Até agora, as principais preocupações constantes dos cadernos reivindicativos apresentados em 2021 pelos respectivos sindicatos às entidades patronais caíram em saco roto. O Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA), assim como o Sindicato dos Professores do Ensino Superior (SINPES) e a Comissão de Instalação do Sindicato dos Funcionários do Tribunal Supremo (CISFJTS), acusam o Executivo de não querer ver resolvido os problemas.
Os médicos, os funcionários judiciais e os professores universitários das instituições públicas, estão em greve e pedem aumento salarial e melhorias de condições de trabalho. As entidades patronais garantem estarem a par da situação, mas, não apresentam aos sindicatos, soluções para pôr fim as greves.
No Ensino Superior a greve já dura há quase três meses e está sem fim à vista. Esta segunda-feira,21, os médicos e os funcionários do Tribunal Supremo paralisaram os trabalhos para reivindicarem os soluções para os problemas contidos nos respectivos cadernos reivindicativos há muito apresentados.
Algumas vozes da sociedade civil e da política acusam os sindicatos de estarem a fazer aproveitamento em função do ano eleitoral para pressionar o Executivo a satisfazer as exigências que estes apresentaram.
Ao Novo Jornal os sindicatos garantem que não estão a aproveitar-se do ano eleitoral para pressionar o Executivo, mas sim a exigir que se resolvam os problemas apresentados há anos.
O secretário-geral do Sindicato dos Professores do Ensino Superior, Eduardo Peres Alberto, disse que os professores são homens de ciências e não aproveitadores políticos.
Este responsável afirmou que os docentes universitários não querem ser cúmplices da má qualidade do ensino superior em Angola.
"O caderno reivindicativo do SINPES data de 2018 e, nesse ano, não havia eleições. A greve começou em Novembro de 2021 e o memorando de entendimento foi assinado no mesmo ano e não estávamos em ano de eleições. Porque é que desde 2018 não atenderam as reivindicações?", questiona o académico.
Segundo Eduardo Peres Alberto, o MESTIC é incapaz de responder ponto a ponto as exigências do caderno reivindicativo dos professores e "já mostrou ser incompetente no processo de negociações".
Conforme este sindicalista, até agora não há uma intenção do Executivo em colocar ponto final na greve dos professores.
O coordenador da Comissão de Instalação do Sindicato dos Funcionários do Tribunal Supremo, Domingos Feca, disse que a greve no TS tem razões que datam de há muito tempo e a mesma irá ocorrer nas datas acordadas pela assembleia dos trabalhadores, independentemente de coincidir ou não com o período eleitoral.
"A entidade patronal apresenta apenas justificações. Justificações estas com as quais não concordamos porque muita delas não fazem sentido. A instituição só se movimenta quando há greve", contou.
Em 2021, prossegue, começamos a enviar cartas para saber como estava o assunto do caderno reivindicativo e fomos advertindo que se não resolvessem o problema, iríamos paralisar os trabalhos.
"Sempre recebemos respostas negativas. Nunca nos disseram o quê que iam fazer por nós. Agora dizem que já bateram portas e que não há soluções e isso nós criticámos", disse o coordenador, assegurando que a greve continua.
Sobre a eventual possibilidade de se estar a fazer aproveitamento do ano eleitoral, o responsável pela Comissão de Instalação do Sindicato do TS disse não ser verdade porque nenhum sindicato inventa os problemas.
"Os problemas estão aí e existem! As organizações sindicais não reclamam nada que não exista e seja conhecido. A situação não é de agora, se estivéssemos a reclamar uma situação nova porque estamos no ano eleitoral faziam sentido os comentários que se levantam em torno disso. Mas não! Os problemas foram apresentados em 2017 e 2020 e nesses anos houve também greve e ninguém dizia isso", contou.
Pedro da Rosa, o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA), disse que a greve dos médicos foi suspensa em 2021 e que o sindicato deu mais 100 dias para negociarem, facto que o Executivo não atendeu.
Conforme Pedro Rosa, os médicos queixam-se, no entanto, de pouco ter sido feito, já que passado os 100 dias sobre a moratória apenas foi resolvido o primeiro ponto, relativo ao afastamento de Adriano Manuel, e parcialmente sobre a actualização da carreira médica.
"Os outros pontos não foram respondidos até agora. Os médicos não fazem políticas partidárias, se fizemos políticas são apenas políticas de saúde e nada mais", disse.
Pedro da Rosa assegurou que o problema dos médicos é antigo e nada tem a ver com o ano eleitoral, como alguns críticos apontam.
"Enquanto o Executivo não fizer aumento salarial, colocar medicamentos e melhorar as condições dos hospitais, não vamos parar de reclamar e de fazer greve", avançou.
Recentemente, o Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social (MAPTSS) assegurou que negoceiam com os sindicatos de vários sectores, para ajustar os salários da função pública e aumentar os subsídios reclamados pelos funcionários que são motivos de greves.
Segundo a ministra Teresa Dias, o Executivo pretende auscultar os diversos sindicatos para no final aumentar de forma justa os subsídios e salários da função pública.