"Partilhem este vídeo sem parar, estamos a passar fome, os chineses estão a lutar por comida, imaginem nós", diz uma jovem em nome do grupo de estudantes angolanos na cidade de Wuhan.
A cidade de Wuhan, na província de Hubei, no centro da China, com 11 milhões de habitantes, está em quarentena, tal como outras três cidades nesta região, para travar a dispersão do vírus que já fez cerca de 100 mortos e mais de 3.000 casos confirmados oficialmente.
Ninguém sai e ninguém entra nesta cidade e a comida disponível nos mercados, como confirma esta jovem que dá a cara pelo vídeo que corre nas redes sociais, "desapareceu" e já nem máscaras existem à venda para que possam sair à rua sem correr o risco de serem contaminados.
Face a este cenário dramático, onde outros países estão a enviar aviões para recolher os seus cidadãos nacionais ou a procurar juntar esforços com esse objectivo, especialmente aqueles países com poucas dezenas de cidadãos nesta cidade, como é o caso de Angola, que ali tem "apenas" 25 estudantes e que poderão sair num aparelho fretado por mais de um país.
Tal como os estudantes angolanos, também os namibianos que se encontram nesta cidade estão a pedir ao Governo de Windhoek que frete um avião para os evacuar, sendo possível perceber através da imprensa namibiana que as queixas são semelhantes, incluindo a dificuldade em encontrar alimentos.
Existem mesmo mensagens trocadas nas redes sociais onde é proposto que os governos de países vizinhos se organizem para a evacuação conjunta dos seus cidadãos.
"As embaixadas de outros países estão a dar apoio... a nós nada... onde está a nossa embaixada?, onde está o nosso consulado?, apenas recebemos uma mensagem a dizer para fazermos o que os chineses fazem... para seguirmos as regras...", diz ainda a jovem neste vídeo.
"Quando é que nos vão ajudar? Quando morrermos vão querer carregar os nossos corpos...? Se aqui estivesse o filho de uma pessoa importante, já tinham resolvido...", lamenta ainda a mesma estudante.
O NJOnline já pediu ao Ministério das Relações Exteriores um comentário sobre a situação descrita pelos estudantes na cidade de Wuhan, que é semelhante a centenas de outros colocados noutras cidades. Esta notícia será actualizada logo que a resposta do MIREX chegar à nossa redacção.
Até ao momento, segundo o Ministério da Saúde, não existe informação de que algum dos estudantes angolanos na China tenha sido contaminado com este coronavírus, que foi descoberto em Dezembro, num mercado de produtos alimentares em Wuhan.
Os coronavírus distinguem-se dos demais pela sua acção no sistema respiratório, sendo responsáveis desde simples constipações a letais pneumonias, como foi o caso da pandemia do Síndrome Respiratório Agudo Grave (SARS), que começou em 2002 na China e fez mais de 750 mortos e milhares de infectados em todo o mundo, ou ainda o MERS, do mesmo género, mas que surgiu no Médio Oriente, em 2012, tendo feito dezenas de mortos antes de ser debelado.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda não lançou um alerta global mas considera que se trata de uma emergência grave chinesa, aconselhando, todavia, os países a adoptarem as medidas adequadas aos seus casos.
Em Angola estão a ser tomadas medidas nas fronteiras, especialmente através da medição da temperatura de quem chega ao país para despistar sintomas.
Esta situação pode ser um problema substancialmente mais grave para os países com fortes comunidades chinesas, como é o caso de Angola, onde residem cerca de 250 mil chinesas de forma permanente, sendo que muitos destes foram ao seu país natal para as festividades do Ano Novo Lunar, a maior festa chinesa e a maior migração voluntária em todo o mundo, com milhões de pessoas a percorrerem milhares de quilómetros em escassos dias.
As autoridades chinesas já alertaram para a possibilidade de o vírus sofrer mutações genéticas à medida de se dispersa pelo mundo, o que tornará mais complexa a sua irradicação.