Como é o processo de construção de um aeroporto?

É extremamente difícil, porque envolve muitas valências. E o Ministério dos Transportes, atempadamente, criou o um gabinete [de que é coordenador], o Gabinete Operacional do Novo Aeroporto Internacional de Luanda (GONAIL), para coordenar a obra, devido à sua complexidade. Esse gabinete tem como missão principal coordenar as actividades relativas à construção, já que a operação tem outro gabinete, que vai operar transitoriamente e garantir que as condições operacionais do aeroporto são mantidas. No GONAIL, o que pretendemos é estar alinhados com o contrato, com a legislação angolana e internacional. Pois, há duas fases extremamente importantes: a primeira é a construção, e a segunda é o comissionamento, que consiste na verificação de que o que se construiu corresponde ao que foi projectado e contratado, executando-se um conjunto de testes para garantir que a performance das infra-estruturas correspondem à solicitação da performance feita pelo dono da obra. Aliás, costuma-se dizer que um comissionamento mal feito é cerca de 20% do custo da obra que vamos pagar no futuro em termos de manutenção.

Já agora, como caracteriza a obra que o PR vai inaugurar nesta sexta-feira, 10?

A obra que vamos entregar é certificada internacionalmente. Trata-se de uma infra-estrutura constituída por duas pistas paralelas, de 4.000 e 3.800 metros, dimensionadas para o A380 e para o Boing 777, com uma grande vantagem de ter dois taxiways paralelos, ou seja, o avião aterra e sai imediatamente. Uma das pistas tem um instrumento de apoio ILS de categoria dois, ou seja, permite que aterrem aviões com visibilidade de até 300 metros de distância. Para além disso, temos uma estação de radar... e importante que se diga: esta estação de radar é a primeira a ser instalada em Angola depois da Independência. Permite controlar o nosso espaço aéreo. Temos uma estação meteorológica com 400 quilómetros de alcance, que tem depois estações nas cabeceiras das pistas, para verificarmos fenómenos particulares que possam impactar no atraso dos aviões. E temos ainda um terminal de carga, que é, digamos, a nossa "jóia da coroa"; uma clínica, um terminal de passageiros e mais algumas infra-estruturas importantes que vão albergar Serviços de Migração, Polícia, etc...

Estes serviços não poderiam ser integrados no aeroporto que já funciona em Luanda, o 4 de Fevereiro?

Não faz sentido pensar assim!

Porquê?

Porque o radar, por exemplo, está no novo aeroporto, e a proximidade do radar e os técnicos que trabalham com radar são uma mais-valia, embora não seja fundamental ou obrigatória. Aí, no Icolo e Bengo, tivemos espaço para erguer as estruturas todas. Responda-me: se fosse no Aeroporto 4 de Fevereiro, onde construiríamos? Não temos espaço. Os aeroportos são os principais instrumentos que alavancam a economia de um País, por serem sítios de elevada concentração de pessoas e empresas. Repare uma coisa: ao fazermos um aeroporto num terreno que não tinha nada, surgiu a oportunidade de colocar lá a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) e a Empresa Nacional de Navegação Aérea (ENNA) a funcionarem no 4 de Fevereiro nuns contentores. Concentrando as empresas determinantes para as decisões pertinentes da aviação civil, é normal que todos os outros instrumentos assessórios, que dão, geram informação e precisam de manutenção e cuidados, estejam o mais próximo possível destas unidades.

Com as explicações que dá, deduz-se que não concorde com quem considere o Novo Aeroporto de Luanda um futuro "elefante branco"...

Primeiro problema: nós, em Angola, valorizamo-nos por dizer mal de alguma coisa, ou seja, você passa a ser uma pessoa escutada se diz mal de algo. Dizer mal de algo é até importante, mas é mais importante explicar/fundamentar as razões por que se diz mal. E você não encontra ninguém a dizer isso, as pessoas só dizem que o novo aeroporto vai ser um "elefante branco". O Novo Aeroporto, só em termos de custo de obra, isto é, só a parte da construção civil, custou 2,4 mil milhões de dólares. Em 2017, já tínhamos gasto 1,2 mil milhões de dólares, ou seja, 50% do valor. E aí, fomos postos perante duas possibilidades: ou desistimos da obra em que já tínhamos feito aquele investimento ou acabámos de construir o aeroporto. E essa era a primeira questão, porque os mil milhões já gastos custavam dinheiro em manutenção e segurança. O facto de a obra não estar terminada representava custos. É a mesma coisa que ter comprado metade de um carro e agora ponderar entre deitar fora as peças ou comprar a outra metade. Mas isso ainda não responde à sua questão na plenitude.

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