O Consulado do Brasil, através do seu Centro de Tratamento de Vistos, pede aos utentes, que reclamem e enviem para um endereço electrónico, mas, segundo os utentes, este canal não tem surtido efeito.

A Embaixada do Brasil diz que iniciou há três meses um processo de pedido de vistos por agendamento, depois de muitas reflexões para melhorar o serviço, mas admite que este processo é demorado. E que os utentes podem esperar até seis meses.

Diariamente são muitas as pessoas que procuram a embaixada para entregar cartas de reclamações, como confirmou esta quarta-feira, 14, o Novo Jornal, no Consulado e na Embaixada do Brasil em Luanda.

Segundo os utentes com quem o Novo Jornal conversou, e que há muito esperam pelo visto, o consulado deixou de emitir de forma oficial há três meses, alegadamente por problemas no sistema.

Entretanto, o Novo Jornal verificou que muitos cidadãos conseguem visto somente pelas vias não oficiais, isto é, com intermediários que, em menos de 48 dias, a troco de 500 a 600 mil kz, conseguem o visto.

Segundo os utentes, não se percebe como através de vias não oficiais se consegue visto, "pago a preço de ouro", mas no consulado e de forma oficial por agendamento não se consegue.

Outros cidadãos contaram que o problema da emissão de vistos para o Brasil existe desde finais de 2022.

"Dizem que tudo depende do agendamento no sistema, mas o facto é que o sistema está temporariamente fechado há dois mês e não há qualquer informação", descreveu ao Novo Jornal João Mário Pande, que em Abril último deu entrada da solicitação do visto.

Nzongo Timóteo Baia, outro cidadão com que o Novo jornal conversou no Consulado do Brasil em Luanda, disse que ele e a esposa estão há oito meses à espera do visto de turista para o Brasil.

"Os motivos para o atraso são desconhecidos, visto que estou há seis meses a solicitar esclarecimentos e não obtenho resposta", contou.

Nzongo Timóteo Baia, escritor, disse ter em mão um convite de viagem para a edição do seu livro no Brasil para o mês de Julho, mas não consegue ter o visto.

Outro cidadão, que pretende fazer uma consulta médica no Brasil, contou que mesmo marcando audiência com o cônsul geral do Brasil em Angola para resolução do seu problema, não conseguiu obter resposta satisfatória.

Como não quis esperar, o cidadão, que preferiu não ser identificado, revelou ao Novo Jornal que teve de recorrer a um intermediário, e, decorridos 40 dias, conseguiu o visto ao preço de 600 mil kwanzas.

"Eles dizem que não estão a emitir por falha no sistema ou por lentidão. Mas os intermediários e até mesmo os seguranças conseguem resolver o problema do visto. O visto aqui no Consulado do Brasil tornou-se um negócio", explicou.

Um estudante contou que está há seis meses à espera do visto e que já perdeu muito por não estar em terras brasileiras.

"Por favor nos digam o que se passa porque assim é demais ou então que nos devolvam os documentos. Se eu tivesse o meu passaporte comigo e pelos canais travessos eu conseguiria", realçou.

Sobre o assunto, o Novo Jornal contactou o Consulado assim como a Embaixada do Brasil para obter esclarecimentos. Rafael de Mello Vidal, o embaixador do Brasil em Angola, disse que há três meses o consulado iniciou um processo de pedido de visto por agendamento, por haver muitas enchentes, e de modo a organizar as filas, e que agora as pessoas devem esperar pelo visto em casa.

Segundo o diplomata, esta solicitação de visto por agendamento vai de facto demorar no máximo até seis meses.

O embaixador não avançou precisamente as razões da demora, mas salientou que aumentou significativamente o número de pedidos de visto todos os anos, desde 2019. E que esse número agora é de 40 mil pedidos.

Estamos a acabar com as filas no Centro de tratamento de Visto para o Brasil. Antes não havia agendamento e muitas pessoas ficavam horas nas filas à espera. Com agendamento a nossa intenção é que as filas sejam organizadas e que as pessoas fiquem em casa e só vão ao consulado no dia certo", explicou.

Segundo o embaixador, o pedido de agendamento irá demorar de facto até seis meses, no máximo, e que a intenção é acabar com os intermediários.

"Infelizmente, não temos o que fazer mais, pois recebemos, antes da pandemia da Covid-19, seis mil pedidos de visto, agora estamos a processar 40 mil vistos por ano", contou.