O anúncio de um cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah, no sul do Líbano, com as duas partes a, aparentemente, aceitarem uma proposta norte-americana nesse sentido, travou a acelerada recuperação que se assistia há dias nos mercados.

Fora deste mapa de redução de tensões fica, para já, a questão de Gaza, o que aconselha a manter o sismógrafo dos mercados ligado porque não vai ser fácil manter o Hezbollah nas casernas enquanto Israel arrasa com o pouco que anda está de pé naquela faixa de território.

Não é novidade que qualquer oscilação na agulha do sismógrafo ligado ao Médio Oriente, de onde sai mais de 35% do crude consumido no mundo, influencia os mercados, e, neste caso, no sentido descendente nos preços.

O que corresponde, para já, nesta terça-feira, 26, a um esforçado mas ligeiro ganho matinal no Brent, a referência maior para as exportações angolanas, de 0,36%, para 73,34 USD, perto das 09:40, hora de Luanda.

Mas este "verde" é ainda pouco carregado para tapar o "vermelho" que na sessão anterior, de segunda-feira, 25, tingiu os mercados internacionais com uma queda de mais de dois dólares, tendo chegado aos 72,7 USD assim que os media especializados foram pintados com as cores da paz na fronteira israelo-libanesa.

E já quando o barril rolava ladeira dos preços abaixo, como sempre, ligando o ventilador, a OPEP+ travou a queda com um anúncio que é sempre eficaz neste sismógrafo de agulha extra sensível: o "cartel" veio repetir que vai manter inamovível a sua política de cortes.

E nem sequer foi preciso dizê-lo oficialmente, bastou às bem conhecidas fontes anónimas da OPEP+ virem dizer, a escassos dias da próxima reunião mensal, prevista para Domingo, 01, que o anunciado plano de reposição da produção iria ser novamente protelado devido às circunstâncias dos mercados globais, que é o mesmo que dizer...

... devido à forte possibilidade de redução das tensões no Médio Oriente, onde, além da espuma das notícias, os bem informados lideres do "cartel", sauditas e russos, já perceberam que, depois do Líbano, a redução das tensões devem chegar a Gaza também.

E isso porque fora dos media mainstream cresce com substantiva insistência a informação de que Israel está com sérias dificuldades internas, tanto na questão financeira como económica, devido ao prolongamento das guerras, que fecharam as portas ao turismo, a agricultura está moribunda e o apoio material norte-americano não chega para cobrir os buracos.

Para trás, pelo menos até ver, parece estar já a questão ucraniana, que, depois de um acrescido risco com o uso autorizado dos misseis norte-americanos para atacar alvos na profundidade do território russo, incluindo a infra-estrutura petrolífera, a resposta de Moscovo parece estar a moderar os ímpetos de Kiev nesse sentido.

No passado, os ataques ucranianos a refinarias russas impulsionaram fortemente os preços do petróleo devido às disrupções de fornecimento de refinados para os clientes russos, cenário que voltou a estar momentaneamente activo.

Mas o uso de um novo míssil, aparentemente mostrando uma nova e surpreendente tecnologia russa, baptizado de Oreshnik (ver links em baixo), parece que levou os ucranianos a voltarem a meter os ATACMS e os Storm Shadow nos paióis... esfumando assim o risco antes percepcionado pelos mercados.

Como Luanda olha para este cenário global

O actual cenário internacional, de alívio das tensões, tende a manter os preços em baixa, mesmo que com algumas oscilações, o que é sempre uma má notícia para as economias petrodependentes, como é o caso da angolana.

Preços estes que se afastam a grande velocidade dos quer foram atingidos no pico deste ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, ou mesmo, mais recentemente, em Outubro, onde esteve nos 80 USD.

E Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, apesar do OGE nacional ainda em vigor ter como referência de valor médio no barril os 65 USD, o documento elaborado para 2025 subiu essa media para os 70 USD, o que deixa as contas nacionais a balancear se a descida se mantiver.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.