As demolições foram travadas no ano passado, supostamente pelo governador de Luanda Higino Carneiro, que no mês de Outubro rompeu as barreiras dos militares destacados na zona das demolições, de acordo com relatos de populares, reportados por este semanário em edições anteriores.

No "Zango das demolições", os militares não permitiam a entrada de quem quer que fosse. Até o provedor de justiça foi barrado, quando pretendia visitar aquela zona, onde, durante meses, populares tiveram de conviver com o barulho das máquinas demolidoras, tiroteios e um número infindo de acções contra as populações praticadas pelos soldados.

Com a interrupção das demolições e a retirada dos soldados das Forças Armadas Angolanas, muitos moradores começaram já a regressar aos terrenos demolidos, onde dizem estar a observar alguma calma. Porém, reclamam por desconhecer o destino que o futuro lhes reserva, ao mesmo tempo que receiam o regresso das máquinas a qualquer instante.

José Manaca, de 57 anos de idade, residente na zona há 16 anos, viu a sua casa parcialmente destruída pelos militares num dia, que segundo contou, se encontrava ausente da mesma. "Tinha saído e quando voltei encontrei as paredes do quintal demolidas; as crianças disseram-me que tinham sido as tropas. No dia seguinte regressaram com tractores e pediram-me para retirar as coisas a fim de terminar a destruição da casa. Eu implorei e o chefe do grupo mostrou compaixão evitando a destruição na altura. Com a morte do Rufino e todas aquelas confusões, as demolições pararam e continuamos aqui", relatou.

José Manaca também não sabe o que o destino lhe reserva, mas assegura que a saída dos militares deixou a zona sossegada. "Vivemos quase ao relento, casas sem quintais, outras destruídas por completo e ninguém resolve o nosso problema", queixou-se o homem.

Sebastiana Fernandes, de 57 anos de idade, contou que vive na zona desde 1981. A cidadã que reside numa casa de chapa afiançou que a sua residência não foi destruída pelos militares que tinham apenas as atenções viradas para construções definitivas. "Mas assisti a tudo. Foram dias de terror. Os militares armados roubaram materiais de construção e cobraram dinheiro para não partir casas, bateram nas pessoas, violavam mulheres e mataram um menino. Aqui ninguém mais dormia. Foi muito triste e revoltante. Agora, estamos à espera da decisão do governo se saí- mos daqui ou não. O que nós queremos é só paz", apelou a munícipe.

Perto de 10 mil casas demolidas

Sem autorização para reerguerem as casas destruídas por militares, os populares do Zango sentem-se desolados e exigem uma resposta das autoridades sobre o seu futuro. Foi naquela região que a equipa do Novo Jornal que tem vindo a acompanhar as demolições foi torturada e detida durante cerca de seis horas por militares armados que ali se encontravam destacados, tal como reportou este jornal, na edi- ção 447, de 2 de Setembro do ano passado.

(Esta reportagem está integralmente na edição nº 464 do Novo Jornal, nas bancas, ou em digital, que pode pagar via Multicaixa)