Segundo a notícia, os experts do Ministério do Comércio dizem que Angola não produz, em volume suficiente, nenhum produto da cesta básica, o que não deixa de ser verdade. Contudo, o que esses experts parecem negligenciar é que a única forma de Angola deixar de importar o que consome, num contexto em que as Reservas Internacionais Líquidas estão a um nível baixo, é através do aumento da produtividade no sector produtivo (Agricultura e Indústria).

Dados do Conselho Nacional de Carregadores (CNC) indicam que sete dos dez produtos mais importados, no 1º semestre de 2017, são do ramo alimentar o que faz do fomento da produção alimentar uma prioridade.

Um processo de produção interna bem articulado deveria permitir a Angola, tendo como base os dados do CNC, mudar esse quadro a médio prazo. Por outras palavras, da lista dos produtos mais importados o Executivo angolano deveria elaborar um plano de acção concreto para retirar dela os produtos alimentares. Para que tal seja possível é necessário um aumento da produtividade no sector agrícola, através de um upgrade na tecnologia usada, melhoria na infra-estrutura básica (estradas, acesso a luz eléctrica), criação de sistemas de irrigação e disponibilização de insumos (sementes melhoradas, fertilizantes).

De facto, Hayami & Ruttan (1971) explicam que o sector agrícola de um país só se desenvolve com a presença de um subsector industrial capaz de fornecer os inputs necessários (desde equipamentos aos insumos já mencionados).

Levando avante a criação desta Reserva Estratégica Alimentar, o Executivo angolano poderia criar um estímulo para que se crie um círculo virtuoso, fazendo surgir empregos a montante, por exemplo, nas explorações agrícolas e no subsector da indústria de produção de equipamentos agrícolas e serviços especializados, e a jusante criar-se-iam empregos na indústria de produção alimentar, satisfazendo-se assim a demanda intersectorial desejada num contexto de fraca disponibilidade de divisas como é o actual momento que Angola vive.

Apresentada desta forma compreende-se que a Reserva Estratégica Alimentar do Estado não deveria servir apenas para ajudar a controlar os preços dos produtos da cesta básica. Ela tem o potencial de desafiar os actuais produtores nacionais a aumentarem a produção, encorajar a entrada de novos actores, nacionais e estrangeiros, bem como de incentivar o sector bancário local a financiar projectos que visem satisfazer a demanda gerada e desta forma tornar sustentável essa proposta do Executivo.

Enfim, essa visão vai exigir que o Executivo, a sair das próximas eleições, adopte uma mudança de paradigma, começando, por exemplo, a desencorajar a compra de produtos alimentares no exterior i.e. corrigindo o que está mal, e desafiando os produtores nacionais. Está lançado o desafio!

*Docente e investigador no Centro de Investigação Social e Económica da Faculdade de Economia, da Universidade Agostinho Neto