Logo às primeiras horas do dia, avó Juliana Pedro caminha mais de dois quilómetros, saindo da sua residência, no bairro Mutamba, em Viana, para a Centralidade do Kilamba, município de Belas. Com os pés descalços e uma sacola cor branca presa à cintura, a anciã, de 82 anos, vai em busca de subsistência para ela e mais sete netos, numa actividade tão incomum quanto perigosa: desbravar a terra e, daí, recolher ferro para revender a empresas do ramo da reciclagem, que pagam com base no peso do material, com um quilo a custar menos de 100 kwanzas, o que obriga a que a recolha seja a maior possível, já que um saco de 25 quilos, por exemplo, está cotado em apenas quatro mil kwanzas.
O "local de trabalho" de Juliana Pedro, que partilha a penosa "profissão" com outras dezenas de mulheres e crianças, é uma zona onde funcionava o antigo estaleiro da empresa chinesa que ergueu a urbanização, no Quarteirão T da maior centralidade do País (Kilamba).
De corpo franzino, evidenciando um cansado provocado não só pelo peso da idade, mas também pelas dezenas de metais que levanta diariamente, avó Juliana, que é a mais velha do grupo, sem luva nem qualquer outro material protector, está, neste momento, a desenterrar um ferro deteriorado que, depois, levará para ser inspeccionado e, em função do seu peso, ser comprado. Já passam das 12h00, e a anciã ainda nada comeu.
"Fazemos isso porque temos fome e estamos à procura de sobrevivência. Senão, os seus irmãos não comem", diz a anciã, tomando a repórter como também uma neta.
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