A Bacia do Okavango, que tem a maior parte da sua extensão em território da Namíbia e do Botsuana, mas que também de estende para Angola, Zimbabué e Zâmbia e África do Sul, é apontada como local, especialmente na área geográfica limitada pelo território namibiano, de grande potencial para a exploração comercial de hidrocarbonetos, havendo mesmo estudos em curso que o demonstram de forma clara.
Mas a especial importância desta região, de grande fragilidade ambiental, só é igualável à urgência de a salvaguardar porque dela dependem não só extensas comunidades humanas mas essencialmente milhares de espécies da fauna e da flora africanas, muitas delas únicas no mundo, alimentada pelo Rio Okavango, que é recebedor de vários efluentes com origem e nascentes no Planalto Central de Angola.
E essa fragilidade ambiental pode mesmo levar a que as perfurações e futura exploração de hidrocarbonetos na região do Okavango seja protelada - organismos locais e internacionais de defesa do ambiente estão empenhados nisso - até que a sua extracção comercial se torne inútil ou pouco atractiva devido à revolução que o mundo vive para combater as alterações climáticas que estão a ameaçar o planeta Terra e a sustentabilidade da vida tal como a conhecemos.
O avanço das máquinas
Para já, o que se sabe é que a ReconAfrica, uma empresa de média dimensão, conseguiu iniciar a pesquisa numa área de 35 mil quilómetros quadrados no coração do Okavango onde estima, de acordo com dados divulgados na sua página oficial, estarem depositados milhões de barris de petróleo de grande qualidade e tem planeado o início das perfurações para Dezembro deste ano.
As perfurações estão planeadas para uma área considerada de enorme sensibilidade ambiental, localizada na área de influência e protegida por ser essencial para a escorrência das águas oriundas do norte, Angola, para o Delta do Okavango, já dentro da área de conservação transfronteiriça Okavango-Zambeze de que Angola faz parte, ocupando cerca de 35 mil km"s 2 entre a Namíbia e o Botsuana.
Tanto os governos de Windhoek como de Gaborone deram já oficialmente autorização para a pesquisa a esta empresa com inscrição em bolsa no Canadá, tendo a ReconAfrica admiido já que se trata de uma das maiores reservas onshore - em terra - de todo o mundo, ultrapassando mesmo uma das que é das mais conhecidas pelas suas imensas reservas, a de Eagle Ford, no Texas, EUA, que as autoridades norte-americanas consideram ser a maior em todo o mundo, incluindo petróleo e gás.
Porém, os riscos ambientais são de igual tamanho, sendo que o impacto que a exploração de hidrocarbonetos onshore na Bacia do Okavango-Zambeze não tem paralelo com a exploração no sul dos EUA, porque em causa está uma das mais importantes áreas naturais protegidas de todo o mundo.
Uma organização internacional de cientistas, denominada União dos Cientistas Preocupados, emitiu um sério aviso para os riscos «, considerando que são "massivos" e que podem colocar mesmo em dissolução a prazo de todo o complexo natural do Okavango-Zambeze.
Em causa está a tecnologia normalmente usada na extracção de crude e gás em terra, conhecida por fracking, que consiste, em síntese, na injecção de água e químicos altamente corrosivos no subsolo, implodindo a rocha para dela sugar hidrocarbonetos, como sucede em grande dimensão nos Estados Unidos gerando sérios problemas no ar respirável, na água dos lençóis freáticos e na vida e flora selvagens, havendo registos confirmados de um grande aumento de doenças cancerígenas entre as populações humanas.
Para além das áreas naturais, parques naturais, pelo menos uma considerada como património da humanidade, denominada Tsodilo Hills, no Botsuana, está ameaçada por estes planos para extracção de crude e gás, estando ainda em causa a comunidade San, a mais antiga comunidade humana na África Austral, a única que não tem origem Bantu, que já se encontra fortemente ameaçada devido ao "progresso".
Nada parece poder travar os buldozers
Num artigo publicado no site OIlPrice, Sarah Jennings sublinha que três dos mais proeminentes geólogos, geoquímicos e perfuradores em todo o mundo admitem e concordam é que o projecto existente para a Bacia do Okavango pode muito bem ser a última grande descoberta de hidrocarbonetos onshore.
Isto, porque, para além da revolução verde em curso em todo o mundo, que tende a substituir a energia fóssil por energia verde, seja a eólica, a hídrica ou solar, não são conhecidos quaisquer registos no planeta da existência de reservas importantes onshore, incluindo a Nigéria e Angola, o 1º e o 2º maiores produtores africanos, considerando a autora estes dois países como estando mergulhados num composto tóxico de desastres ambientais, corrupção e excesso de taxas, enquanto a Namíbia nunca produziu um único barril de crude.
E o problema é que as estimativas existentes apontam para a possibilidade de o Okavango ser reservatório natural de mais de 120 mil milhões de barris de petróleo, um número de tal modo gigante que só um esforço global de associações defensoras do ambiente e a ONU poderá evitar este desastre ambiental em curso.
Como comparação, para mensurar a importância destas alegadas reservas, Angola tem comprovadas menos de 8 mil milhões de barris, a Nigéria cerca de 36 milhões e os EUA não chegam sequer aos 38 mil milhões de barris, sendo que o país com mais reservas provadas é a Venezuela, como cerca de 300 mil milhões enquanto a Arábia Saudita tem pouco mais de 260 mil milhões de barris em reservas testadas.
Bill Cathey, geólogo conhecido mundialmente e presidente do Earthfield Technologies, em Houston, Texas, disse, citado pelo OilPrice, que não existe em lado nenhum do mundo uma bacia sedimentar com esta dimensão sem estar a produzir um único barril de crude.
Contra-ataque ambiental
Aparentemente, este projecto de perfuração está a ser conduzido com secretismo na Namíbia e no Botsuana, sendo a informação mais detalhada aquela que foi fornecida pela empresa canadiana ReconAfrica.
Citado pelo The Namibian, Chris Brown, que lidera a Câmara Namibiana do Ambiente, já eio a terreiro dizer que não sabe de nada sobre o potencial deste campo petrolífero, sublinhando que já tentou e nem sequer nas organizações não-governamentais existe informação sobre este projecto, apesar de a legislação exigir um claramente maior escrutínio.
"É urgente proceder a uma consulta pública e não existe nenhum indício de que isso possa estar a ser preparado", disse, quando se sabe que a própria empresa canadiana que vai perfurar o Okavango já apontou Dezembro como o mês em que vai começar a trabalhar.
Na Namíbia, a generalidade das organizações e associações ambientais e não só têm dito a uma só voz que este projecto exige outro tipo de atitude do Governo do Presidente Hage Geingob pelo impacto brutal que vai ter na comunidade e, particularmente, no ambiente, estando em causa o interesse de vários países na região austral do continente africano.