O surgimento de ravinas em várias das centralidades que existem na periferia de Luanda, mas também nas restantes províncias, que por vezes afectam igualmente estradas ou linhas de caminhos-de-ferro, afectando a vida de milhares de pessoas, e gerado imagens como as recentes longas filas de recipientes para água proveniente de camiões no Sequele, repetem-se sem que se encontre uma solução definitiva quando esta parece relativamente fácil se concretizada logo no planeamento.

Porque o problema está identificado e passa por encontrar resposta ao nível da macrodrenagem que redireccione as águas das chuvas para áreas seguras que, normalmente, são os rios, o mar ou zonas criadas especificamente para o efeito, como descreveu ao Novo Jornal o engenheiro civil Angelino Kissonde (na foto).

"As centralidades foram concebidas no âmbito de parcerias em que a parte chinesa ficou apenas encarregue de fazer os edifícios, os arruamentos e todas as infra-estruturas. A parte angolana ficou de fazer todo o exterior incluindo a macrodrenagem, após a conclusão da parte chinesa, as centralidades foram habitadas e infelizmente a parte angolana não fez a sua parte como devia", contou o engenheiro.

Angelino Kissonde atestou que no caso em concreto das centralidades do Zango 5 e do Sequela as revinas só nos estão a dizer que temos que ter um sistema de macrodrenagem com urgência, um sistema que permita reencaminhar as águas das chuvas para uma área segura.

Segundo o engenheiro civil, a ravina é um processo de desagregação e descaracterização dos solos que são arrastados para zonas mais baixas através de um agente causador de erosão influenciador, que podem ser, principalmente, as águas das chuvas, dos rios, do mar, nas zonas marinhas e os ventos.

O especialista assegura que 99,9 por cento das ravinas em Angola são provocadas pelas águas das chuvas por não existir um sistema de grande escoamento das águas ou, quando existe, este seja deficiente ou desajustado.

A macrodrenagem é um sistema que envolve dispositivos de engenharia que colectam as águas das chuvas a partir das estradas, ruas, e dos quintais, através de colectores e galerias bem controladas que encaminham as águas por valas até ao mar, rios ou uma bacia de retenção.

"Em Angola, sobretudo em Luanda, as ravinas são facilitadas fruto das construções desordenadas e da ocupação das áreas de curso natural das das águas das chuvas (linhas de águas). Porque as águas das chuvas têm um movimento laminar e mudam de comportamento em função das obstruções que encontram e passam a ter um movimento turbulento" explica o engenheiro.

Esse movimento, prossegue, é um esforço adicional sobre os solos e quando encontram um solo desprotegido da cobertura vegetal, que pode ser relva, capim, árvores, e pequenos arbustos, dão surgimento aos fenómenos das ravinas.

Angelino Kissonde disse que as ravinas não começam com grandes dimensões, mas sim em pequenas dimensões que vão aumentando, com o tempo, até chegar a tamanhos que podem mesmo engolir prédios e estradas.

Segundo este engenheiro civil, a reparação de uma ravina em estado avançado pode custar um milhões de dólares mas quando as ravinas estão em fase inicial podem ser intervencionados com meios e equipamentos rudimentais, como árvores e plantas, a baixo custo. "Basta estar atento", avisa.

"A ciência mostra que as ravinas devem ser atacadas em tempo seco e na fase inicial do seu progresso. Infelizmente, em Angola só atacamos quando está já no seu estado avançado", lamentou.

Entretanto, Angelino Kissonde é de opinião que se crie de imediato um sistema de macrodrenagem para a Centralidade do Sequele que encaminhe as águas para o mar.

"A Centralidade do Zango 5 até está mais privilegiada que as outras por estar próximo do Rio Kwanza, em Calumbo. Precisa-se é fazer o canal", sugeriu.

Quanto à centralidade do Kilamba, o engenheiro civil explicou que apesar de não ter também o sistema de macrodrenagem, o Kilamba tem a vantagem de ter uma linha de água residual, nas proximidades que da aos moradores um alívio.

Na semana passada houve um alastramento das ravinas nas centralidades do Zango 5 e do Sequele que provocou o descolamento das condutas de transporte de água nas duas centralidades, provocando problemas de abastecimentos os milhares de habitantes destas áreas urbanas.

Em Janeiro deste ano, o Presidente da República, João Lourenço, autorizou uma verba de mais de 1,3 mil milhões Kz para a contenção e estabilização da ravina da Centralidade do Zango 5, no município de Viana.

A medida de João Lourenço surge depois da realização de várias visitas de inspecção ao local por especialistas do Governo Provincial de Luanda.

Segundo apurou o Novo Jornal, desde a aprovação da verba ainda não se realizou qualquer trabalho de intervenção nesta ravina.

Estão identificadas em todo o País um total de 826 ravinas. A província do Uíge é a que tem o maior número, 73. Já a capital Luanda tem identificadas 26, em estado de progressão acentuada.