Sem autorização para reerguer as casas destruídas por militares, populares do Zango sentem-se desolados e exigem uma resposta das autoridades sobre o seu destino.

O Novo Jornal regressou, esta semana, à zona das demolições, onde constatou a ausência de militares e uma aparente acalmia para os moradores que, durante meses, tiveram de conviver com o barulho das máquinas demolidoras, tiroteios e um rol de barbaridades perpetrado pelos soldados. Os escombros estão bem presentes na zona do Guimbi, localidade do Zango 1: muros caídos e casas destruídas.

É um cenário de guerra o que se observa naquela zona de Luanda, onde há mais de dois meses ocorreram demolições de residências em massa, atribuídas à Zona Económica Especial, sob protecção de militares armados.

Foi naquela mesma zona que a equipa do Novo Jornal que tem vindo a acompanhar as demolições foi detida e torturada durante seis horas por homens armados que ali se encontravam destacados, tal como reportou este semanário na edição 447, de 2 de Setembro do corrente ano. Oliveira Cassegunda foi outra das vítimas.

Acompanhava a equipa do Novo Jornal e também sofreu as agruras dos maus-tratos infligidos pelos soldados. Presidente da comissão de moradores e 1.º secretário do Comité de Acção (CAP) 499 do MPLA no sector 68, Cassegunda lembra que, no dia em que foi torturado com os repórteres do NJ António Paulo e Adjali Paulo e o motorista Ramos Njila, teve de desembolsar 100 mil kwanzas para evitar que a sua casa fosse totalmente demolida.

"Primeiro, partiram o quintal, a varanda e a casa de banho. Depois da nossa detenção, regressaram comigo e pediram-me dinheiro para que a minha casa não fosse deitada abaixo por completo", pormenorizou o cidadão, que apela à intervenção do Presidente da República (PR) para que haja uma solução definitiva para o problema.

"Graças a Deus, estamos a viver uma certa acalmia. Mas não sabemos que fim darão ao nosso caso. A população constituiu um advogado que está a trabalhar no assunto, mas as autoridades, até ao momento, não dizem nada. Por isso, queremos que o PR diga alguma coisa para resolver o nosso problema", exprimiu o responsável comunitário, que estima em perto de 10 mil o número de famílias que viram as casas demolidas nos Zangos 1, 2, 3 e 4.

A esposa de Oliveira Cassegunda, Jocelina Noé, de 26 anos, não quer recordar o episódio vivido e apenas apela por justi- ça. "Aquilo foi horrível, parecia um filme de terror. Nunca vive situação igual. Os militares vinham armados com carros sem matrícula e faziam de tudo. Levaram o meu esposo como se fosse um bandido e depois partiram uma parte da nossa casa. Não há respeito pelos direitos humanos neste país. Isto está mal", lamentou a jovem, exibindo um rosto carregado de tristeza.

"Há três meses que a nossa vida está calma com a saída dos militares, mas vivemos numa tristeza porque estamos quase ao relento. Já não temos dinheiro para reconstruir o que partiram e, psicologicamente, estamos derrotados", lamentou Jocelina, acrescentando que, quando a sua casa foi parcialmente destruída, o seu filho contava apenas três meses de idade.

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