E também se sabe que quando o USD empalidece, o barril cresce no número de dólares necessários para que as economias importadoras os adquiram - são necessários, por exemplo, menos euros para comprar um dólar - nos mercados internacionais de forma a alimentar as suas máquinas industriais ou, como é o caso actualmente, lidarem com os invernos frios do Hemisfério Norte.

Reunidos estes factores, coisa que também se sabe desde que há indústria petrolífera, os países exportadores, como é o caso de Angola, não só robustecem as suas economias como, quando a bonança se prolonga, conseguem equilibrar fortemente as suas balanças de pagamentos e até financiar projectos estratégicos para a, hoje, com a transição energética no horizonte, urgente diversificação económica.

O resultado, face ao cenário actual, é que o barril de Brent voltou a ganhar valor já esta manhã, 01, mantendo-se claramente acima dos 94 USD, chegando, perto das 09:50, hora de Luanda, aos 94,51 USD, mais 1,78% que no fecho de segunda-feira, 31 de Outubro, quando os mercados mostram alguma fragilidade, através de perdas ligeiras, enquanto em Nova Iorque, o WTI ganhava, à mesma hora, exactamente o mesmo, para os 88, 05 USD por barril.

Com estes números, sempre com o receio flamejante de eventuais prolongamentos de confinamentos na China, que levam a reduções do consumo de crude no gigante asiático, tanto o Brent, em Londres, como o WTI, em Nova Iorque, terminaram o mês de Outubro com ganhos relevantes, sendo mesmo, como sublinha a Reuters, o primeiro mês com ganhos desde Maio, mês em que diminuiu o impacto da guerra na Ucrânia sobre os mercados energéticos internacionais.

Estes ganhos de Outubro, são, naturalmente, resultado das dinâmicas económicas globais mas a estaca principal que os aguenta é a decisão da OPEP+, organização que desde 2017 agrega os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinhados encimados pela Rússia como forma de manter os mercados equilibrados e resilientes às crises globais, de retirar 2 milhões de barris por dia (mbpd) à produção do cartel em Novembro.

Esta medida foi ligeiramente contrariada pelo anúncio da libertação de mais 15 milhões de barris das reservas estratégicas norte-americanas, feito pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, que carece urgentemente de melhores preços do crude para baixar a inflação histórica que lhe está a ameaçar com prováveis perdas das maiorias no Congresso - Senado e Representantes - nas eleições intercalares de 08 de Novembro.

Com a OPEP+ claramente apostada em manter o barril em alta , com a cada vez mais sólida cooperação estratégica entre os gigantes Arábia Saudita e Federação Russa, a garanti-lo, a dúvida agora é ver se o "cartel" vai aproveitar a sua reunião deste mês para acertar novamente agulhas e reduzir ainda mais a produção global ou vai manter os 2 mbpd a menos para Dezembro.

Mas os dados são ainda mais risonhos para os países exportadores considerando que o barril parece estar a conseguir manter-se à tona da água apesar das turbulência global, com os bancos centrais das grandes economias mundiais, EUA, Europa e Japão a anunciarem medidas atrás de medias, especialmente a subida das taxas de juro, para controlar a inflação, o que pode levar ao abrandamento do consumo de crude.

E não menos importante foi o anúncio recente da OPEP no sentido de que o negócio mundial do petróleo precisa de um investimento de dezenas de biliões de dólares - em pesquisa, produção e manutenção - para que seja possível manter uma resposta à esperada crescente procura.

Isto apesar da urgência que o mundo vive para atacar com sucesso mínimo os efeitos das alterações climáticas através da transição energética que só será possível com uma redução gigantesca do consumo de crude, carvão e de gás natural, os grandes emissores dos gases com efeito de estufa que estão a sufocar o planeta.

Mas não é só. O mundo vai ainda ter de lidar com os efeitos da aplicação do embargo da União Europeia ao crude russo, que será aplicado já nas próximas semanas e que vai retirar parte do fornecimento da Rússia, actualmente um dos dois maiores exportadores do mundo, a par dos sauditas, do mercado, podendo o efeito revelar-se no aumento do preço do barril.

Porém, isso não é ainda certo, porque este excedente poderá ser acolhido pelos gigantes asiáticos China e Índia, passando os europeus a substituir o crude russo por barris oriundos de outras fontes, como as africanas, por exemplo, reequilibrando assim este negócio planetário.

Para Angola, uma das economias que mais reage aos solavancos dos mercados petrolíferos, devido à sua crónica petrodependência, este jogo global tem sido benéfico, porque com o barril acima dos 90 USD, a economia nacional não só respira melhor como ganha fôlego para lidar com as dificuldades.

Embora a produção se mantenha há largos anos numa trajectória de declínio, Angola, ainda assim, conseguiu mais de 10 mil milhões USD no 3º trimestre deste ano, segundo informação disponibilizada pelo Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás.

Estes dados do Governo angolano mostram uma descida superior a 3,3% na exportação de energia em relação ao anterior trimestre, embota notando-se um aumento ligeiro face a igual período de 2021.

Angola tem vindo a sofrer forte impacto da crise que começou em 2014, com um subsequente desinvestimento na pesquisa e na manutenção da infra-estrutura produtiva nacional, estando a sua produção muito perto de 1 mbpd, muito longe do máximo histórico atingido em meados de 2008, quando chegou a valer por barril 147 dólares norte-americanos.

Este sobe e desce tanto no valor do barril como na oscilação da produção é fundamental para Angola, porque o sector petrolífero ainda representa 95% das suas exportações, mais de 60% das receitas do Estado e 35% do seu Produto Interno Bruto (PIB).