Nas últimas quatro semanas, o barril de Brent, referência principal para as ramas exportadas por Angola, actualmente perto dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), tem oscilado ligeiramente em baixa a partir dos 79 USD a 20 de Janeiro para os actuais 75 USD.

Perto das 14:40 desta terça-feira, 18, o barril de Brent estava a valer 75,13 USD, uma ligeiríssima descida de 0,12% face ao fecho anterior, a reflectir um acontecimento extraordinário, que foi um ataque com um drone a um oleoduto na Rússia, sem o qual o cenário poderia ser ainda mais negativo na perspectiva dos exportadores.

Mas esse ataque, provavelmente ucraniano, não é mais que, sublinham os analistas, o estertor do conflito na Ucrânia, como, de resto, fica claro no tom optimista saído do encontro na Arábia Saudita entre as delegações dos EUA e da Rússia para a retoma das relações bilaterais e desenhar os contornos de um acordo de paz para o leste europeu.

Perante esta evolução da reaproximação entre Washington e Moscovo, espera-se que o barril de crude inicie uma ainda mais acentuada descida para valores próximos, ou mesmo abaixo, dos 70 USD.

Se tal acontecer, o Governo angolano pode ter mais uma dor de cabeça para lidar, visto que o OGE 2025 foi elaborado com a expectativa média de 70 USD para o barril de Brent...

O que não é propriamente uma surpresa visto que os mercados já estimavam que o encontro em Riade pudesse ser um marco relevante para a normalização dos valores do crude, como, de resto, pretende o Presidente dos EUA com o seu já famoso "drill, baby drill".

Em pano de fundo a este plano inclinado para os mercados petrolíferos está, essencialmente, o provável início do fim da guerra na Ucrânia, como, por exemplo, apontou o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, logo após o fim da primeira reunião de trabalho na capital saudita entre as delegações americana e russa.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a empurrar os preços para muito próximo, ou esmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Preços estes que, apesar de ainda acima desse valor, estão agora mais próximos da linha em que os alarmes começam a disparar nas capitais dos países mais dependentes das exportações da matéria-prima, como é o bem conhecido caso de Luanda.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais periclitantes e mais expostas a qualquer desequilíbrio internacional.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.