A inexistência de sanitários "justifica" a presença permanente de fezes em vários locais, especialmente, os menos expostos, mas onde é mais evidente a sujidade é nos bancos que acompanham a marginal, outrora brancos, hoje castanhos de sujidade, e, sempre que acontecem espectáculos na Marginal de Luanda, as poças de vomitado obrigam quem por ali caminha a constantes desvios para não meter o pé onde não quer.
O Novo Jornal percorreu a Baía de Luanda esta terça-feira,26, e constatou que gradualmente a marginal vai perdendo o seu brilho, conversou com várias pessoas, sobretudo pedestres, e com cidadãos que ganham o seu "pão" trabalhado como fotógrafos e comerciantes naquele recinto que é também o principal cartaz da cidade de Luanda, que o "retrato" que todos fazem coincide com aquilo que os olhos encontram.
Mauro José, Adão Ramos e Fernando Epalanga, fotógrafos que há oito anos trabalham naquele local, disseram que agora a marginal virou "pocilga" e que muitas pessoas já deixaram de lá ir por não suportarem a sujidade e os maus cheiros permanentes ou a falta de segurança.
"Há fezes em muitos cantos, urina-se em quase todo o lado e o lixo abunda", contaram.
Adão Ramos explica que este triste cenário só ocorre por falta de vigilantes que outrora impediam tais práticas.
Mauro José lamenta o facto de muitos ministros, governadores e até mesmo de pessoas ligadas à Presidência de República fazerem caminhadas e corridas na Baía de Luanda nas condições em que se encontram e nada fazem para inverter o quadro degradantes e que tem piorado a cada dia que passa.
"Por estes dias está mais ou menos limpo.... acho ser devido às eleições, porque tem dias que fica pior e não há sequer um bom local para ficar sem ver lixo ou sentir cheiro nauseabundo", disse o também fotografo Fernando Epalanga, que acrescenta já er ouvido estrangeiros lamentarem este cenário.
Vários outros cidadãos com quem o Novo Jornal conversou sobre o triste cenário da Marginal de Luanda disseram que o Governo deve intervir rapidamente na boa manutenção da marginal para que ela volte a ter o brilho que teve nos anos anteriores e continue a servir de principal cartão de visita da capital.
O Novo Jornal constatou de que há jardins secos, plantas murchas, assentos e mesas públicas muito sujas e muitas palmeiras a precisarem de verem podados os ramos.
Os restaurantes que ali se encontram perdem lentamente clientes, alguns funcionários destes restaurantes lamentaram o facto de o espaço estar a perder a bonita imagem e asseguram que a falta de segurança no local também afugenta muitas pessoas, sobretudo cidadãos estrangeiros.
O proprietário de um dos estabelecimentos comerciais viu-se obrigado a mandar pintar os bancos situados nas imediações para ver se isso impede a acumulação de sujiodade e tem igualmente feito de forma particular a manutenção do jardim à volta por conta própria bem como garantir a segurança e o conforto aos seus clientes.
Os assaltos são comuns e enquanto o Novo Jornal estava no local, uma jovem, acompanhada de uma criança, foi assaltada por um grupo de jovens, ficando sem a sua sacola de ombro e uma caixa de pizas que adquiriu ali próximo para desfrutar na marginal...
"Não sabia que aqui a situação estava assim. Felizmente não levarem o dinheiro e o telemóvel", exclamou a jovem profundamente desanimada.
"Aqui agora é assim, já não se pode vir festejar como antigamente. Quando se trata de comida eles assaltam-te", contaram os fotógrafos com quem o Novo Jornal manteve conversa.
Alberto Pinto, de 25 anos, estudante universitário e residente no Bairro da Petrangol, contou que gosta de vir à Marginal de Luanda ler um livro e procurar sossego, mas lamenta o facto de a marginal se encontrar sem o brilho de antigamente, com pouca higiene e falta de segurança.
E há bandos de jovens que criam situações de desconforto, especialmente alguns mais velhos, adolescentes, que são mesmo responsáveis por alguns assaltos, embora também sejam às dezenas as crianças que por ali deambulam, muitas delas a mendigar.
Sobre o fraco policialmente na Marginal de Luanda, o comando municipal de Luanda da Polícia Nacional nega que exista e assegura que o patrulhamento é diário no local e tem mantido a ordem e a tranquilidade pública. Os cidadãos contam que já não encontram como era costume as patrulhas de bicicleta no local.
Uma fonte do comando provincial de Polícia Nacional em Luanda, que preferiu não ser identificado, contou ao Novo Jornal que esta brigada foi extinta mas não aceitou precisar as razões.
Sobre a responsabilização da manutenção e limpeza da Marginal de Luanda, o Novo Jornal contactou a Comissão Administrativa da Cidade de Luanda (CACL), que remeteu o assunto para o Governo Provincial de Luanda (GPL) e este por sua vez prometeu pronunciar-se oportunamente.
Localizado na Avenida 4 de Fevereiro, na baixa de Luanda, no distrito urbano da Ingombota, município de Luanda, a Marginal de Luanda, cujas águas são protegidas pela Ilha de Luanda, foi o lugar de fundação da cidade de Luanda pelo português Paulo Dias de Novais em 1575/1576.
A nova Marginal de Luanda foi reinaugurada em 2012 após obras de requalificação que duraram dois anos, foram conduzidas pela Mota-Engil e custaram aos cofres do Estado mais de 700 milhões de dólares.