 mil ainda activos.

No mundo, são já 176 milhões de onde resultaram mais de 3,1 milhões de mortes.

África, o continente exposto

Com raras excepções, os países africanos vão enfrentar a esperada 3ª vaga da pandemia da Covid-19, sendo altamente provável que esta tenha como protagonista a variante Delta, quase ou totalmente desprotegidos por falta da mais eficaz das armas para combater este inimigo invisível e letal que são as vacinas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) já advertiu para o risco de a humanidade perder esta batalha porque não ajudou a reforçar as "muralhas" em África.

Matshidiso Moeti, director regional da OMS-África lançou, há dias, um derradeiro alerta sobre o "real risco" de a 3ª vaga da pandemia chegar e apanhar o continente impreparado porque o fluxo de vacinas, nomeadamente no âmbito do mecanismo Covax, está perigosamente a abrandar.

Com um esforço considerado por muitos, incluindo o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, egoísta, aproveitando o seu músculo financeiro, os países ricos estão a açambarcar milhões de doses de que não carecem quando milhões de pessoas em países pobres, como em África, ou em partes da Ásia e da América Latina, simplesmente não têm a possibilidade de ser vacinadas.

Esta situação ocorre mesmo sabendo-se que deixar partes do mundo expostas à infecção, sem a "muralha" das vacinas, e estar a escavar um "túnel" por onde a pandemia poderá regressar aos países onde, devido às massivas campanhas de vacinação, está quase extinta ou em vias de assim suceder, através de eventuais mutações que permitam ao Sars CoV-2 contornar essa protecção.

A OMS-África está a alertar para um recrudescimento sério da pandemia em África, com 14 países a observar um crescimento importante no número de casos e em oito destes esse crescimento já atinge os 30 por cento em número de novas infecções, sendo as Seicheles um dos que observa maior crescimento, apesar de ter uma das mais largas percentagens de vacinação, o que pode indiciar que a vacina chinesa da Sinopharm, a mais usada no arquipélago, é pouco eficaz ou assim é para as novas variantes.

Isto, quando a entrega de vacinas no continente praticamente parou, e, ao mesmo tempo, nos países mais abonados, não só os grupos mais vulneráveis, idosos, pessoal hospitalar, forças de segurança, etc, estão todos imunizados, começam já a ser programadas vacinações em massa de jovens adolescentes e crianças quando esses grupos em África ainda aguardam, em muitos locais a 1ª dose em na generalidade ainda falta a 2ª dose.

Em Angola, mas não só, um dos problemas mais sérios é a resistência das populações à vacinação, como está, neste momento, a acontecer com os taxistas em Luanda, cuja adesão à campanha de imunização está a ser nula ou muito abaixo das expectativas.

De acordo com os cálculos da OMS-África, até ao momento, nos 54 países, foram recebidas apenas 50 milhões de doses através do mecanismo de partilha de vacinas Covax, apoiado pela ONU, quando o continente tem uma população acima dos 1,2 mil milhões.

Nalguns casos, os países com mais músculo financeiro estão a adquirir de forma autónoma doses adicionais, como é o caso de Angola, que tem em linha a compra de milhões de doses da russa Sputnik V, além de vacinas oferecidas no âmbito da cooperação bilateral, como é o caso do imunizante chinês da Sinopharm.

Os especialistas advertem para a possibilidade de uma 3ª vaga violenta em África, à semelhança do que sucedeu na Índia, onde, até à erupção de uma vaga altamente virulenta e letal há pouco mais de dois meses, gerada pela Delta, também se pensava que o problema estava sob controlo devido ao baixo número de infecções e mortes a ela associadas.

No entanto, até ao momento, o continente africano vive uma situação invejável com pouco mais de 2,5 por cento da totalidade de casos no planeta e menos de 4% do número de mortos, tendo atingido os 5 milhões de infecções e menos de 140 mil mortos.

Enquanto isso, o mundo registou até hoje, 16 de Junho de 2021, mais de 176 milhões de casos, quase 4 milhões de mortes, ao mesmo tempo que foram administradas 2,18 mil milhões de doses de vacinas.

Mas a Covid-19 não é apenas um problema de saúde grave para a qual as vacinas são a elhor resposta; esta pandemia é igualmente um dos mais sérios problemas económicos que o mudo já enfrentou ao ter gerado a pior crise em largas décadas, conduzindo centenas de milhões de pessoas para a pobreza extrema.

Em todo o mundo, segundo estudos recentes, mais de 130 milhões de pessoas entraram no universo da pobreza extrema, sendo África dos continentes mais afectados e a sub-região da África subsaariana uma das mais fustigadas pelos efeitos desta crise global.

O Centro de Pesquisas Pew, norte-americano, com sede em Washington, um dos mais importantes centros de produção de informação estatística do mundo, estima que, só na África subsaariana, mais 40 milhões de pessoas se tenham, em tempo de pandemia da Covid-19, juntado aos quase 500 milhões de pessoas que viviam em pobreza extrema.

A pandemia, para a qual a vacinação é a principal arma para a combater, está por detrás de um retrocesso gigantesco nas condições de vida das comunidades subsaarianas, sendo já evidente que uma recuperação mais célere poderá acontecer se estes países tiverem acesso às vacinas semelhante ao que sucede nos países mais desenvolvidos, onde a crise económica começa a ficar para trás.

Como o Novo Jornal noticiou aqui, antes do aparecimento das primeiras vacinas, a Covid-19 ainda pode revelar-se, apesar dessa possibilidade ser hoje mais pequena, como mais uma doença exclusivamente africana ou apenas encontrada em países pobres, como a malária ou a dengue, entre outras.