É nestas bolandas que o barril de petróleo soma e segue pela 5ª sessão consecutiva, empurrado pelo aliviar de receios de uma recessão na maior economia do mundo e pelo risco de uma guerra sem quartel na região que fornece 35% do crude consumido no planeta.
E é assim que do pânico de há pouco mais de uma semana, onde a matéria-prima desceu a ponto de tocar nos 74 USD, no caso do Brent, a referência, principal para as exportações angolanas, os mercados estão esta segunda-feira, 12, a passar em cima a barreira dos 80 USD.
Perto das 14:00, hora de Luanda, o barril de Brent estava a valer 80,40 USD, uma subida de quase 1% face ao fecho de sexta-feira, em resultado da evolução positiva das percepção dos analistas sobre a economia dos Estados Unidos e do crescente receio sobre a instabilidade no Médio Oriente.
A Reuters diz que a surpreendente reviravolta nos dados sobre a economia norte-americana, menos inflação e provável corte nas taxas de juro directoras, afastando o medo de uma recessão, é o combustível mais forte para esta alteração nos gráficos.
Tal contexto está a permitir manter a tendência de valorização do crude, tanto no Brent como no WTI, em Nova Iorque, com uma já confirmada subida de mais de 3% em cinco dias e a prometer ir ainda mais longe... sem ser preciso muito.
Porque ninguém nega que a ansiedade que emerge da instabilidade no Médio Oriente, curiosamente exponenciada pelo anúncio de Washington de que estava a apressar a chegada de mais meios militares navais à região para apoiar Israel, é um facto presente, tem fundamentos...
Vai o Irão atacar Israel? De que forma o fará? Os EUA vão-se envolver na guerra ao lado de Telavive? Se sim, o Irão fecha o Estreito de Ormuz, no Golfo Pérsico, e o Estreito de Bab al-Mandab, que liga o Mar Arábico ao canal do Suez, através dos seus aliados Houthis?
Nenhuma destas perguntas tem resposta, pelo menos a esta hora, 14:20, de segunda-feira, 12, mas todas elas valem biliões de dólares, e estão todas de tal forma interligadas, que qualquer "aragem" local pode provocar uma tempestade com potencial para destruir a economia global.
Mas há o 5º elemento
Que é a consolidação da ideia de que o mundo vai consumir menos crude nos próximos meses, indo mesmo até 2025, agora realimentada pelos dados recentes divulgados pela OPEP tendo como factor determinante a fragilidade mostrada pela economia chinesa.
Esta revisão do Outlook da OPEP não impede, porém, que a procura se mantenha positiva, nos 2,1 milhões de barris por dia, bem acima do padrão de crescimento de 1,4 mbpd observável antes da pandemia da covid, embora menos 130 mil barris que as previsões anteriores, que eram de mais 2,25 mbpd.
Com esta revisão em baixa do crescimento da procura, o total mundial deve chegar, ainda assim, aos 104,3 mbpd no final de 2024 e subir 1,78 no ano seguinte, menos que os antecipados na última revisão que eram de1,85 mbpd.
Mas, como notam os especialistas, estas antecipações da OPEP, mas também da AIE ou até das grandes casas financeiras, estão sujeitas a tantas variantes que mais parece que sejam produzidas precisamente para serem anuladas pela realidade.
Para as contas de Angola
... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, a instabilidade actual no Médio Oriente e os dados melhorzinhos da economia norte-americana podem ser mesmo um alívio para as suas apertadas contas públicas.
Mas, para já, ter o Brent nos 80 USD, ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, continua a permitir diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.