O Novo Jornal esteve no local e constatou que há 16 famílias e mais de 20 jovens solteiros provenientes de diferentes municípios de Luanda a viver no que resta do antigo Hotel Panorama.

Dizem-se preocupados com o futuro, que já encaram sem tecto, especialmente desde que viram uma equipa de construção civil vedar o espaço exterior do hotel e perceberam que uma equipa de segurança foi colocada nas instalações para vigiar o local 24 sobre 24 horas.

André Francisco, de 27 anos, pai de uma criança e morador no que resta do hotel há 11 anos, disse que ele e mais alguns amigos saíram das casas dos pais para construírem as suas próprias famílias e não gostariam de voltar a depender dos seus pais, chamando com orgulho às ruínas do Panorama, a sua "casa".

O jovem contou ao Novo Jornal como é que a maior parte destas pessoas, que em breve serão desalojadas, ali foram parar: "Muitos trabalhavam e moravam no antigo mercado do Roque Santeiro e quando o espaço foi destruído ficaram sem casa", razão pela qual se mudaram para a ilha de Luanda "onde, em busca de um abrigo, encontraram o Hotel Panorama, que estava abandonado".

Já então era um espaço em ruínas e mal frequentado, mas, ainda assim, a ideia mais aproximada que conseguiram da sua "casa".

André, que falou em nome dos "hospedes" sem serviço de quarto do hotel, afirmou terem conhecimento que serão desalojados em breve, mas declarou que as famílias estão a pedir uma solução para terem onde morar à administração da Ingombota ou ao novo proprietário do hotel porque esta é a sua casa há tanto tempo que é como se estivessem a ser expulsos do que é seu por direito.

"Queremos que a administração da Ingombota ou o dono do hotel encontrem uma solução porque nós já estamos a morar aqui há muitos anos e temos filhos, alguns cresceram por entre estas paredes, e mulheres que precisam de uma casa", disse.

André acrescentou que alguns moradores do hotel vivem da pesca e outros da puxada de redes (auxiliar do pescador), e que, quando a movimentação no mar está fraca, recolhem objectos metálicos nos caixotes do lixo ou na via pública para pesarem a fim de conseguirem alguns kwanzas para tentarem sustentar as suas famílias.

"Fazemos alguns trabalhos de pesca, às vezes nas redes não sai nada, e, quando isso acontece, recolhemos algumas latas e ferros nas ruas, para conseguirmos qualquer coisa só para comermos", acrescentou.

O jovem João Maurício Mayamona, de 18 anos, juntou-se à conversa para pedir "desesperadamente" um apoio ao administrador da Ingombota, Paulo Furtado.

Ernesto Jamba é outro dos jovens que encontraram no hotel abandonado um abrigo. Tem 15 anos, reside ali há dois meses com o seu irmão, de 13 anos, ambos provenientes do distrito do Sambizanga, onde viviam com a sua mãe.

Diz que foi ali desaguar cansado das más condições de vida da sua família. Ernesto conta que foi obrigado a sair de casa para procurar um trabalho digno que lhe possibilite ganhar algum dinheiro e poder ajudar a mãe e os seus irmãos.

A Ilha de Luanda foi o local escolhido por Ernesto e o Hotel Panorama foi o melhor que encontrou para ele e o irmão terem um tecto. Após estarem instalados, saiu à rua à procura de trabalho, tornando-se puxador de redes.

Interrogado sobre o desalojamento dos moradores do hotel, por causa da reabilitação, o adolescente respondeu que está a par do assunto, e diz que quando os retirarem do espaço vai morar com os pescadores.

"Estou a ver muita movimentação aqui e ouvi dizer que vão reabilitar o hotel, vão tirar-nos daqui, eu vou ir viver com os pescadores", disse.

Mas antes, Ernesto vai levar o irmão de volta para a casa da mãe enquanto ele trabalha como puxador de redes.

O Hotel Panorama foi o principal hotel de Luanda. A falta de manutenção e os anos de guerra em Angola fizeram com que se fosse degradando.

O Panorama vai ser reabilitado e ampliado em breve pela Fundação Sagrada Esperança, que já colocou uma equipa de segurança no espaço e vedou por completo a área.