Quando recebia no aeroporto de Luanda meio milhão de vacinas da chinesa Sinopharm, de um pacote de 10 milhões autorizado pelo Presidente da República, Sílvia Lutucuta lembrou que a imunização garante que as pessoas, mesmo que contraiam o Sars CoV-2, não terão sintomas ou estes serão ligeiros, evitando quase totalmente hospitalizações e manifestações graves da doença.

A governante apelou ainda ao reforço das protecções individuais e colectivas porque o País está nesse momento a confrontar-se com uma 3ª vaga da pandemia e um aumento exponencial de casos da Covid-19.

"As pessoas vacinadas podem, eventualmente, ter Covid-19, mas vão ser assintomáticas ou com manifestações leves, mas que não chegam a ser casos graves, críticos ou levar a morte", concluiu Sílvia Lutucuta, citada pela Angop.

Este apelo de Lutucuta surge numa altura em que o País lida com novas regras quanto à necessidade de vacinação...

As novas regras

O acesso de trabalhadores não vacinados ao local de trabalho vai passar a depender da apresentação de um teste de despistagem da covid-19, com resultado negativo, custeado pelos próprios trabalhadores. Vai ainda passar a ser exigido um certificado de vacinação a viajantes e a candidatos à função pública.

As medidas constam de um aditamento ao decreto presidencial de 31 de Agosto, que actualizou as medidas de prevenção e controlo da covid-19, que entrou em vigor no dia 01 de Setembro, e foram anunciadas pelo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, Francisco Furtado.

Assim, a partir das 00:00 do dia 10 de Setembro, passou a ser "estritamente recomendada a imunização por via da vacina de profissionais dos sectores da saúde e educação, bem como das forças de defesa e segurança com vista a prevenir o contágio em massa", tal como a vacinação dos funcionários públicos e de todos os funcionários do sector privado, bem como cidadãos que se desloquem em viagens inter-provinciais, devendo estes ser dispensados do trabalho no dia da vacinação, excluindo-se da recomendação os menores de 18 anos.

Segundo o diploma, as entidades públicas e privadas competentes podem exigir a apresentação de testes SARS CoV-2 com resultado negativo como condição de acesso aos serviços, em casos em que os funcionários ou trabalhadores não estejam imunizados, sendo os testes custeados pelos cidadãos, disse o ministro.

Todos os cidadãos vacinados com dose completa podem já aceder a um certificado, emitido pelo Ministério da Saúde, em formato papel ou digital (ler aqui), que passa a ser obrigatório apresentar em concursos públicos de ingresso na administração pública, nomeadamente nos sectores da educação, saúde e forças de defesa e segurança, bem como nas viagens para o exterior do País, podendo ser substituído pelo comprovativo que ateste a toma de, pelo menos, uma dose.

Governo vai fazer sorteio mensal de electrodomésticos para vacinados

O Governo vai passar a sortear todos os meses um electrodoméstico para atribuir a pessoas vacinadas, para estimular a população a aderir à imunização como forma de protecção contra a covid-19.

A medida foi também anunciada pelo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República, e surge depois de, no dia 31 de agosto, o executivo ter anunciado que será atribuído um automóvel, sorteado aleatoriamente, entre todos os cidadãos que se vacinem até 31 de dezembro.

Segundo Francisco Furtado, o executivo aprovou também, no dia 2 de Setembro, a realização de um sorteio mensal de um electrodoméstico, em cada uma das províncias, a partir de agora, abrangendo todos os cidadãos já vacinados.

Angola conta com cerca de 2 milhões de vacinados, aproximadamente 2,9% da população, e adoptou no início deste mês novas medidas que visam a retoma gradual da actividade económica, com destaque para o fim da cerca sanitária em Luanda e da quarentena obrigatória para viajantes, que se mantinham desde Março do ano passado.

Tanto Francisco Furtado como a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, também presente na conferência de imprensa em Luanda, enfatizaram a necessidade de os cidadãos de vacinarem para se protegerem da covid-19 e evitarem uma terceira vaga da doença no país.

Sílvia Lutucuta lamentou que a adesão da população à vacinação esteja abaixo das metas, afirmando que os postos têm capacidade para vacinar 3.000 pessoas/dia e, em alguns casos, recebem menos de 1.000.

Combater o atraso africano em matéria de vacinação

O director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) voltou recentemente à carga com um pedido claro para que os países mais abastados e com elevados índices de vacinação da sua população não avancem para a 3ª dose da vacina para a Covid-19 antes de os mais pobres terem uma cobertura de imunizações satisfatória.

Tedros Adhanom Ghebreyesus lembrou, para justificar este renovado apelo, que o mundo não estará devidamente protegido contra uma eventual estirpe do Sars CoV-2 resistente às vacinas enquanto as campanhas de vacinação chegarem com sucesso aos quatro cantos do mundo.

Para isso, disse o médico, a fase da 3ª dose deve ser protelada para o final do ano de forma a permitir esbater a desigualdade no acesso à vacinação que é hoje evidente, havendo mesmo países com apenas 2 a 3% da sua população vacinada - como é o caso de Angola, com apenas 2,5% - enquanto outros já estão acima dos 90%.

Este pedido de Tedros Adhanom Ghebreyesus é ligeiramente diferente do anterior porque, ao invés de apontar para uma moratória até ao final de Setembro, agora aponta para o final do ano, visto que é urgente garanti que "cada país possa vacinar um mínimo de 40% da sua população".

O director-geral da OMS considera mesmo que é um desperdício de vacinas estar a imunizar pessoas saudáveis dos países ricos com uma terceira dose, porque estes absorveram até hoje mais de 80% dos 5,5 biliões de doses já administradas.

Este responsável que que cada país inserido no grupo dos mais atrasados nestes processo vacine até 10% da sua população até ao fim deste mês, 40% até ao fim do ano e 70% da população mundial esteja imunizada até meio de 2022.

"Nenhum dos países de baixo rendimento atingiu estes objectivos", atirou.

Começa a faltar tempo

Caso se confirme que os países mais avançados passam mesmo para a fase da administração generalizada da 3ª dose da vacina para a Covid-19, isso vai ter como efeito imediato um atraso ainda maior no continente africano nas suas campanhas de vacinação, que são já as menos abrangentes em todo o mundo.

O director do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC) disse mesmo, numa conferência de imprensa recente que os objectivos de conseguir chegar aos 70 por cento da população africana, perto de 1,3 mil milhões, dos quais apenas cerca de 3,5% foram vacinados co as duas doses, ficam bastante mais difíceis de atingir.

John Nkengasong, em tom crítico, sublinhou que não há qualquer evidência científica que aponta para a necessidade de aplicar uma 3ª dose em pessoas saudáveis quando ainda há milhões de pessoas nos países mais pobres que nem sequer iniciaram a sua imunização.