Segundo explico u ao Novo Jornal fonte ligada aos censos, face ao volume dos dados recolhidos entre 16 e 31 de Maio, o INE precisa da participação de todos os peritos do país para organizar a informação por áreas. A necessidade de alargar a análise a profissionais que não integram a estrutura do INE conduziu ao lançamento de um atelier com especialistas nacionais, os quais, sob orientação de uma equipa designada pelo Gabinete do Censo, vão debruçar-se sobre os dados e elaborar relatórios temáticos.

O início deste trabalho multidisciplinar, cuja duração ainda não foi clarificada, está dependente da apresentação dos resultados preliminares, prometida para o mês passado, mas atrasada por tempo indeterminado. Enquanto os primeiros resultados não são conhecidos - e o INE continua sem esclarecer as causas do incumprimento do prazo definido -, a mobilização dos especialistas prossegue. Ainda estamos a verificar as candidaturas recebidas.

As inscrições dos peritos, efectuadas, exclusivamente via online, terminaram a 30 de Setembro, mas ainda é preciso fazer uma triagem, porque nem todos são admissíveis, esclareceu fonte do INE. Vamos fazer um filtro porque, por exemplo, temos candidatos que ainda não concluíram o ensino superior, o que é um factor de exclusão, continuou o responsável, acrescentando que nem só o canudo está sob escrutínio: Os escolhidos serão chamados para avaliarmos se têm perfil.

De acordo com o anúncio divulgado pelo INE, o trabalho dos futuros relatores terá como áreas de maior incidência a Demografia, a Educação, o Emprego, a Saúde, a Migração, as Pescas e Agricultura, a Habitação e Ambiente, as Condições do Agregado Familiar e a Juventude. Por isso, conforme se especificava na nota difundida pelo instituto, a preferência vai recair sobre profissionais com experiência de trabalho nos tópicos referidos, que, em conjunto, vão discutir os moldes em que o processo deverá ser organizado.

Nacionais ignorados

O timing do repto aos especialistas sugere que as necessidades não foram devidamente acauteladas, leitura descartada pela fonte do INE que falou ao NJ. Esta é uma actividade que envolve o país inteiro e entendemos que, por isso, todos devem colaborar, defende o interlocutor, sem esclarecer se os contributos sempre fizeram parte dos planos, ou se serão financeiramente compensados.

Oficialmente, o instituto limita-se a assinalar que em tempo oportuno prestará esclarecimentos a todos os órgãos de comunicação social. O silêncio deixa várias questões em aberto. Por exemplo: Se o INE reconhece a necessidade de mobilizar especialistas para elaborarem relatórios sectoriais, por que razão não procurou, desde logo, o apoio de peritos angolanos já com provas dadas nas diferentes temáticas? Sem resposta para a interrogação, o demógrafo e sociólogo João Lukombo salvaguarda que, como não foi envolvido directamente no processo, apenas pode comentar a opção na qualidade de especialista.

O INE fez um concurso para seleccionar técnicos para o Censo, tendo recrutado nomeadamente brasileiros e portugueses, mas pela especificidade dos dados obtidos, característicos da nossa sociedade, talvez tenha percebido que também é preciso recorrer a quem vive na terra para fazer as interpretações, analisa Lukombo.

Para o especialista, que tem na calha um livro sobre recenseamento populacional, o recurso a quadros exteriores ao INE é compreensível tendo em conta as carênciasnacionais de pessoal qualificado. Alguns países têm especialistas suficientes, mas esse não é o nosso caso, nota o também professor universitário, sublinhando que não há uma obrigatoriedade de limitar o processo de análise a funcionários do instituto. Cada país deve optar pelo método que mais se adequa à sua realidade.

Em Portugal, segundo esclarecimento prestado ao NJ por fonte do INE de Lisboa, apenas os resultados finais - e não os preliminares - são analisados por quadros exteriores ao instituto. Quando temos os dados definitivos faz-se uma análise com os técnicos do INE, embora também haja especialistas na área da Demografia, da Sociologia, da Família, etc, que interpretam a informação.

Essas pessoas são geralmente professores universitários e investigadores que de alguma forma já colaboram com o INE. Já no caso angolano, a avaliar pelos contactos realizados pelo NJ junto de académicos da Universidade Agostinho Neto, Escola Nacional de Administração e Instituto Superior de Ciências da Educação, a experiência de pesquisadores já tarimbados continua a ser ignorada.