Um morador nas imediações, João Amaro, contou ao Novo Jornal que este colapso do edifício já era esperado pelos moradores, que foram deixando os seus apartamentos à medida que as fissuras na estrutura se foram alargando.
Um dos moradores deste edifício, conhecido por Prédio 41, era o ministro da Indústria e Comércio, Victor Fernandes, que deixou o seu apartamento, no 1º anda deste prédio na sexta-feira, tendo sido um dos últimos a fazê-lo.
O prédio foi construído ainda no tempo colonial e os indícios de que estava em iminente risco de colapso começaram a surgir com mais intensidade há cerca de 15 dias, como explicou ainda ao Novo Jornal João Amaro, que vive num prédio mesmo à frente das agora ruínas do edifício de seis andares.
Uma avaliação técnica feita entretanto permitiu dar início a uma saída regrada dos moradores de forma a evitar uma tragédia.
Presente no local, o Governador de Luanda, Manuel Homem, já disse aos jornalistas presentes no local que vai realizar, mais tarde, ao longo do dia, uma conferência de imprensa, para actualizar as informações sobre este incidente.
Entre as dúvidas está a possibilidade, mesmo que remota, de que existam vítimas sob os escombros.
A Protecção Civil e Bombeiros garantiu que os edifícios mais próximos do que colapsou foram todos esvaziados por se considerar que apresentam riscos para os seus moradores.
No local estão dezenas de elementos da Protecção Civil e Bombeiros, além de agentes da Polícia Nacional, com o apoio de máquinas pesadas de várias construtoras, para facilitar o acesso às equipas de resgate da Protecção Civil e Bombeiros aos locais de mais difícil acesso e onde podem, embora não existam evidências disso, estar pessoas soterradas.
GPL explica
Entretanto, em comunicado à imprensa, o GPL avança que a causa do colapso do prédio, que ocupava os números 76 e 78 da Av. Comandante Valódia, foi o "esgotamento da capacidade de resistência dos elementos estruturantes do edifício".
Explica que neste edifício habitavam 18 famílias e era detido pelo Fundo de Investimento Imobiliário Fechado (FUNDINVEST), e garante que, depois de detectadas as anomalias, "foram tomadas as medidas para a imediata desocupação".
Confirma ainda que até ao momento, perto das 12:00, não existia qualquer indicação da existência de vítimas.
Porém, Igor Sousa, familiar de um dos moradores, disse ao Novo Jornal que momentos antes da queda do prédio, entraram pessoas para irem buscar, à última da hora, bens dos seus apartamentos, admitindo que entre três a cinco pessoas possam não ter conseguido sair a tempo.
Um problema estrutural da cidade de Luanda
Este episódio, que não apanhou de surpresa o Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros nem o Governo Provincial de Luanda, transporta para a actualidade uma questão antiga na cidade de Luanda, que é o estado de segurança dos prédios mais antigos, muitos deles construídos nas décadas de 1960 e 1970, durante o período colonial.
Segundo o porta-voz do SNPCB, existe um trabalho permanente de catalogação dos edifícios que apresentam risco de colapso, num trabalho que é feito entre este organismo e as comissões de moradores, proprietários e associações locais.
Um dos problemas mais conhecidos é resultado das alterações feitas pelos moradores nos edifícios, nomeadamente o acrescento de pisos sem acompanhamento técnico, quase sempre de forma ilegal, a colocação de equipamentos pesados, que adulteram o equilíbrio estrutural destes, como depósitos de água de grandes dimensões e geradores eléctricos.
Vários alertas têm sido produzidos por especialistas para a existência de centenas de prédios em Luanda cuja estrutura está há anos a ser desafiada na sua resistência, além do tempo que passa sobre os materiais, com o acrescento inapropriado de peso extra, na forma de novos compartimentos no terraço, ou outras alterações, para as quais o projecto inicial não previa resposta na sua sustentabilidade estrutural.
Solos fragilizados
Uma das razões para estes colapsos estruturais, como disse ao Novo Jornal um construtor civil, que já realizou vários trabalhos em edifícios antigos de Luanda, é que antigamente os esgotos eram feitos de tubagem galvanizada e hoje estão, quase todos, deteriorados, porosos, devido ao apodrecimento.
Isto faz com que as águas residuais estejam há décadas a esboroar os solos que sustentam estes prédios, deixando-os mais frágeis ano após ano, o que, acompanhado das alterações no edifício, como os acrescentos de pisos e colocação de peso extra no seu topo (geradores e depósitos de água, por exemplo), pressiona toda a estrutura até ao ponto de ruptura, como sucedeu com este.