O título deste editorial teve como inspiração os pronunciamentos de um motorista que se mostrou bastante aborrecido pelas constantes interpelações de agentes reguladores de trânsito por questionarem o estado da sua viatura, declarando-a estar em mau estado técnico. Entrevistado pela TV Zimbo, há um ano, o homem justificou-se dizendo que, na verdade, não era a sua viatura e a dos seus colegas que estavam em mau estado técnico e, sim, o País. Para este motorista, o País é que está em mau estado técnico e a precisar de uma reparação urgente. A precisar de uma manutenção geral com mudança de algumas peças, uma intervenção bastante eficaz do seu mecânico e de uma condução prudente do seu motorista. Somos uma Nação que parece que se está a adiar, que os cidadãos se estão a "cancelar". Todas as semanas temos um escândalo social para nos animar e um rombo nas contas públicas para nos indignar. Parece que tudo falha ou demora a acertar. Faz-nos falta uma cultura de responsabilidade e de compromisso. A meta e objectivo é chegar lá, esperar a sua vez e tirar o que é seu. Começa a crescer o movimento de indignados contra a corrupção, o saque descarado e a ostentação. À maioria pedem-se sacrifícios, para apertar o cinto e há um pequeno grupo que usa da sua posição no aparelho do Estado para enriquecer, para lesar o Estado e os contribuintes, tudo feito com a maior falta de vergonha, arrogância e na total impunidade. As pessoas deixam de acreditar em quem devia liderar pelo exemplo, nas instituições, há quem se desanime, faz as malas e desiste disto, há quem ainda acredite que a avaria será superada e o País vai finalmente avançar. A promiscuidade, os esquemas, as "mixas" e o compadrio estão na moda.

O mau estado técnico vai deixar-nos avariados e sem hipóteses de recuperação. Há sempre pressa para piorar, para prejudicar, para adiar, para não ajudar a desenvolver, passando também por aquilo que se vai tornando uma necessidade imperiosa para que nada dê certo. Se não é a avaria técnica que nos priva da luz, é a avaria que nos priva da água, do sinal da televisão por satélite, da internet e até mesmo do jornal para ler.

Na semana passada, fomos informados pela gráfica que uma avaria técnica iria impedir a impressão do NJ. O NJ não esteve nas bancas por motivos alheios à nossa vontade. Esta semana, a redacção do jornal decidiu manter a mesma capa com ligeiras alterações em alguns dos seus destaques, permitindo aos nossos leitores, assinantes e anunciantes "jornalar" uma edição que não tiveram nas bancas. É a matéria sobre o Ministério da "Mixa", com novos desenvolvimentos sobre o caso de corrupção, gestão danosa, conflito de interesses e actos que visam lesar o Estado. Retomamos o caso com outros contornos, apresentamos aquele chamado pelas nossas fontes o "Quarteto Fantastico" do Ministério do Ambiente e as suas incursões nos esquemas em benefício próprio. Tivemos acesso a um relatório do Ministério do Ambiente sobre os três derrames ambientais de 2020 da empresa Total, a multa de 30 milhões de USD que lhe foi aplicada, as negociações para a sua redução e os mistérios em torno do pagamento ao Estado. O NJ apurou que a multa terá sido reduzida para metade do valor, ou seja, 15 milhões de USD e que após nova ronda negocial, o montante foi reduzido para 3 milhões de dólares, tendo alegadamente sido a coima "convertida" em responsabilidade social. O certo é que questionámos directa e objectivamente a empresa petrolífera, mas não obtivemos uma resposta directa e satisfatória. O certo em que em nome do interesse público e do direito à informação nada se diz e todos se calam. Ainda sobre o caso Ministério da "Mixa", o nosso jornal enviou para a edição passada um questionário que foi recebido, mas nunca respondido, fomos "ignorados com sucesso", pois segundo nos constou, o secretário de Estado do Ambiente, Iuri Santos, terá dito que "a mim ninguém dá prazos!".

É função do jornalismo escrutinar os poderes e ter visão crítica sobre os factos. A nossa agenda é o interesse público e a nobre missão de informar. Os servidores públicos têm maior responsabilidade, pois gerem coisa pública, devendo também compreender que devem ter responsabilidade e que podem também ser responsabilizados pelos seus actos. A ética da responsabilidade, o rigor, o sentido de Estado e o compromisso com a Nação. Não é o jornalismo que está do lado errado quando investiga, quando questiona, quando se afirma, quando não se compromete, quando não cede a pressões, a chantagens, a ameaças directas ou veladas, ou quando não se abala pelos recados enviados por entreposta pessoa. Precisamos de resgatar a confiança nas pessoas, nas instituições, no serviço público. Temos de alterar o quadro, de deixar de ser vistos e tidos como o País em mau estado técnico, como disse aquele motorista, País avariado e adiado. É possível mudar, é possível fazer bem e melhor. Vamos consertar o País.